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Chuva alaga Porto Alegre, Guaíba sobe 5 m e prefeitos da região fazem apelo

Do UOL, em São Paulo

04/05/2024 08h08Atualizada em 04/05/2024 18h24

O Guaíba atingiu a marca de 5,19 metros de altura, às 17h (horário de Brasília) neste sábado em Porto Alegre — a maior já registrada desde a enchente de 1941. O sistema de proteção contra enchentes, que circunda a cidade, foi projetado para suportar até 6 metros de altura.

As autoridades pedem a evacuação de duas áreas de Porto Alegre - parte do centro histórico e do bairro Sarandi, na zona norte. Já os prefeitos de São Leopoldo e Canoas também pedem a saída de moradores de áreas atingidas. Ainda há previsão de chuva para hoje.

O que aconteceu

Em Porto Alegre, há risco de rompimento de dique que represa o rio Gravataí. Na manhã de hoje, o prefeito Sebastião Melo (MDB) pediu que moradores das comunidades do entorno de Sarandi, na zona norte da cidade, deixem suas casas. "Ontem à noite estive no dique atrás da Fiergs, que está extravasando, e conseguimos fazer a vedação, mas hoje começou um vazamento por cima do dique. Por isso, queria convidá-los a sair de suas residências e vir para os abrigos da prefeitura", disse Melo.

Defesa Civil emitiu alerta na sexta-feira (3). O órgão publicou nota alertando sobre o risco de rompimento do dique da Fiergs. "Evacuem áreas de risco e busquem locais seguros".

Em Canoas, a prefeitura também emitiu alertas de evacuação entre ontem e hoje. Há mais de 50 mil pessoas em áreas de risco afetadas pelo temporal, conforme a Folha de S.Paulo. "A água avançou muito rápido e hoje o nosso comando é da evacuação de todo lado oeste da cidade, com a retirada de todos os moradores. (...) Nós temos hoje oito abrigos em funcionamento e temos em torno de 3 mil pessoas acolhidas, e estamos abrindo mais 11 abrigos", disse o prefeito Jairo Jorge (PSD) em live na manhã de sábado.

Três helicópteros auxiliam na retirada de moradores em Canoas, segundo o prefeito. O político disse que, mesmo com os avisos de evacuação de ontem, muitos moradores não deixaram suas casas e agora estão ilhados - muitos em cima dos telhados

Em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, prefeito pede que famílias das regiões nordeste e norte da cidade deixem suas casas, alertando para o nível do rio dos Sinos. "Vão para a casa de parentes ou locais onde a prefeitura determinou, saiam de casa, protejam sua vida, a vida de sua família", disse Ary Vanazzi (PT).

Centro de Porto Alegre registrou alagamentos

Na sexta (3), um portão do sistema contra inundações se rompeu em Porto Alegre e causou alagamentos. Imagens mostram os CTs do Internacional e do Grêmio completamente alagados. A rodoviária e o centro histórico da capital também foram tomados pela água.

A Defesa Civil orientou que moradores, comerciantes e trabalhadores deixem o centro histórico de Porto Alegre. Foi emitido um alerta para "inundação extrema" no Guaíba por 24 horas e a população deve evitar regiões próximas ao rio.

Nível do Guaíba ultrapassa recorde. O rio atingiu 5,16 metros de altura às 15h de hoje, ultrapassando o recorde da maior cheia registrada até então, de 4,76 metros, em 1941, quando inundou grande parte do centro.

Guaíba deve ficar acima dos 5 metros durante 2 a 3 dias, diz hidrólogo. Segundo Pedro Camargo, da Sala de Situação do Estado, o pico deve ocorrer neste intervalo devido ao volume de água que chega do rio Jacuí. Ele estima, no entanto, que o nível do Guaíba deve permanecer com números muito elevados, na casa dos quatro metros, por até 10 dias.

Governador diz que situação é "absurdamente excepcional". "Não é simplesmente apenas mais um caso crítico. É o mais crítico que, provavelmente, o estado terá registro em sua história", disse Eduardo Leite em entrevista coletiva na noite de quinta-feira (2). O Guaíba recebe as águas de diferentes bacias hidrográficas afetadas pelos temporais, como Taquari e Caí.

O Aeroporto Salgado Filho está fechado por tempo indeterminado. Todas as operações de pousos e decolagens foram suspensas em razão das chuvas.

RS tem 350 mil sem luz e 860 mil sem água

Há 296 mil clientes da concessionária RGE Sul sem energia elétrica. A maioria vive em regiões inundadas ou em locais com impedimento de acesso das equipes, informou a distribuidora. As regiões mais afetadas são o Vale do Taquari e o Vale do Rio Pardo.

Porto Alegre, Guaíba, Eldorado do Sul e Alvorada também têm pontos sem luz. As cidades são atendidos pela CEEE Equatorial, que totaliza, no momento, 54 mil clientes sem energia. Desses, 37 mil tiveram a eletricidade cortada como medida de segurança, por solicitação da Defesa Civil, dos bombeiros e da prefeitura, informou a empresa em comunicado, às 19h.

São 860.952 clientes sem água, de um total de 6 milhões de clientes da Corsan no RS. Há ainda dezenas de municípios sem serviços de telefonia e internet das companhias Tim, Vivo e Claro, segundo a Defesa Civil.

O Rio Grande do Sul é atingido por chuvas intensas desde 24 de abril. Estado já tem pelo menos 62 mortos - desses sete estão em investigação para verificar se ocorreram por decorrência do temporal. Também há 74 desaparecidos, centenas de ilhados e milhares de desabrigados no Rio Grande do Sul.

Entenda a situação das chuvas no RS

Um rio atmosférico persistente é o responsável por agravar a situação das chuvas no Rio Grande do Sul. Segundo o Metsul, o corredor de umidade, que ainda deve durar vários dias, está "transportando grande quantidade de umidade da região amazônica pelo interior do continente até o território gaúcho".

O fenômeno climático ajuda a explicar tragédias no Brasil. Assim como a água corre na superfície, também existem fluxos massivos de água nos céus. Na América do Sul, um desses enormes corredores de umidade atmosférica vai justamente da região amazônica até o Centro-Sul do Brasil.

Esse "rio voador" carrega parte da água que evapora no norte para outras partes do território nacional. Então, parte dessa umidade cai como chuva. Combinado com ventos de alta velocidade, o ar úmido produz chuva pesada. Esses eventos extremos de precipitação podem causar danos catastróficos à sociedade.

Dados do Metsul indicam que esse rio atmosférico seguirá atuando entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai durante grande parte desta primeira semana de maio. O instituto de meteorologia informa que "fortes a intensas áreas de instabilidade com volumes de chuva excessivos" devem seguir em atuação nos próximos dias.

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