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AM: Irmãos encontrados após 26 dias em mata recebem alta após três semanas

Meninos passaram três semanas internados em hospitais do Amazonas - Arthur Castro/Secom
Meninos passaram três semanas internados em hospitais do Amazonas Imagem: Arthur Castro/Secom

Do UOL, em São Paulo

06/04/2022 19h26Atualizada em 06/04/2022 19h26

Os irmãos Gleiçon e Glauco Carvalho Ferreira, de 9 e 7 anos, receberam alta na manhã de hoje do Hospital e Pronto-Socorro da Criança, na Zona Oeste de Manaus, onde estava há quase três semanas, após serem resgatados de uma floresta no município de Manicoré (AM), onde ficaram perdidos por 26 dias.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Amazonas, o caçula, Glauco, deu entrada no hospital com 12 quilos e saiu com 18,7 quilos. O irmão mais velho, que tinha 18 quilos ao ser resgatado, deixou o hospital com 26 quilos.

No período em que ficaram internados, os meninos de 9 e 7 anos precisaram se alimentar de comidas semiprocessadas, quebradas em partes menores, para facilitar a digestão, já que passaram vários dias se alimentando apenas de pequenos frutos da selva e bebendo água da chuva.

Após serem encontrados por um homem que cortava lenha na floresta, os meninos deram entrada, na noite de 15 de março, no Hospital de Manicoré com um quadro grave de desnutrição e lesões na pele. Após pedido do Ministério Público, os dois foram enviados para Manaus para receber um tratamento de melhor qualidade, chegando à unidade de saúde no dia 17.

Meninos foram aplaudidos ao deixar hospital de Manaus - Arthur Castro/Secom - Arthur Castro/Secom
Meninos foram aplaudidos ao deixar hospital de Manaus
Imagem: Arthur Castro/Secom

As lesões nas peles dos meninos ainda estão em fase de cicatrização e a criança mais nova apresentou um quadro de insuficiência renal durante o período de internação, mas se recuperou. Nos braços dos pais, os dois foram aplaudidos quando deixaram a unidade de saúde.

Os meninos passarão os próximos dias na Casa de Apoio à Saúde Indígena da capital amazonense e devem voltar para a cidade de Manicoré na próxima terça-feira (12).

Relembre o caso

Gleison e Glauco saíram para caçar passarinhos no dia 18 de fevereiro e acabaram entrando em uma região de selva da Comunidade Indígena Palmeira, em Manicoré (AM), a 390 km de Manaus. À época, o Corpo de Bombeiros iniciou as buscas pelas crianças, mas encerrou os trabalhos no dia 25 de fevereiro.

No entanto, familiares e moradores da região continuaram a procurar os garotos. Eles foram encontrados no dia 15 de março por um cortador de lenha. A distância do local onde eles se perderam até a região na qual foram encontrados é de cerca de 35 km.

Segundo a enfermeira Marcilene Mereth, da Casa de Apoio à Saúde Indígena, as crianças relataram para os pais que usavam folhas de árvores para tomar a água que caía das chuvas.

"Chovia, conseguiam tomar um pouquinho de água e seguiam dessa forma. No hospital, a gente percebeu que o mais velho olhava para o pequeno e dizia 'calma maninho, calma', dando uma tranquilizada no irmão. Ali a gente já conseguiu ver que o mais velho é que apoiava o outro", contou ela, ao UOL.

O mais velho teria carregado o caçula nas costas por parte do tempo em que estiveram na selva, já que o mais novo tinha dificuldades para andar por causa de feridas nos pés, provocadas pelo contato com o solo.

"O mais velho protegia o mais novo. Então o colocava nas costas e andava um pouco até que o outro conseguisse se recuperar", relatou a profissional de saúde.

Segundo o coordenador do DSEI (Distrito Sanitário Indígena) de Manaus (AM), Januário Carneiro Neto, os irmãos improvisaram para não morrerem de fome na mata e se alimentaram de sorva — um fruto típico da região. O irmão mais velho era o responsável por procurar as árvores que tivessem o fruto, muito consumido por comunidades tradicionais da Amazônia.

"Conversei com o irmão mais velho, e foi isso que os salvou. Não foi uma ideia, foi um instinto de sobrevivência. Se eles sentiam fome, iam lá e comiam. É uma frutinha pequenininha que estava de fácil acesso para eles, era o que tinha", frisou o coordenador, corrigindo uma informação inicial de que eles haviam ficado sem comer durante o sumiço.

A sorva é uma espécie pequena, de formato arredondado, com sabor adocicado e cor esverdeada.