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Esposa do atirador em petista: 'Ele gritou Bolsonaro mito e atacaram pedra'

O policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho matou a tiros o guarda municipal Marcelo Arruda, que comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa alusiva ao PT em Foz do Iguaçu (PR) - Arquivo pessoal
O policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho matou a tiros o guarda municipal Marcelo Arruda, que comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa alusiva ao PT em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

14/07/2022 08h55Atualizada em 14/07/2022 10h00

A esposa de Jorge Guaranho, agente penal federal que matou o guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda, disse em entrevista à RPC, afiliada da Globo, que o carro em que estava com o marido teria sido atingido por "terra e pedras" após um grito de "Bolsonaro mito" de Guaranho — que depois voltou para o local e cometeu o assassinato.

Segundo ela, que preferiu não se identificar, o casal e o filho recém-nascido passavam pelo clube com uma música em referência a Bolsonaro, chamada "O mito chegou chegou e o Brasil acordou", o que teria estimulado reação dos participantes da festa de Marcelo Arruda, que comemorava seu aniversário de 50 anos com o tema do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Ele estava com a música, e as pessoas que estavam no local, estava bem quieto, ouviram essa música e acharam ruim. Meu esposo fez a volta e falou 'Bolsonaro mito'. A pessoa que estava lá dentro pegou terra e pedras e tacou no nosso carro", disse.

A mulher afirma ainda que, depois das primeiras discussões, teria pedido a Marcelo para apartar a briga porque estava com o filho no carro. Após ela e Jorge Guaranho saírem do local pela primeira vez, a esposa do policial teria pedido para o marido não voltar ao local.

"Eu implorei para ele, falei para não voltar, não retornar, falei que estava tremendo, muito nervosa com a situação", declarou. Depois, o marido teria dito que Arruda e os convidados "ameaçaram" sua família e que voltaria para tirar satisfação.

Vida, ali é meu lugar, eles ameaçaram minha família. Eles tacaram pedras e terra na minha cara, poderia ter machucado nosso filho. Eu vou pelo menos voltar lá para tirar a satisfação. Eles não podem fazer isso. Eu não fiz nada para ninguém. Disse Guaranho antes de voltar à festa, segundo esposa.

A esposa de Guaranho nega que o crime tenha sido cometido por "motivação política" — uma das linhas de investigação da polícia — porque o marido não sabia o que estava acontecendo dentro da festa. Segundo ela, o suspeito de matar Arruda não tinha acesso às imagens de câmeras de segurança do espaço. Ele teria ido ao local, segundo conta a mulher, porque seria seria rotina alguns associados fazerem rondas à noite para prevenir furtos.

"O que motivou ele a voltar lá foi essa agressão, que ele se sentiu agredido, que ele se sentiu ameaçado, a família ameaçada. Então, por ele ter voltado lá, não tem nada a ver com Lula, não tem nada a ver com o Bolsonaro. A minha família, meu padrasto, minha mãe, eles votaram no Lula, entendeu? Nós conhecemos várias pessoas de outras famílias, nós fazemos churrasco", complementou.

Na entrevista, a mulher também define o marido como um apoiador de Bolsonaro, mas não como um "fanático", apesar de Guaranho usar as redes sociais principalmente para defender o mandatário e militar por pautas da agenda do presidente, como ser contra o aborto e drogas, além de afirmar que armas são sinônimo de defesa. Em junho de 2021, ele aparece numa foto ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). "Vamos fortalecer a direita", escreveu em abril deste ano.

"Ele é pró Bolsonaro sim, ele apoia, ele gosta de estar atento a todas as notícias políticas, Twitter, ele é ativo assim nessas questões, mas ele não é fanático, ele não é uma pessoa assim. Ele era pró Bolsonaro, sim, mas não é porque você é do PT que ele vai fazer alguma coisa com você, entendeu? Ele era pró Bolsonaro e era só isso, ele era direita, direita, e era o pensamento da direita que ele tinha, e o que motivou não tem nada a ver com a política, entendeu?", disse à reportagem.

Marcelo Arruda morreu durante festa de aniversário - Reprodução - Reprodução
Marcelo Arruda morreu durante festa de aniversário
Imagem: Reprodução

Marcelo Arruda foi levado ao hospital, mas morreu em decorrência dos tiros desferidos por Jorge Guaranho. O agente penal federal encontra-se internado em estado grave em um hospital de Foz do Iguaçu (PR).

Vídeos e relatos montam cenário do crime

O UOL teve acesso aos depoimentos de testemunhas e ao boletim de ocorrência, que detalham a ação com base nos relatos e nas imagens das câmeras de segurança. O primeiro vídeo mostra quando o assassino para o veículo em frente à associação onde Arruda comemorava o aniversário. O aniversariante aparece na cena, aparenta conversar com Guaranho e volta ao interior da festa.

Em seguida, o policial penal federal manobra o veículo com som alto de uma música em alusão a Bolsonaro e parece falar algo em direção às pessoas que participavam da festa. Arruda retorna e joga algo na direção do veículo. Segundo relatos, Guaranho reagiu mostrando a arma.

De acordo com o registro policial, a esposa do policial penal federal estava no banco de trás do veículo com a filha de 3 meses no colo nesse primeiro momento. Ela teria pedido para que o marido parasse com as provocações e fosse embora.

O policial penal federal, que não foi convidado para a festa, deixa o local em seguida. Mas retorna cerca de 20 minutos depois para atirar. Agora, a Polícia Civil quer confirmar essa versão em depoimento e ter mais detalhes do caso.

Na terça-feira (12), a defesa contratada pela família de Marcelo pediu uma "apuração profunda" sobre as motivações que levaram o assassino "a agir de forma brutal" e solicitaram que seja verificada a influência de terceiros no crime.

No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro fez uma chamada de vídeo com a família de Marcelo, disse que "nada justifica" o crime e convidou os familiares da vítima para participar de uma entrevista coletiva.

Após a divulgação do diálogo online, Pamela Suellen Silva, viúva do guarda municipal, disse ao colunista do UOL Chico Alves que foi pega de surpresa ao saber da conversa do mandatário com os irmãos de Marcelo. "Absurdo, eu não sabia", completou a viúva à coluna.