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Os erros que fizeram pescadores do RN perderem atum de R$ 140 mil

Como permaneceu 15 dias na embarcação, o atum perdeu valor para ser vendido Imagem: Arquivo Pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para o UOL

28/04/2021 15h32Atualizada em 28/04/2021 21h14

O proprietário da embarcação que fisgou um raro atum azul de 350 quilos na costa do Rio Grande do Norte tem 44 anos de experiência em pesca e nunca havia pegado um exemplar da espécie, que já chegou a ser vendida por quase 2 milhões de dólares em um leilão no Japão.

Mas a felicidade de Raimundo Rebouças, de 57 anos, acabou em poucos minutos. Isso porque o pescador, que seria o único de sua equipe a ter conhecimento sobre o manejo com o animal, não foi ao mar na ocasião.

"Como eu não estava lá, os meninos me ligaram para falar do peixão. Quando me disseram a espécie e o peso, sabia que era muito valorizado e pensei: me dei bem. Mas o balde de água fria veio em seguida", explicou o profissional ao UOL.

"Me disseram que já puxaram o bicho morto para o barco. E o procedimento correto é pegar vivo para fazer a sangria e colocar em câmara fria", explicou ele, detalhando quais erros de manuseio deterioram o estado do animal, que precisava estar perfeito para manter o valor.

A embarcação de Raimundo aportou na cidade de Areia Branca, no Rio Grande do Norte, a 330 km de Natal, na última segunda-feira (26). E, já sem condições de ir ao mercado especializado, o peixe raro acabou sendo divido pela comunidade local.

O pescador conta ainda que seu barco, nomeado como Thavisson, não dispõe de câmara fria, o que tornava necessário um retorno imediato à costa, que acabou não acontecendo.

"Mas eles não sabiam do valor. Meu barco é artesanal. Os meninos não têm conhecimento e nem equipamentos para pegar o atum direito. E eu não estava lá", ponderou.

"Como percebi que o peixe não chegaria com a qualidade para a exportação, não deixei que retornassem. Mandei seguir com a pesca para não perder 100% da viagem", lamentou Raimundo, que permitiu que sua tripulação ficasse mais 15 dias navegando.

Pesca artesanal

O professor Paulo Travassos, docente da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e chefe científico da delegação brasileira na ICCAT (Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico), avaliou que dificilmente os pescadores conseguiriam fisgar o animal corretamente.

"Eles usam uma técnica chamada de cardume associado, na qual eles usam casco do barco para agregar atuns ali e pescam de linha de mão mesmo", explicou o especialista.

"Quando você vê os vídeos, percebe que não houve o mínimo de cuidado com o animal. Teve gente sentando no peixe na comemoração."

O professor explicou que, caso tivessem conseguido tirar o peixe bem do mar, deveriam tê-lo sangrado e acondicionado sozinho, cobrindo o animal totalmente e com todo o gelo do estoque.

"E ter partido imediatamente para a costa. Esse peixe teria que ser enviado de avião rapidamente para os mercados asiáticos. Uma pena. Nos últimos 15 anos, só há relatos de quatro capturas como essa", completou.

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