'Era menino de ouro', diz tia de morto por carro metralhado em favela do RJ
Familiares e amigos de Eduardo da Silva Guilherme, 21, estiveram hoje no cemitério de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, para o enterro do ajudante de pedreiro morto após ser atropelado pela professora Jozeli Teresinha Hart, 40, que entrou com o filho por engano na comunidade Vila Aliança, em Bangu, também na zona oeste da cidade e teve o carro metralhado, na segunda-feira (23).
Eduardo Guilherme nasceu e foi criado na favela onde o acidente aconteceu. Segundo parentes, há dois anos se mudou para outra região da favela, após começar um relacionamento com uma mulher. Apesar disso, todos os dias ia de bicicleta para a localidade onde a família morava, para fazer visitas.
"Ele sempre foi muito prestativo para todos os vizinhos, levava os cachorros da gente para passear, sempre tomava café da manhã com o avô. Ele era o menino de ouro da comunidade, vai fazer muita falta. Ele era daqueles que soltava pipa com as crianças, jogava bola", disse a tia Lilian Maria do Nascimento, em entrevista ao UOL.
Esse carinho pelo próximo não era algo recente. De acordo com a prima, Karoline Santos Mendonça, 28, o dia do nascimento dele já mudou a vida dos familiares.
"Para mim, foi um dos melhores dias [da minha vida]. Quando ele chegou na antiga casa do meu pai, ele estava com uma roupinha azul clara, no colo da minha tia. Éramos crianças, ninguém queria tomar banho, mas quando falaram que, para pegar ele, a gente tinha que tomar banho, foi uma briga para entrar no banheiro primeiro. Ele sempre foi muito amoroso. Ele era tímido, não era de falar sobre sentimentos, mas as atitudes demonstravam o que ele sentia", disse ela.
Por conta do porte físico, Eduardo Guilherme era ajudante de pedreiro há alguns anos e sempre ajudava em obras da comunidade. Apesar disso, quando conheceu a atual noiva, queria dar a ela uma vida melhor. Por isso, iria se inscrever em um exame para certificar jovens e adultos que não concluíram os estudos na idade apropriada.
"Ele chegou a arrumar uma bicicleta só para me levar para o ponto de ônibus, para eu ir para o trabalho. Ele queria estudar para me dar uma vida de princesa. Eu nunca tive um homem que me amasse de verdade. Ele foi um homem que nunca tive, era muito maduro, apesar da idade. Tínhamos sonhos", disse Michele Francisco, 40.
Por ter sido criado na Vila Aliança, até mesmo aqueles que não tinham contato direto com Eduardo sabiam como ele era querido desde pequeno. "Ele era muito honesto, vivia com a bicicleta dele, uma pessoa calma, tranquila. Mesmo conhecendo ele de vista, eu me sentia próximo, já que todo mundo o conhecia. Infelizmente, estava na hora errada e no lugar errado", contou Luan Carvalho, 18, que tocou saxofone durante o velório como homenagem ao jovem.
"Meu filho é lindo por dentro e por fora, meu neguinho de ouro. Nós vamos nos ver, nós vamos nos encontrar. Não é 'morreu e acabou', tem coisa mais além. Agora, é o começo de uma vida eterna", disse Surama Santos Da Silva, mãe de Eduardo. O jovem tinha cinco irmãos.
A Polícia Civil investiga, inicialmente, o atropelamento como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
O incidente
Joseli Teresinha Hart e o filho de 15 anos tiveram o carro metralhado ao entrarem por engano na comunidade. A suspeita é de que o veículo foi baleado por traficantes da comunidade Vila Aliança.
Os dois usavam um aplicativo de localização para chegar no hotel, porém após indicação do sistema, entraram em um dos acessos da favela. Joseli é carioca, mas mora no Paraná e eles faziam turismo na cidade, visitando familiares.
No momento em que mãe e filho acessaram a comunidade, já acontecia um intenso tiroteio. Moradores da região chegaram a publicar nas redes sociais alertando para o confronto.
A mãe segue internado, em situação estável, segundo a Secretaria de Saúde do Rio. O filho, que teve escoriações, já foi liberado.
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