Funerária se recusa a buscar paciente morto por covid; polícia investiga
Uma funerária se recusou ontem à noite a retirar o corpo de um paciente vítima de covid-19 no Centro de Saúde Tijucal, em Cuiabá (MT). A situação causou uma confusão no local, e uma enfermeira registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil. A funerária alegou hoje ao UOL que apenas seguiu a recomendação descrita em um decreto da prefeitura.
Por meio de nota enviada à reportagem, a prefeitura de Cuiabá, através da Secretaria Municipal de Saúde, informou que na tarde de ontem um paciente foi levado pela família ao Centro de Saúde do Tijucal, por volta das 16h. Ainda segundo a secretaria, o médico que fez o atendimento constatou que o paciente já estava em óbito ao chegar na unidade.
"A família foi providenciar os trâmites para o sepultamento. Ao finalizarem os procedimentos necessários para o funeral, já era noite e a funerária informou quanto a impossibilidade em buscar a vítima naquele horário, mas garantindo a remoção no primeiro horário de hoje, o que de fato ocorreu, às 8h15", diz a nota da secretaria.
O gestor da funerária Santa Rita, João Havelino, afirmou que foi seguido o protocolo de um decreto da cidade. "Em Cuiabá existe um decreto, uma portaria emitida pela SMSU (Secretaria Municipal de Serviços Urbanos), onde esclarece algumas obrigações de como deve ser o manuseio em casos de vítimas de covid", disse ao UOL.
A reportagem encontrou realmente um decreto municipal, portaria SMSU Nº 1 de 01/04/2020, que no artigo terceiro diz: "Na hipótese de morte por suspeita ou atestado por covid-19, não será permitida a realização de velório, devendo, após a liberação do corpo pelas autoridades competentes, o transporte ser realizado diretamente ao cemitério ou crematório, recomendando-se a cremação".
"A família chegou na funerária às 19h e os cemitérios de Cuiabá fecham às 17h. Então, esta portaria, além de dizer como o corpo deve ser manuseado, lacrado, diz que deve ser levado diretamente para o cemitério", argumentou João Havelino.
O responsável pela funerária disse ainda que acredita que o caso ganhou repercussão porque aconteceu em uma UBS (Unidade Básica de Saúde), que não tem um local apropriado para preservar o corpo de uma vítima.
"Acontece que todos os hospitais privados ou públicos têm um local adequado e refrigerado para casos como este, então não há este tipo de problema. Agora, acho que a enfermeira e o pessoal da saúde deveriam saber desta determinação da própria prefeitura", opinou João Havelino.
De acordo com a nota da prefeitura, até a retirada do corpo nesta manhã, a coordenação de Atenção Básica abrigou a vítima em uma sala da unidade, com refrigeração.
"Na manhã de hoje, atendendo ao protocolo adotado na Saúde, a unidade passou por total desinfecção e foi reaberta às 13h", diz a nota da prefeitura, que também lamentou pela vítima e disse que se solidariza com a dor da família neste momento difícil.
A reportagem entrou em contato com a enfermeira que registrou o boletim de ocorrência, mas ela preferiu não se pronunciar.
Polícia investiga
O UOL também requisitou detalhes da investigação do caso para a Polícia Civil, que confirmou que o caso será investigado pela 3º Delegacia da cidade.
"O filho do paciente deu entrada nos papéis para o sepultamento e, por estar no período noturno, a funerária negou buscar o corpo por se tratar de covid-19. Diante dos fatos, a servidora afirma que a unidade não tem suporte para ficar com o corpo no local, pois se trata de atenção primária à saúde", informou a polícia.
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