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'Senti mexerem no meu cabelo', diz jovem que teve rosto cortado em ônibus

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

05/12/2022 13h37Atualizada em 05/12/2022 13h50

A estudante de enfermagem Stefani Firmo, 23, viveu momentos de horror durante uma viagem de ônibus entre Recife (PE) e Salvador (BA), quando teve o rosto cortado enquanto dormia, no interior do veículo. Uma mulher que estava sentada atrás da jovem é considerada a principal suspeita pela polícia, pois os agentes encontraram uma faca com ela.

Stefani e a amiga, a também estudante de enfermagem Sara Tavares, haviam viajado juntas para Recife para realizar um exame para residência em sua área, na Universidade de Pernambuco. A prova aconteceu no domingo (27) e o retorno para a Bahia, onde moram, estava marcado para o dia seguinte.

Em entrevista ao UOL, a jovem conta que ela e a amiga estavam muito felizes, pois elas sentiam que tinham ido bem na prova. Então, aproveitaram a segunda-feira para passear e elas embarcaram no ônibus da companhia Expresso Guanabara, com destino a Salvador perto das 18h.

"Nossas poltronas eram juntas, mas como o ônibus estava um tanto vazio, eu fui me sentar duas à frente, para podermos ter mais conforto e nos esticar. Eu me sentei na frente de uma passageira que estava sozinha, e a minha amiga ficou sentada atrás dela", contou.

Por volta das 4h30 de terça-feira (29), Stefani acordou e foi até a poltrona da amiga para pegar um remédio. "Ela se assustou, porque tinha tomado Dramin para não enjoar na viagem, então estava bem sonolenta. Eu peguei o remédio, um pacote de biscoito e voltei para minha poltrona", relata a estudante. "Eu vi que a passageira sentada atrás de mim estava acordada, olhando para mim, mas não liguei".

Minutos após se sentar, a jovem afirma que sentiu mexerem em seu cabelo.

Na hora, eu pensei: 'Vai que essa mulher é doida e ela corta meu cabelo enquanto eu estou dormindo'. Então puxei o cabelo para a minha direita, me estiquei nas poltronas, com a cabeça na janela e as pernas para o corredor, e puxei o edredom até o pescoço. Quando dia já estava amanhecendo, adormeci.

Por volta das 5h, Stefani foi acordada com uma pancada no rosto. Ela sentiu uma dor forte e, logo em seguida, uma ardência "quase insuportável", como se o rosto tivesse sido queimado. A princípio, achou que alguma bagagem tivesse caído sobre ela.

Quando coloquei a mão no rosto, percebi que estava escorrendo muito sangue. Corri para pedir ajuda à minha amiga, ela se assustou quando viu que eu estava com um corte enorme no rosto. Comecei e me desesperar. Ela pegou uma camiseta minha e colocou no corte para estancar o sangue.

'Filme de terror'

A amiga de Stefani, Sara Tavares, 26, disse ao UOL que teve que reunir forças para não entrar em desespero ao vê-la naquela situação. E conta que chegou a perguntar para a passageira sentada atrás da amiga se havia visto alguma coisa, afinal ela era a única pessoa acordada. A mulher teria desconversado, dizendo que não viu nada e que estava conversando com a filha dela no celular.

"Achamos a atitude dela muito estranha, ela foi fria o tempo todo, não se ofereceu para ajudar em nada. A Stefani estava se esvaindo em sangue e ela, nada. Começamos a gritar para acordar os outros passageiros. Como nós estávamos no andar de cima, corri para o interfone para falar com o motorista. Mas não estava funcionando. Stefani chorava, dizia que tinha medo que eu deixasse ela sozinha, então pedi para um passageiro ficar com ela e corri para o andar de baixo, mas o interfone também não funcionava. A sensação era a de estar dentro de um filme de terror", relatou Sara.

Quando os passageiros conseguiram avisar o motorista, ele conduziu o veículo até a delegacia. "Era muito cedo. Então liguei para a PM e vieram buscar a Stefanie e levaram para um hospital, onde ela foi atendida de emergência".

18 pontos

A estudante levou 18 pontos, mas, por sorte, o corte não atingiu camadas mais profundas da musculatura facial. De volta à delegacia, Stefani e Sara deram seus depoimentos e souberam que a polícia encontrou com a suspeita uma faca de churrasco pequena e nova, com a lâmina de corte afiada.

corte - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Como não havia evidências suficientes, o delegado de plantão lavrou um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) para apurar a lesão corporal praticada contra a jovem e liberou a suspeita. Segundo informou a Polícia Civil da Bahia, imagens de câmeras de segurança do ônibus já foram solicitadas e as guias periciais foram expedidas.

"A faca encontrada com a suspeita também será periciada para confirmar se foi utilizada na ação. Caso seja comprovada a autoria, a mulher poderá ser indiciada por lesão corporal", informou o órgão, em nota.

Espero que meu caso sirva de alerta para que isso não ocorra com outras pessoas. Nos aeroportos, segurança máxima, nas rodoviárias, segurança zero? Por que isso? Por que os passageiros e as bagagens não passam por detectores de metais? Acho que as pessoas têm o direito e o dever de exigir segurança em viagens rodoviárias também. Stefani Firmo

Contatada, a Expresso Guanabara não explicou por que os interfones do veículo não estavam funcionando, como relataram as jovens. Em nota, a empresa informou que "as imagens [das câmeras de segurança] foram enviadas à polícia no último sábado (3), conforme pedido da autoridade policial para dar continuidade à apuração dos fatos. A empresa está colaborando com tudo o que lhe compete neste caso".