Pai acusa policial de racismo logo após ver filha morta por bala perdida
Herculano Barreto Filho
Do UOL, no Rio
08/12/2020 16h22Atualizada em 08/12/2020 18h48
Maycon Douglas Moreira Santos denunciou ter sido vítima de racismo minutos depois de ver o corpo da filha morta em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) no Rio de Janeiro. Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, foi atingida por uma bala perdida em meio a uma ação da Polícia Militar na última sexta-feira (4) em uma comunidade em Duque de Caxias (RJ).
Vi a minha filha morta na maca. Ela estava quente ainda. Aí, um policial me olhou e perguntou se eu tinha passagem [antecedentes criminais]."
Maycon Douglas Moreira Santos, pai de Rebeca
Rebeca brincava no portão com a prima Emily Vitória Silva dos Santos, 4, quando ambas foram baleadas. O desabafo sobre a pergunta foi feito à reportagem hoje à tarde, antes de entrar na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) para prestar depoimento.
Procurada pelo UOL, a Polícia Militar não se posicionou sobre a denúncia de racismo feita pelo pai de Rebeca até a publicação desta reportagem.
Ele tinha acabado de perder a filha. E a primeira pergunta foi se ele tinha passagem pela polícia pelo simples fato de ele ser um homem negro.
Advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, que acompanhou a família na delegacia
Além de Maycon, Lídia da Silva Moreira Santos, avó de Rebeca e tia da Emily, também foi ao local para prestar depoimento acompanhados de membros da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.
O momento do tiro
Lídia havia acabado de descer do ônibus quando viu policiais militares atirando em direção à rua onde mora, na comunidade Barro Vermelho, em Gramacho.
Ao chegar em casa, viu uma menina morta no chão. Só a reconheceu quando ouviu um parente gritar pelo seu nome: "A Emily não!".
Em seguida, pegou Rebeca no colo e levou-a para a UPA com a ajuda do motorista de uma Kombi.
Segundo moradores e parentes das vítimas, PMs atiraram em meio a uma tentativa de abordagem a duas pessoas em uma moto. Em nota, a PM nega os disparos e diz que os agentes foram ao local após ouvirem tiros. A Polícia Civil ainda não se manifestou sobre as investigações.
"A gente só quer justiça. A gente só quer que o culpado pague, seja ele quem for. E, infelizmente, o culpado foi alguém da Polícia Militar", disse Lídia, antes de entrar na delegacia.