Como funciona o tatuzão usado em obra do metrô que desmoronou na marginal
Assim que surgiram as primeiras notícias sobre o desmoronamento nas obras da linha 6-laranja do metrô de São Paulo —que interditou um trecho da marginal Tietê na manhã de hoje— cogitou-se a possibilidade de o acidente ter sido provocado por uma tuneladora, ou tatuzão: máquina para escavação de túneis circulares criada em 1825 pelo francês Marc Brunel, que construiu um túnel sob o rio Tâmisa, na Inglaterra.
Embora o Corpo de Bombeiros tenha afirmado que o tatuzão rompeu uma adutora ou o leito do rio Tietê, o secretário de Transportes Metropolitanos, Paulo José Galli, atribuiu o acidente ao rompimento de uma galeria de esgoto que passa no sentido transversal ao túnel, mas negou que o equipamento tenha causado o dano na estrutura.
"O solo não suportou o peso da galeria e acabou rompendo. A tuneladora passava a 3 metros dessa galeria", afirmou o secretário.
Investigação pedida pelo governador João Dória (PSDB) deve esclarecer o caso. A espanhola Acciona, responsável pelas obras, confirmou que houve o rompimento de uma adutora, mas não citou o tuneladora, ou TBM (Tunnel Boring Machine, na sigla em inglês), como também é conhecida.
Até lá, entenda como funciona o tatuzão:
Como é o tatuzão?
Movido a eletricidade, o tatuzão escava e retira partes do solo para a futura passagem do metrô. Sua dianteira é composta por uma roda de manganês e cromo responsável por cortar, triturar e sugar pedaços de até 40 centímentros de solo.
Na parte de trás fica uma esteira para a remoção da terra. É também na parte traseira que a máquina acomoda itens, como os quadros elétricos e o sistema de ventilação.
O equipamento é operado do subsolo?
Sim. Aproximadamente 50 pessoas trabalham no tatuzão. Elas são dividas em três turnos de trabalho, segundo o governo do estado. A máquina tem refeitório, sala de enfermagem e uma cabine de comando.
Como o túnel não desmorona durante sua construção?
A grande vantagem do tatuzão é que, enquanto perfura o solo, ele instala um revestimento durante sua passagem: são anéis de concreto e fibras de aço que pesam cerca de oito toneladas, segundo a Acciona, responsável pela construção da linha-6. São esses anéis que sustentam o túnel para a construção posterior das estações.
Por que esse sistema é mais vantajoso?
O sistema é muito utilizado em razão do menor impacto na superfície durante a escavação. Com a instalação dos anéis, a infraestrutura da obra é entregue pronta e impermeável. Outra vantagem é a velocidade do trabalho: a máquina que opera a linha 6 perfura de 12 a 15 metros de túnel por dia, segundo a fabricante.
Qual o tamanho de um tatuzão?
A tuneladora que pode ter rompido a adutora foi importada da China, tem 109 metros de comprimento, dez metros de diâmetro e pesa duas mil toneladas, segundo o governo estadual.
Quanto tempo leva para fabricá-lo?
Antes de iniciar a produção da máquina, o fabricante precisa receber primeiro as especificações técnicas do terreno, já que cada tatuzão é construído de acordo com o projeto. É por esse motivo que a encomenda deve ser feita com dois anos de antecedência das obras.
Depois que o túnel fica pronto, como o tatuzão é retirado?
A tuneladora não sai do túnel. Em razão do alto custo para desmontar e remover a máquina, os técnicos retiram apenas os componentes eletrônicos da cabine de comando, deixando todo o resto no subsolo.
Um tatuzão é suficiente?
São necessários dois tatuzões para a escavação dos túneis da linha 6. Enquanto o primeiro começou os trabalhos no dia 16 de dezembro do ano passado, as escavações no sentido oposto estavam previstas para iniciar ainda no primeiro semestre de 2022 por outro tatuzão.
Quem comanda as obras na linha-6?
Após as investigações da Lava Jato, o consórcio Move São Paulo —formado pelas construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC— não conseguiu financiamento para a obra, e paralisou as atividades em 2016. Foi então que, em outubro de 2020, a Acciona assumiu a obra com a promessa de entregá-la pronta em outubro de 2025.
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