O que se sabe sobre os irmãos resgatados após 26 dias na Floresta Amazônica
Os irmãos Gleison e Glauco, de 7 e 9 anos, foram resgatados na terça-feira (15), após ficarem mais de 26 dias perdidos na Floresta Amazônica, capturando água da chuva com folhas para garantir a sobrevivência. Os dois moram na cidade de Manicoré (AM) e foram dados como desaparecidos no dia 18 de fevereiro, quando saíram para caçar passarinhos na área rural do município de 56 mil habitantes.
Eles foram encontrados em estado preocupante de saúde, mas já ganharam 2 kg cada um e se encontram em tratamento especializado em Manaus. No sábado (19), os irmãos continuavam internados em Manaus, mas apresentavam melhora. O tio dos garotos, Adamor Leite, contou ao UOL que os pais estão mais tranquilos após o resgate, e que "a maior aflição já passou".
Veja o que se sabe até agora sobre o caso.
Desaparecimento
Gleison e Glauco saíram para caçar passarinhos no dia 18 de fevereiro e acabaram entrando em uma região de selva da Comunidade Indígena Palmeira, em Manicoré (AM), a 390 km de Manaus. À época, o Corpo de Bombeiros iniciou as buscas pelas crianças, mas encerrou os trabalhos no dia 25 de fevereiro.
No entanto, familiares e moradores da região continuaram a procurar os garotos. Eles foram encontrados na terça-feira (15) por um cortador de lenha.
A distância do local onde eles se perderam até a região na qual foram encontrados é de, em média, 35 km.
Sobrevivência
Segundo a enfermeira do hospital em que eles foram atendidos na cidade natal, Marcilene Mereth, da Casa de Apoio à Saúde Indígena, as crianças relataram para os pais que usavam folhas de árvores para tomar a água que caía das chuvas.
"Chovia, conseguiam tomar um pouquinho de água e seguiam dessa forma. No hospital, a gente percebeu que o mais velho olhava para o pequeno e dizia 'calma maninho, calma', dando uma tranquilizada no irmão. Ali a gente já conseguiu ver que o mais velho é que apoiava o outro", contou ela, ao UOL.
Além disso, as crianças ainda afirmaram que o mais velho disse que precisou carregar o caçula nas costas por parte do tempo em que estiveram na selva, já que o mais novo tinha dificuldades para andar por causa de feridas nos pés, provocadas pelo contato com o solo.
"O mais velho protegia o mais novo. Então o colocava nas costas e andava um pouco até que o outro conseguisse se recuperar", relatou a profissional de saúde Marcilene.
Alimentação improvisada
Segundo o coordenador do DSEI (Distrito Sanitário Indígena) de Manaus (AM), Januário Carneiro Neto, os irmãos improvisaram para não morrerem de fome na mata e se alimentaram de sorva - um fruto típico da região. O irmão mais velho era o resposável por procurar as árvores que tivessem o fruto, muito consumido por comunidades tradicionais da Amazônia.
"Conversei com o irmão mais velho, e foi isso que os salvou. Não foi uma ideia, foi um instinto de sobrevivência. Se eles sentiam fome, iam lá e comiam. É uma frutinha pequenininha que estava de fácil acesso para eles, era o que tinha", frisou o coordenador, corrigindo uma informação inicial de que eles haviam ficado sem comer durante o sumiço.
A sorva é uma espécie pequena, de formato arredondado, com sabor adocicado e cor esverdeada.
Reencontro
As crianças chegaram a Manicoré (AM) na noite de terça (15) em uma embarcação e foram recebidas por uma multidão. Eles apresentavam um estado severo de desnutrição, o que preocupou as equipes de médicos da cidade.
"As crianças chegaram com um quadro de desnutrição grave e quadro de desidratação grave. Esse quadro acaba agravando a questão renal deles. Eles chegaram com uma insuficiência pré-renal por falta de ingestão adequada de líquidos e também com um quadro de infecção generalizada, com muitas lesões em pele", explicou em vídeo divulgado nas redes sociais a médica responsável pelo atendimento às crianças, Suzy Serfaty.
Apesar do quadro grave, os dois estavam conscientes e falavam que sentiam fome quando foram recebidos no Hospital Regional de Manicoré. Segundo a equipe médica, os dois já ganharam 2 kg cada um.
Eles se encontram em tratamento especializado em Manaus (AM) e devem passar por apoio psicológico.
Segundo a médica, os irmãos ainda não podem ingerir alimentos sólidos por causa do risco de falência de alguns órgãos e estão sendo mantidos com medicações, além de uma dieta específica. "A dieta inicial é para, principalmente, a recuperação dos órgãos e melhora das condições de órgãos internos, rins, sangue, coração", explicou Serfaty.
O tio dos garotos, Adamor Leite, contou que os pais estão mais tranquilos após o resgate, e que "a maior aflição já passou".
Agora é mais tranquilidade, né? É o aparecimento dos filhos. Não tem uma coisa mais preciosa que vá tranquilizar eles [os pais], que estavam em desespero, como encontrar o que a gente estava em busca Adamor Leite, tio
O deslocamento das crianças para Manaus foi realizado após o Ministério Público expedir um ofício recomendando que as crianças fossem transferidas para a capital, caso não fosse possível atendimento especializado.
*Com informações de Dyepeson Martins, em colaboração para o UOL, em Manaus
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