Militares acusam catador morto de matar Evaldo; 'Revoltante', diz viúva
A defesa dos 12 militares que respondem na Justiça Militar pela morte do músico Evaldo Rosa acusou sem apresentar provas o catador de latinhas Luciano Macedo, morto na mesma ação militar, pelo crime.
Durante quatro horas de manifestação, o advogado Paulo Henrique de Mello apresentou versões contraditórias para o crime. As viúvas de Evaldo Rosa e Macedo reagiram com indignação à acusação, que contraria o relato das vítimas que sobreviveram assim como a perícia feita no local. Na cena do crime, não foi encontrada qualquer arma que pertencesse a Macedo.
Segundo Dayana Fernandes, viúva de Macedo, o marido tentou ajudar Evaldo após o carro da família do músico ser alvejado por ao menos 62 tiros —ao todo, foram 257 disparos de fuzil e pistola que partiram dos militares, segundo a perícia.
Na versão dos militares, Macedo seria olheiro do tráfico local e atirou na tropa para fugir. O suposto ataque, diz o advogado, teria levado à reação dos militares, que efetuaram centenas de disparos contra o carro onde estava a família de Evaldo Rosa.
"É revoltante, eu estou indignada. Estão insinuando que meu marido tinha envolvimento com o tráfico da região, que meu marido foi culpado pelo que aconteceu com o Evaldo. É muito fácil acusar quem já está morto e não pode se defender. Enquanto isso, o Exército mata quem eles querem. O Luciano já tinha saído do tráfico há muito tempo, já tinha saído dessa vida", disse Dayana.
"Eu já esperava que eles acusariam o Luciano, mas a justiça de Deus tarda mas não falha. Eu tenho um filho para criar e preciso seguir a minha vida. Mas a justiça vai ser feita" disse Luciana Nogueira, esposa de Evaldo.
Inicialmente, o advogado Paulo Henrique de Mello afirmou que traficantes de Guadalupe, na zona norte do Rio, onde ocorreu o crime, mataram Evaldo. Mais tarde, afirmou que Macedo era olheiro do tráfico e, no final das alegações, disse que o tiro que matou Evaldo partiu de Macedo.
Para sustentar essas acusações, o defensor dos militares não apresentou provas.
A defesa dos militares apresentou trechos de depoimento à Justiça Militar da viúva do catador. Na ocasião, Dayana relatou que tanto ela quanto o marido tinham antecedentes criminais por tráfico de drogas.
Também na tentativa de justificar a ação dos militares que abriram fogo contra o carro de Evaldo, o advogado exibiu um trecho do depoimento do general Miranda Filho, comandante da brigada, sobre confrontos com o tráfico supostamente ocorridos na manhã do dia das mortes. Segundo o militar, um Ford Ka Branco —mesmo modelo e cor do veículo de Evaldo— realizou assaltos na ocasião.
A defesa ainda afirmou, mais uma vez sem provas, que os militares reagiram a disparos de traficantes que atuam na região.
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