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Homem diz ter agredido congolês no Rio: 'Não queria tirar a vida dele'

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio*

01/02/2022 14h19

Um homem cuja identidade não foi revelada afirmou hoje ser um dos agressores do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, 24, no Quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. A Polícia Civil, que não confirma a versão dele, o aguarda para depoimento.

Moïse foi espancado até a morte no quiosque na noite de 24 de janeiro. "A gente não queria tirar a vida de ninguém, nem porque ele era negro ou de outro país", afirmou ele ao SBT Rio.

De acordo com a versão dele, Moïse teria tentado agredir um homem dentro do quiosque e três pessoas intercederam para evitar, o que deu início ao espancamento. As imagens de uma câmera de segurança do quiosque mostram contudo três agressores que batem na vítima mesmo estando ela imobilizada e imóvel no chão.

A família de Moïse diz que ele foi ao quiosque cobrar o valor de duas diárias de trabalho (R$ 200).

"Ninguém devia nada a ele. Foi um fato que, no impulso, a gente [agiu]. [A gente] viu ele com a cadeira na mão e foi tentar ajudar o senhor", justificou o homem que admitiu as agressões.

Ele também relatou ter tentado se entregar à Polícia Civil por duas vezes desde a noite de 24 de janeiro, mas que a polícia "não aceita". "Disseram que não tinham nada contra mim." Após a entrevista, ele é contudo esperado na Delegacia de Homicídios.

A Polícia Civil, que ainda não se manifestou sobre as declarações, não divulgou os nomes dos funcionários do quiosque envolvidos no crime. A investigação está sob sigilo.

Hoje, advogados do responsável pelo quiosque —cuja identidade também não foi revelada— estiveram na Delegacia de Homicídios, mas não falaram à imprensa. Na tarde de hoje, ele prestou depoimento à polícia.

A família de Moïse também é esperada na DH. A Polícia Civil informa que testemunhas foram ouvidas e continua em busca de informações para identificar os agressores.

Amarrado e espancado com pedaços de madeira

A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ afirma que o relato de que os órgãos de Moïse foram retirados no IML (Instituto Médico-Legal) não se confirma. O procurador da comissão, Rodrigo Mondego, diz que o mal-entendido foi provavelmente ocasionado por dificuldades na comunicação com a família.

A família de Moïse relatou que ele foi espancado até a morte com pedaços de madeira, além de ter sido amarrado pelos agressores.

As informações sobre o valor das duas diárias cobradas por Moïse e a forma como ele foi morto foram relatadas pela família à Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), de acordo com a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL).

Em nota, a Polícia Civil informou que as câmeras do local foram analisadas. Um primo de Moïse afirma que assistiu às imagens e elas mostram o rapaz sendo espancado.

Policiais militares que atenderam à ocorrência na noite de 24 de janeiro produziram um relatório inicial sobre o caso. No documento, dois PMs afirmam que colheram depoimento de um funcionário do quiosque.

A versão do homem é de que foram dois os agressores de Moïse, que o teriam perseguido pela praia e utilizado a escada do quiosque para acessar o calçadão. De acordo com esse relato, um homem deu uma chave de perna no pescoço de Moïse para imobilizá-lo, enquanto o outro batia com um pedaço de madeira nas costas da vítima.

As informações do relatório produzido pela PM foram reveladas pelo jornal O Globo e confirmadas pelo UOL.

A versão citada pela família é contudo diferente. À Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, a família relatou que Moïse foi agredido por quatro homens, e não por dois, após ordem de um funcionário do quiosque. Não está claro, de acordo com as informações iniciais, se o funcionário apontado pela família é o mesmo que atendeu os PMs no dia do crime.

Procurado, Leandro Gontijo, delegado titular da delegacia da Barra da Tijuca, disse ao UOL que a polícia não investiga tampouco já apurou antes do assassinato de Moïse suposta influência de milícia nos quiosques da praia da zona oeste. Ele relatou não ter recebido relatos ou denúncias sobre isso.

*Colaborou Marcela Lemos, do Rio