Nutricionista é presa suspeita de participar de esquema de agiotagem
A nutricionista Raiane Gonçalves Campêlo foi presa em Águas Claras (DF) suspeita de participação na quadrilha que praticava agiotagem, extorsão e lavagem de dinheiro na capital federal. Ela foi detida durante a operação S.O.S. Malibu, realizada ontem, que visava os envolvidos no esquema que movimentou milhões nos últimos anos.
Além dela, outras cinco pessoas foram presas, entre elas o sargento da Polícia Militar Ronie Peter Fernandes da Silva, investigado como líder do grupo, e o irmão dele, Thiago Fernandes da Silva. Ambos ostentavam vidas de luxo nas redes sociais, assim como Raiane, que posava com frequência em cenários paradisíacos.
O pai de Ronie e Thiago, Djair Baía da Silva, também foi preso suspeito de participar do esquema. Um sétimo investigado, que reside em São Paulo, segue foragido desde ontem.
Segundo a polícia, a nutricionista realizava saques em bancos, entre R$ 500 mil e R$ 900 mil em dinheiro, e levava as quantias para a casa, onde os valores eram repassados a integrantes da organização criminosa para serem usados com agiotagem a "juros altíssimos".
Além disso, investigações da Polícia Civil do Distrito Federal apontaram que a loja da nutricionista, localizada em Águas Claras, movimentou "valores milionários superiores ao declarado", para lavagem de dinheiro. Segundo a polícia, a empresa da nutricionista movimentou R$ 8,8 milhões entre janeiro e agosto deste ano, mas declarava faturamento mensal de R$ 100 mil.
O UOL telefonou, na tarde de hoje para o consultório e loja da nutricionista, mas ninguém atendeu às ligações. A reportagem também tenta desde ontem contato com a defesa de Ronie e Thiago, assim como as dos demais presos, mas sem sucesso. O espaço segue aberto para posicionamento dos advogados dos investigados. Se houver retorno, a matéria será atualizada.
Vida de luxo e ostentação
A Polícia Civil do Distrito Federal passou a investigar a ligação de Raiane com o esquema criminoso pelos saques bancários efetuados por ela e pelo registro de um Porsche Carrera, considerado um carro de luxo, com documentação no nome da nutricionista.
A nutricionista ostentava uma vida de luxo, com viagens a destinos internacionais e nacionais, como a Europa, Cancún (México), Campos do Jordão, além de mostrar que frequentava restaurantes e hotéis de alto padrão e fazia frequentes passeios de barcos. Após a prisão, os perfis da nutricionista e da loja dela foram apagados.
Os irmãos Ronie e Thiago Fernandes também ostentavam vida de alto padrão nas redes sociais. O padrão de vida de Ronie era incompatível com o salário de sargento da Polícia Militar do Distrito Federal. Nas redes sociais, os dois publicaram fotos posadas ao lado de carros esportivos de luxo, em viagens nacionais e internacionais com destinos paradisíacos, como o arquipélago de Fernando de Noronha (PE), Ilhas Maldivas e Emirados Árabes Unidos.
Atuação
Segundo a Polícia Civil da capital federal, a quadrilha tinha bases nos municípios de Águas Claras, Taguatinga e Vicente Pires, todos no Distrito Federal, onde montaram empresas de fachada para lavagem de dinheiro.
A investigação policial apontou que valores obtidos por meio de agiotagem eram ocultados com aquisição de veículos de luxo, que eram registrados em nome de terceiros e também por meio das empresas de fachada.
A polícia informou que apreendeu três Porsches e uma BMW X4 durante a operação. Os carros apreendidos estão avaliados em R$ 3 milhões. Sete contas bancárias, de pessoas físicas e jurídicas, também foram bloqueadas, e houve bloqueio e sequestro de R$ 8 milhões.
Somente o PM Ronie Peter, que é tratado como líder do grupo, comprou oito veículos da marca Porsche nos últimos dois anos, cada um com valor aproximado de R$ 1 milhão, exibindo uma vida de luxo incompatível com o salário de policial militar.
A operação que prendeu os suspeitos, denominada de S.O.S Malibu, faz referência ao nome de uma das lojas usadas pelos investigados para lavar dinheiro de agiotagem. A empresa, segundo a polícia, está registrada no nome de terceiros e fica localizada em Taguatinga.
A investigação apontou que o grupo também é suspeito de atuar com empréstimos de dinheiro com juros superiores aos permitidos por lei (usura ou agiotagem) e cobrava os valores mediante o emprego de grave ameaça - aproveitando o status de um dos suspeitos como policial.
"Durante as cobranças, além das ameaças, o grupo tomava veículos e exigia a transferência de imóveis dos endividados", informou a PCDF sobre como era a atuação da organização criminosa.
A estrutura do grupo, segundo investigações da PCDF, tinha hierarquização e havia divisão de tarefas. "Na cadeia de comando havia dois integrantes da mesma família, que emprestavam os valores e cobravam os endividados, mediante grave ameaça. O líder do grupo ainda era responsável pela aquisição dos veículos de alto luxo."
Os presos foram indiciados pelos crimes de usura, extorsão e lavagem de capitais. Caso eles sejam condenados, segundo a polícia, as penas superam dez anos de reclusão.
Em nota, a PM-DF informou que está apurando a conduta do sargento Ronie Fernandes e afirmou que "a instituição não compactua com qualquer desvio de conduta de seus integrantes." A PM-DF disse ainda que caso seja comprovados os indícios de irregularidades ou crime, todas as medidas cabíveis ao caso serão tomadas.
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