Polícia investiga bilhetes achados na casa de jovem morto em Pinheiros
O assessor de imprensa João Paulo Giacon, de 32 anos, não dorme direito desde a última quinta-feira, logo após o Carnaval, quando foi ao apartamento do amigo Wellington Cardoso, de 25 anos, no segundo andar de um pequeno prédio na esquina da rua Artur de Azevedo com a Mateus Grou, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Estava em busca de seu paradeiro.
Depois de destrancar a porta, encontrou o apartamento com as portas de quartos e da cozinha fechados. Havia poucos dias que o amigo havia se mudado para aquele endereço.
No meio do chão da sala, ele encontrou um pedaço de papel com uma seta apontando para o roteador do sinal de internet no apartamento. Em cima do aparelho, um novo bilhete com a orientação: "Ligar o Wi-Fi". Naquela hora, ele nada entendeu.
Caminhou em direção à porta do quarto e se deparou com o que descreve como cena de terror: um homem estava caído no chão, com "quatro ou cinco" sacos de plástico resistentes na cabeça, amarrados com uma camisa e um carregador de produto eletrônico na cabeça. Com uma faca, ele rasgou todas as camadas de saco.
"Eu não tinha dúvidas de que aquela pessoa estava morta. Abri mais para ter certeza se era mesmo o Wellington", conta.
O rapaz bateu no vizinho para pedir ajuda e chamar a polícia, que passou boa parte da noite no endereço. Presente no local, uma médica do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) identificou um terceiro bilhete na casa, que João não havia notado. Estava ao lado do corpo e do aparelho telefônico da vítima, trazendo a seguinte mensagem: "Não tire o celular da tomada".
Não é possível saber se as orientações deixadas por escrito estão relacionadas à morte de Wellington. Uma hipótese seria a de haver uma disparada de mensagens diante da conexão do aparelho à rede, caso o rito fosse seguido.
"Eu achei que eram bilhetes direcionado à faxineira. Na hora nem pensei em ligar o Wi-Fi", diz João. A dúvida permanece até os dias de hoje.
Perícia em telefone
A polícia levou o aparelho de telefone para que fosse submetido à perícia, sem que o mistério pudesse ter sido desfeito. Oficialmente, o prazo para que a perícia produza um laudo é de 30 dias, mas os próprios agentes que cuidam da investigação consideram a estimativa otimista, diante do volume de trabalho acumulado no setor.
João conta que Wellington carregava uma taça de vidro em umas das mãos. Havia também uma camisinha fora da embalagem, ao lado do corpo, recolhida no local pela perícia.
A polícia ainda registrou a presença de vestígios semelhantes a drogas espalhados no quarto. Não havia sinal de roubo. Cartões de crédito estavam espalhados pela cama. Nenhum item de valor foi levado.
Na cozinha havia garrafas de cerveja e uma lata vazia de energético. Sobre o aparelho de micro-ondas, uma caixa de papelão com algumas esfirras. A TV estava ligada, mas sem sinal conectado.
Suspeita de encontro com terceiro
De acordo com Fábio Pimentel, depois de passar o Carnaval pulando de festa em festa, a amigos Wellington havia relatado que tinha um compromisso importante na Quarta-Feira de Cinzas, mas não informou qual era. Em sua visão, o amigo estava de bem com a vida.
"Não vejo no caso dele um perfil de suicídio, acho que é zero essa possibilidade. O meu medo é a polícia decidir ir por este caminho", disse Pimentel.
A morte do rapaz causou comoção entre frequentadores de boates e casas noturnas de São Paulo por onde ele costumava passar, como Club Jerome, Rex, Cabaret e Presidenta.
Informações falsas relacionadas ao caso também circularam por diversos grupos de WhatsApp e redes sociais desde ontem.
Há mensagens que relatam haver entre cinco e 11 vítimas de um suposto serial killer já identificadas pela polícia e a ocorrência de uma nova morte nesta terça-feira. As informações não são verdadeiras.
De acordo com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), o caso é apurado no âmbito do 14º DP (Distrito Policial). "Equipes da unidade estão realizando diligências. Laudos periciais também foram solicitados e serão analisados tão logo sejam concluídos", informou, em nota.
Na noite de ontem, amigos viajaram a Santa Cruz do Rio Pardo para a acompanhar a missa de sétimo dia de morte de Wellington na Igreja Matriz de São Sebastião.
No santinho distribuído aos presentes, amigos escreveram uma última homenagem: "Enquanto algumas pessoas fazem de tudo para se tornarem marcantes, outras agem naturalmente e se tornam inesquecíveis".
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