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Advogada teme ser morta caso italiano suspeito de homicídio saia da prisão

Marido de Maricélia Schlemper, advogado da ex-mulher de Pasquale Palmeri, foi morto pelo próprio italiano - Reprodução de vídeo
Marido de Maricélia Schlemper, advogado da ex-mulher de Pasquale Palmeri, foi morto pelo próprio italiano Imagem: Reprodução de vídeo

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

10/03/2021 22h03

A advogada Maricélia Schlemper, que teve o marido assassinado a tiros no estacionamento do fórum desembargador Jairon Maia Fernandes, localizado no Barro Duro, em Maceió, afirmou hoje que teme pela vida dela e da cliente, a ex-mulher do suspeito do crime, caso ele seja solto pela Justiça. A Justiça converteu a prisão em flagrante do italiano Pasquale Palmeri, 75, em prisão preventiva durante audiência de custódia ocorrida na tarde de hoje.

O bacharel em direito José Benedito Alves de Carvalho acompanhava a mulher em uma audiência na 22ª Vara Cível da Capital (Família), a qual Palmeri era uma das partes envolvidas. Carvalho morreu durante socorro, a caminho do HGE (Hospital Geral do Estado), localizado no bairro do Trapiche da Barra, zona sul.

Palmeri foi preso em flagrante na tarde de ontem pela Guarda Judiciária e pelo Batalhão de Polícia de Eventos tentando fugir do local do crime. Ele estava em um carro locado. A polícia encontrou no veículo dinheiro e uma fita amarela que seria usada para modificar a placa do veículo. A arma do crime, uma pistola Taurus, calibre 22, também foi apreendida.

Segundo a advogada, Palmeri vivia investindo contra a ex-mulher desde que o casal se separou, há cerca de sete anos, tendo duas ocorrências registradas na delegacia da mulher. Ela contou que o alvo de Palmieri era a cliente, mas a arma não funcionou. Foi quando ele apontou a arma para a advogada e a bala "pinou".

O marido da advogada se colocou à frente para protegê-la e acabou sendo baleado. Ele morreu a caminho do HGE. O enterro do corpo de José Benedito Alves de Carvalho está marcado para ocorrer às 11h, no cemitério Nossa Senhora da Piedade, no bairro do Prado.

"Ele [Pasquale Palmeri] apontou a arma para minha cliente, mas a arma não funcionou. Depois apontou para a minha cabeça. Meu marido me salvou ficando na minha frente. Ela me procurou há quase sete anos para ajudá-la na ação de divórcio. Nesse tempo, fomos ganhando todas as ações, e ele contratando advogados e recorrendo, não satisfeito. Ele devia pensão, fraudou contrato pré-nupcial, a perseguiu duas vezes, registramos o fato na delegacia da mulher. Se ele for solto ele vai me tirar a vida e a vida dela", disse Schlemper.

A advogada acredita que o crime foi premeditado, pois o italiano foi quem procurou a outra parte para "fazer um acordo". "Ele mandou o advogado dele entrar em contato para um acordo. Quando chegamos, aconteceu tudo isso. Quero que seja feita Justiça porque uma pessoa dessa não pode ficar livre", afirmou.

O procurador-geral de Justiça de Alagoas, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque, designou o promotor Denis Guimarães de Oliveira para acompanhar as investigações do assassinato. Albuquerque afirmou que o crime causou revolta e indignação das instituições "que compõem o sistema da Justiça, em especial da Ordem dos Advogados do Brasil, e da sociedade de uma forma geral."

"As pessoas têm o direito de exercer a sua profissão sem precisar ter medo de fazê-lo. O que ocorreu foi uma grande barbárie e o Ministério Público, que tem a função de salvaguardar a Constituição Federal, vai acompanhar de perto a apuração desse crime, que precisa ser punido exemplarmente", declarou Albuquerque.

O promotor de Justiça Denis Guimarães de Oliveira informou que o MPE (Ministério Público Estadual) estará vigilante, acompanhando as investigações sobre o caso. "Entraremos em contato com a Polícia Civil para saber o que já foi feito até agora, quais testemunhas foram ouvidas e quais serão os próximos passos da investigação", disse o promotor.

A delegada Roberta Cordeiro, da delegacia de homicídios da capital, afirmou que há indícios que apontam que o crime foi premeditado. "O carro era locado, havia uma quantia de dinheiro e o suspeito estava armado. Ninguém vai armado à uma audiência se não pensa em fazer algo."

Hoje, o juiz George Leão de Omena, que conduziu a audiência de custódia do preso, converteu a prisão em flagrante em preventiva e manteve o italiano preso. Na decisão, o magistrado não determinou prazo para término da prisão preventiva. O UOL tentou contato com os advogados de defesa do italiano, na noite de hoje, mas não conseguiu.

O juiz acatou o pedido do MPE para manter o suspeito preso sob o argumento que "é impossível a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares". "Conceder liberdade provisória ao custodiado certamente transparecerá um forte sentimento de impunidade e insegurança às vítimas e à população, comprometendo ainda mais a credibilidade dos órgãos encarregados de oferecer segurança pública e jurídica a seus administrados", argumentou o MPE.

Em parecer, a promotora Silvana de Almeida Abreu afirmou que caso a Justiça conceda liberdade provisória ao suspeito, com determinação de medidas cautelares, não impedirá que ele supostamente pratique novos crimes contra a ex-mulher e a advogada dela, além de coagir e ameaçar testemunhas. "Sendo a prisão preventiva medida imprescindível, como forma de preservação da ordem pública, necessária para a instrução criminal e importante garantia da futura aplicação da lei penal", ressaltou.

O TJAL (Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas) classificou como "incidente" o assassinato de José Benedito Alves de Carvalho e afirmou que o crime ocorreu "fora" do prédio que abriga as Varas Cíveis e Criminais da Comarca de Maceió. "No entanto, ao tomar conhecimento do fato, a Guarda Judiciária, responsável pela segurança da unidade, tomou imediatas providências efetuando a prisão em flagrante do autor dos disparos", disse em nota.

O TJAL afirmou que "pessoas portando armas não têm acesso ao Fórum da Capital", pois o local possui sistema de segurança, contando com policiais militares, detectores de metais, portas giratórias e controle humano de acesso. "O TJAL ressalta que está envidando todos os esforços para contribuir com a elucidação do crime, em cooperação com os órgãos de segurança pública."