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Flordelis é condenada a 50 anos de prisão pela morte do marido

Anderson Justino e Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, em Niterói (RJ)

13/11/2022 07h28Atualizada em 14/11/2022 13h47

A ex-deputada e cantora gospel Flordelis (PSD-RJ) foi condenada hoje a 50 anos e 28 dias de prisão pela morte do pastor Anderson do Carmo. Ela respondia por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosamente armada.

Flordelis foi denunciada como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, que foi executado a tiros em junho de 2019, na residência da família, em Niterói, no Rio de Janeiro.

O Tribunal do Júri também condenou Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, a 31 anos, 4 meses e 21 dias pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.

Os filhos afetivos Marzy Teixeira da Silva, André Luiz de Oliveira e a neta Rayane dos Santos Oliveira foram absolvidos de todos os crimes.

Após seis dias de julgamento e pouco mais de três anos do crime, a juíza Neris dos Santos Carvalho Arce proferiu a sentença para cada um dos réus.

Durante a leitura da sentença familiares da ex-deputada que acompanharam o julgamento desde o seu primeiro dia entraram em desespero.

Namorado da Flordelis, Allan Soares chorando após o anúncio da sentença - Tatiana Campbell/UOL - Tatiana Campbell/UOL
13.nov.22 - Namorado da Flordelis, Allan Soares, chorando após a leitura da sentença
Imagem: Tatiana Campbell/UOL

Defesa de Flordelis quer anular júri. Após a juíza Nearis Arce anunciar a condenação de 50 anos e 28 dias de prisão de Flordelis pela morte de Anderson do Carmo, a defesa da ex-deputada direcionou essa decisão do júri popular a um "massacre midiático" e disse que irá recorrer.

"Já existia uma condenação prévia da Flordelis, são três anos de factoides, um massacre midiático, uma espetacularização do caso e os jurados já chegam aqui com essa carga. Esse processo, esse debate que formou na opinião pública uma pressão que determinou que nós chegássemos aqui já com esse fato dado. Por isso, nós vamos recorrer", garantiu a advogada Janira Rocha.

Em nota, o advogado Rodrigo Faucz, afirmou que não há provas para a condenação de Flordelis. Ele diz que "ocorreram diversas nulidades absolutas no decorrer do julgamento. Recorrerei da sentença, buscando que ocorra, futuramente, um julgamento justo".

Faucz explica que vai entrar com um recurso para anular o júri alegando que houve duas irregularidades no plenário.

A primeira seria a exibição de um documento pelo Ministério Público que não estava no processo e a segunda porque o assistente de acusação, o advogado Ângelo Máximo, fez um questionamento sobre o silêncio dos acusados durante a sustentação —o que é proibido pelo Código de Processo Penal.

Vamos recorrer, obviamente, para que o júri seja anulado com relação a Flordelis. Foram duas nulidades bem claras. São duas questões técnicas, mas que pacificamente são reconhecidas nos tribunais superiores.
Advogado Rodrigo Faucz representou a família de Flordelis

Advogado e promotor rebatem acusações de irregularidades. Por outro lado, o advogado Ângelo Máximo alega que não chegou a finalizar a frase. "Foi uma frase que eu ia começar a falar e fui interrompido por um ato de atenção do promotor que me alertou. Eu não conclui a frase inteira. Não tem que haver nulidade. No calor da emoção, no debate, mas o promotor me alertou a tempo".

Já com relação ao documento do Ministério Público citado pela defesa de Flordelis, o promotor Décio Viegas defendeu a promotoria.

"Quando eu baixei [o documento], inclusive, no site do TJ, estava disponível e foi dado acesso às defesas. As defesas têm o direito de usarem todos os meios legais disponíveis para questionar as decisões. Faz parte do processo, faz parte do jogo. Se vai recorrer ou não a decisão é dos tribunais superiores".

Filhos e neta de Flordelis absolvidos. O advogado Rodrigo Faucz —que defende Flordelis, dois filhos afetivos e a neta —também falou sobre a absolvição dos outros três clientes que defendia e explicou como será a saída dos três da cadeia.

"Vamos aguardar o Alvará de Soltura, eles vão reunir as coisas e sair. Agora eles vão viver a vida deles."

13.nov.22 - Filha afetiva de Flordelis Marzy Teixeira da Silva (cinza) e neta Rayane dos Santos (branco) são absolvidas no julgamento do assassinato do pastor Anderson do Carmo - Tatiana Campbell/UOL - Tatiana Campbell/UOL
13.nov.22 - Filha afetiva de Flordelis Marzy Teixeira da Silva (cinza) e neta Rayane dos Santos (branco) são absolvidas no julgamento do assassinato do pastor Anderson do Carmo
Imagem: Tatiana Campbell/UOL

Flordelis não acompanhou a leitura da sentença no banco dos réus.

Advogado da família de Anderson diz estar satisfeito. Emocionado, o advogado da família de Anderson do Carmo, Ângelo Máximo, dedicou a condenação de Flordelis ao pastor e aos pais de Anderson do Carmo que morreram após o crime.

"Depois de três anos na busca pela justiça a família do Anderson está satisfeita com a condenação da chefe dessa organização criminosa, pois sem a atuação dela o Anderson do Carmo não teria sido assassinado. Estamos satisfeitos com a condenação da Simone que tentou puxar toda essa falsa acusação de estupro em desfavor do Anderson".

'Manipuladora, vingativa e assassina', diz promotor.

Após analisarem 42 mil páginas de processo, os promotores do Ministério Público também se mostraram satisfeitos com a condenação de Flordelis e Simone. O MP informou apenas que irá recorrer das absolvição dos outros três réus.

"O povo de Niterói demonstrou que não está aqui para ser enganado e foi severo e firme com aqueles que tentam manipular a sociedade. Flordelis é manipuladora, vingativa e assassina", declarou o promotor Décio Viegas.

Cassação e prisão. Flordelis está presa desde 13 de agosto de 2021. Dois dias antes, Flordelis havia perdido o foro privilegiado ao ter o mandato de deputada federal cassado por 437 favoráveis, 7 contrários e 12 abstenções.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, foi condenada a 31 anos, 4 meses e 21 dias, e não a 31 anos e 400 meses, como informado na primeira versão desta reportagem. O texto foi corrigido.