'Quase morri', diz enfermeira atropelada ao salvar mulher de agressão em GO
Leidiane Rodrigues Nazário, 35, atropelada de propósito em uma rua de Goiânia (GO) após tentar defender outra mulher, que estava sendo agredida pelo marido, teve que ser transferida para a UTI do Instituto Ortopédico de Goiânia (IOG). Além de ter o corpo coberto por escoriações, ela perdeu 3 dentes e apresenta múltiplas fraturas em diversas áreas do corpo, como mandíbula, braço, bacia e cóccix.
Apesar dos ferimentos e da carga de remédios que tem tomado para tolerar a dor, está consciente. Hoje ela recebeu a visita do irmão, Naason Rodrigues Rosário, e disse a ele, mesmo com dificuldades para falar, que se recorda de tudo o que aconteceu na noite de quinta-feira (24), com detalhes. Ela também conseguiu enviar um áudio para o UOL contando alguns detalhes.
Leidiane pilotava sua motocicleta modelo Kawasaki 1000 pelas ruas do bairro Jardim Abapuru, vizinho ao bairro onde mora, quando viu um carro parado na avenida Firenze. Dentro dele, um homem, sentado no banco do motorista, agredia uma mulher que ocupava o banco de passageiros.
"Ele parou o carro no meio da rua e começou a agredir a mulher, com socos e pontapés. E aí uma criança com uns 7 anos saiu do carro. Eu me comovi e parei a uns 100 metros de distância dele, para ele ver que tinha alguém observando", contou Lidiane.
"Ela disse que, na hora, seu instinto de proteção e indignação falaram mais alto. Então ela se aproximou e fez bastante barulho com o motor da moto, para assustar o homem. Ele desceu do carro e ela avisou que ele parasse com as agressões", afirmou Naason ao UOL.
Nesse momento, segundo ela narrou, a filha do casal abriu a porta de trás do carro e desceu também. "Foi aí que ele continuou a bater na mulher e passou a espancar a filha também. Minha irmã não aguentou e se aproximou mais com a moto, gritando para ele parasse, que ela ia chamar a polícia".
O homem, porém, não se intimidou. Segundo Leidiane contou ao irmão, ele entrou no carro, deu a partida e avançou na direção dela, derrubando a moto. "Ela ficou presa à moto e ele subiu com o carro em cima dela e começou a arrastá-la pela avenida, por uma distância de uns 100 metros. Depois ele largou o carro e fugiu de Uber".
"Ele ficou enfurecido, entrou no carro e passou por cima de mim. Mas eu não conhecia ele, nem a mulher, ninguém. A placa dele ficou no local, depois ele deixou o carro um pouco adiante, porque não conseguiu mais seguir em frente. Daí chamaram os Bombeiros, meus amigos me reconheceram e começaram a procurar por ele", disse Leidiane.
"Eu quase morri. Minha sorte é que eu estava com uma moto muito grande e ele não conseguiu passar por cima. Estou com uma fratura exposta no braço direito, uma lesão na mandíbula, fraturei bacia, cóccix e pelve, além de várias escoriações. Fiz uma cirurgia para sanar a fratura exposta, mas vou ter que passar por mais três cirurgias", declarou.
Tentativa de homicídio
O caso foi registrado a princípio como atropelamento, um caso de acidente no trânsito. Mas a família de Leidiane não admitiu. Um advogado da família esteve na segunda-feira (28) na 2ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher da capital, onde o caso está sendo investigado, e pediu que mudassem a natureza do inquérito para tentativa de homicídio, com agravante de feminicídio.
"O agressor desapareceu. O pai dele apareceu na sexta-feira lá na avenida Firenze para buscar o carro. Acabou sendo levado para a delegacia, onde se comprometeu a apresentar o filho. Porém, até agora ele não se apresentou", disse Naason.
Até momento, a Polícia Civil de Goiás não havia anunciado a detenção do suspeito do crime.
Saúde Pública
Leidiane é enfermeira e sempre atuou na área da saúde pública. Ela trabalhou no atendimento do SUS em Goiânia e atualmente integra a equipe de socorristas do Corpo de Bombeiros. Ela conheceu o marido - hoje um policial rodoviário federal - enquanto prestava socorro a uma vítima. Ele era o policial militar que atendeu à ocorrência.
"Eles se apaixonaram e se casaram. Estão juntos há 14 anos", conta o irmão dela. "Eles têm dois filhos, um menino com 6 e uma menina, com 5. Estamos muito preocupados, porque o médico já disse que ela vai precisar enfrentar uma série de cirurgias e, depois, uma longa temporada de fisioterapia. Serão necessários seis meses para ela conseguir recuperar os movimentos, principalmente das pernas".
Apesar da preocupação com a saúde de Leidiane, a família quer que seja feita justiça. "Meus pais estão sabendo parcialmente do que aconteceu. Meu pai, funcionário público, se aposentou após descobrir que era portador da doença de Chagas. Ele corre risco, se souber de toda a verdade. Então estamos poupando ele. Já minha mãe fica rezando o tempo todo, para a minha irmã se recuperar. Nós queremos que esse homem pague pelo que fez".
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