Divinópolis: Cidade mineira registra 30 tremores de terra em 11 dias
A cidade de Divinópolis (MG) registrou, desde o dia 10 de janeiro, uma série de instabilidades geológicas que já somam trinta tremores. De acordo com a Rede Sismográfica Brasileira (RSB), o primeiro e maior abalo sísmico teve magnitude 3.0 na escala Richter — e os demais, variando entre 1.6 e 2.9 graus. O último tremor foi sentido ontem e atingiu 2.2 graus. Centenas de moradores buscaram as autoridades para relatar os episódios.
De acordo com relatório do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), os epicentros dos tremores de terra estão próximos do bairro Canindés, parte nordeste da cidade, onde o tremor foi percebido por barulhos, movimentos de portas e janelas e quedas de objetos, porém, sem danos significativos. O índice de todos os tremores até então é considerado baixo.
O estudo também aponta que a instablidade ocorre numa região de Minas Gerais, em torno de Belo Horizonte, com um longo histórico de abalos sísmicos. E, portanto, os tremores sentidos em Divinópolis são classificados como 'normais'.
Não há razão para acreditar que não se trate de atividade sísmica natural, sem relação com atividade exploratória de pedreiras, ou com enchimento rápido do reservatório de Gafanhoto. Possível relação com chuvas intensas no último mês é pouco provável e muito difícil de comprovar. O padrão de tremores ocorrendo durante vários dias ("enxame" de sismos) não é incomum.
Trecho extraído de relatório da RSB
O documento indica ainda que sismos de magnitude 3.0 são bastante comuns no Brasil e em Minas Gerais e também recorda que o estado já foi palco de outros tremores mais intensos, como o que ocorreu no município de São Francisco, em 1931, e o de Itacarambi, em 2007. Ambos tiveram magnitudes 4,9 e intensidades máximas de VI e VII MM, com relatos de trincas e rachaduras em paredes.
Além disso, essa série de tremores em Divinópolis provavelmente faz parte de uma zona de sismos mais frequentes que inclui o Quadrilátero Ferrífero.
O que provoca esses tremores?
Segundo os pesquisadores da USP, não apenas em Minas Gerais, mas também em outros pontos do país, os tremores de terra naturais são efeitos de deslizamentos repentinos em falhas ou fraturas geológicas, provocados pelo acúmulo de tensões geológicas ("pressões internas") ao qual a crosta está submetida. Essas tensões estão relacionadas também com as forças tectônicas que movem a placa Sul-Americana.
O relatório afirma que a maioria das falhas geológicas mapeadas em superfície é muito antiga (grande parte originou-se no período paleozoico ou fases anteriores) e já estão "cicatrizadas" não representando mais potencial de sismicidade. Grande parte dos tremores de terra no Brasil ocorre em pequenas fraturas geológicas.
Levando em conta as ocorrências em Divinópolis, os fenômenos registrados pelos sismogramas são potencializados em uma única fratura da crosta superior, com tamanhos de poucas centenas de metros.
No entanto, em alguns cenários muito remotos, os tremores podem ser provocados por outros fatores, como por exemplo, pelo enchimento de um grande reservatório hidrelétrico. Em Minas Gerais, vários reservatórios grandes (como Nova Ponte e Miranda, no Triângulo Mineiro, e Irapé, no Vale do Jequitinhonha) já foram responsáveis por tremores, chegando a magnitude 4.
O relatório da USP afirma, por exemplo, que o reservatório de Cajuru, a 20 km de Divinópolis, também teve muita atividade sísmica na década de 1970, com magnitude máxima de 3.7 em janeiro de 1972. Há também casos raros de tremores induzidos pela mineração.
O estudo também conclui que, com base em análises geológicas e históricas da região, tudo indica que os tremores de terra em Divinópolis são de origem natural e fazem parte de conjunto de abalos sísmicos parecidos com outros casos no Brasil.
Contudo, não há técnica comprovada que permita prever a evolução da sismicidade. São raros os casos em que os tremores aumentaram em frequência e magnitude a ponto de causar danos sérios, mas não se pode descartar totalmente esta possibilidade. No entanto, a chance de danos maiores é remota.
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