Motorista de app é banido após expulsar pais com criança autista no PR
Um motorista do aplicativo 99 foi banido da plataforma após expulsar um casal que transportava o filho autista, de 3 anos, da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) para a sua residência, em Cascavel, a cerca de 500 quilômetros de Curitiba (PR). Por volta das 21 horas da última terça-feira (8), os pais pediram o carro via aplicativo, ingressaram no veículo, rodaram cerca de três quadras até que o motorista pedisse para que eles deixassem o veículo devido ao choro da criança.
"Assim como qualquer pessoa, meu filho não estava em um dia bom. Estava agitado e teve uma crise, chorando muito. O motorista foi completamente grosso, falando com rispidez", conta a mãe do menino, Marcele Cerdeira Vieira, de 36 anos, ao UOL. Ela afirma que tentou explicar ao condutor que o menino sofre com autismo, mas não houve diálogo.
"É uma deficiência invisível. As pessoas julgam pela aparência, com um preconceito escancarado como foi nessa situação. Fiquei arrasada, triste, frustrada. Todo sentimento que uma mãe sentiria se passasse por algo assim com o seu filho", declara.
Além da denúncia no aplicativo, Marcele conta que vai registrar boletim de ocorrência. "Vou dar continuidade. A minha bandeira é o autismo. Sou eu que sinto na pele o preconceito, de ter uma criança com uma condição especial. Vou fazer a minha parte", disse.
O motorista ainda cobrou a corrida integral da passageira. "O valor não é o problema, mas, ainda assim, não fui eu que desisti do serviço", reclama. A Associação de Mães de Autistas de Cascavel (Amac) emitiu nota de repúdio. "O ato praticado é, antes de qualquer coisa, ato de discriminação", diz o texto da ONG em sua página no Facebook.
O outro lado
Conforme a diretora de Comunicação da 99, Pâmela Vaiano, a ocorrência com Marcele é "intolerável". "Temos uma comunicação clara sobre respeito e diversidade, principalmente no trato de quem precisa de assistência especial", diz, em contato com o UOL. A empresa confirma que baniu o motorista e mobilizou uma equipe para atender Marcele, além de se colocar à disposição para colaborar com as investigações da polícia.
Segundo a 99, há investimento contínuo para prevenir essas situações - inclusive uma plataforma de cursos para 100% dos motoristas com foco em diversidade e cidadania.
"No caso do autismo, ele é invisível, por isso a importância de respeitar todas as pessoas, independentemente de sua condição. Também sou mãe, e os pais não controlam todos os comportamentos das crianças. Nós, como adultos, temos que controlar a situação e manter o melhor respeito possível", ressalta Pâmela.
Justamente hoje, a 99 lançou o Guia da Comunidade 99, documento que visa promover respeito aos 20 milhões de passageiros e motoristas do aplicativo. "O guia vai sensibilizar as pessoas para as diferenças. Independentemente do que é visível, precisamos fomentar o respeito em primeiro lugar", diz a diretora.
No conteúdo do Guia, constam capítulos sobre o combate à discriminação. Em todo o Brasil, 59% das ocorrências de segurança são causadas por falta de respeito entre as partes - em Curitiba, este índice é superior: 64%. Neste número, estão os assédios, as agressões verbais, físicas e discriminações, que representam 3% do total.
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