'A casa virava pornografia': as revelações do julgamento de Flordelis
O julgamento de Flordelis está sendo marcado por muitas revelações sobre a dinâmica da numerosa família. A ex-deputada e pastora é acusada de ser a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo.
Presa desde 2021, ela é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica.
Separamos abaixo algumas frases que dão o tom do que vem sendo dito no julgamento:
'Estou sendo coagida a não falar a verdade'
A terceira testemunha de acusação ouvida no julgamento disse estar sofrendo intimidações por parte da família após testemunhar.
Dona de uma oficina, Regiane Ramos Cupti Rabello contratou Lucas Cezar dos Santos de Souza, um dos filhos afetivos de Flordelis, acusado de participação na morte do pastor, e passou a cuidar do adolescente, então com 14 anos.
"Estou me sentindo coagida para não falar a verdade. Tive uma bomba jogada na minha casa, que sempre teve paz. Os carros da minha oficina todos rabiscados pela senhora Lorraine [dos Santos, neta de Flordelis]. Quem é a família de bandidos é eles", desabafou.
'Pela minha mãe, vou presa'
Questionada sobre a prática de colocar substâncias nos alimentos consumidos por Anderson do Carmo, Marzy Teixeira da Silva, filha afetiva de Flordelis, teria demonstrado não se importar com consequências de seus atos para realizar os desígnios da mãe, afirmou uma testemunha no terceiro dia de julgamento.
Daiane Freires, também filha afetiva de Flordelis, contou em depoimento que viu a irmã de criação colocando um pó em um suco que seria consumido por Anderson. "Eu falei para ela: 'O dia que o Niel [nome dado por Flordelis a Anderson] pegar isso vai ter morte nessa casa'. E ela respondeu: 'Pela minha mãe Flor, eu vou presa'".
'Se não fosse o pastor, a casa virava uma pornografia'
Em depoimento, Luana Rangel Pimenta, nora de Flordelis, afirmou que a ex-deputada federal dizia que Anderson iria morrer, porque estava "atrapalhando a obra de Deus". Ao deixar o tribunal, ela disse à imprensa ter convicção de que Flordelis foi a mandante do assassinato.
Questionada pela defesa de Flordelis se tinha alguma suspeita de que Anderson tivesse abusado dos filhos, Luana afirmou que nunca viu nada que o desabonasse. Segundo ela, Anderson era carinhoso, mas rígido quanto às condutas na família. "Se não fosse o pastor, a casa virava uma pornografia."
'Pastor não deixava que a gente andasse de biquíni'
Roberta dos Santos, uma das filhas adotivas de Flordelis, negou que o pastor tenha abusado sexualmente de algum de seus irmãos. A tese vem sendo levantada pela defesa da ex-deputada federal.
A filha contou que foi adotada aos três meses de idade e permaneceu na casa de Flordelis até 2015, quando se casou. Em três momentos do depoimento, ela chorou ao lembrar do pastor e disse estar indignada com as acusações de abuso sexual.
"Quando me perguntam sobre abuso sexual [de Anderson], me dá embrulho no estômago. É um deboche. O pastor respeitava a todos, não permitia, por exemplo, que a gente andasse de biquíni, de short curto porque dizia que tinha muito homem naquela casa", comentou.
'Se a mulher está ciente que o marido está procurando outra mulher, não é pecado'
Daiane Freires, filha afetiva de Flordelis, revelou em depoimento que, em vários episódios, ficou sabendo de relações sexuais mantidas por Anderson e outras mulheres da casa. Segundo ela, Flordelis sabia das relações paralelas do marido, assassinado a tiros em junho de 2019.
A testemunha —convocada pela acusação— disse ter presenciado uma das cenas íntimas envolvendo o pastor. Ela não mencionou qual irmã foi procurada por Anderson do Carmo.
"Uma noite ele entrou no nosso quarto e alisou a minha irmã. No dia seguinte, quando amanheceu, perguntamos porque ela não contava para a mãe [Flordelis]. Ela falou que conversou com a mãe, mas que ela pegou a Bíblia e mostrou que, se a mulher está ciente que o marido está procurando outra mulher, não é pecado", relatou ela em resposta a uma pergunta feita por Janira Rocha, uma das advogadas de Flordelis.
'Tina Turner, Luiza Brunet e Xuxa'
Janira Rocha comparou sua cliente a artistas como Tina Turner, Luiza Brunet e Xuxa. "Mulheres famosas, poderosas e ricas que sofreram abusos sexuais e só muito tempo depois vieram a público dizer isso. A Flordelis não é uma exceção, as mulheres abusadas têm dificuldades, que são comprovadas, de poder expressar esse abuso", disse a advogada, em entrevista à imprensa antes do início do segundo dia de julgamento.
A defesa da pastora evangélica e ex-deputada federal trabalha com a linha de que ela e algumas de suas filhas e netas foram abusadas sexualmente pelo pastor Anderson do Carmo.
'Não havia o amor de pai e mãe'
A delegada Bárbara Lomba, que conduziu a primeira investigação do caso, relatou que nos depoimentos foi dito que Flordelis e Anderson tinham relações íntimas com os filhos adotados.
"Havia o casamento entre Anderson e Flordelis. Para a igreja deles e sociedade era um casamento tradicional. Mas os depoimentos desmontam algo que era passado de outra forma. Não havia o amor de pai e mãe, eles conviviam e as pessoas tinham relações com elas de cunho sexual", afirmou.
'Botox não vem ao caso'
Tudo começou quando a advogada Janira Rocha, que defende Flordelis, pediu autorização para exibir mensagens de WhatsApp antes de elaborar perguntas ao inspetor da Polícia Civil Tiago Vaz de Souza —testemunha convocada pela acusação.
Na troca de mensagens, Flordelis falava com uma interlocutora —também condenada no caso— sobre preenchimento labial e tratamentos estéticos. A juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, interrompeu a exposição e questionou a pertinência das mensagens e se seriam feitas perguntas a partir delas: "mensagens sobre botox e preenchimento não vêm ao caso".
A advogada argumentou que, "para a defesa, é importante tudo", mas desistiu de continuar com a pergunta: "A senhora indeferiu, está indeferido".
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