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'Usei a inércia': lojista salva carro de enchente com 20 barris de chope

Comerciante encheu carros com barris; grupo também subiu no capô para proteger veículo - Reprodução; Arquivo pessoal
Comerciante encheu carros com barris; grupo também subiu no capô para proteger veículo Imagem: Reprodução; Arquivo pessoal

Marcela Schiavon

Colaboração para o UOL

15/12/2022 04h00

As tempestades de fim de ano obrigam moradores de capitais a tomarem suas próprias medidas contra prejuízos. Funcionários de uma loja em Belo Horizonte tiveram de se virar, de um jeito inusitado, na semana passada: eles encheram carros com barris de chope para evitar que fossem levados pela enxurrada.

Belo Horizonte ficou debaixo d'água após um temporal na última quarta-feira. Imagens de moradores mostraram uma das avenidas, na região central, completamente alagada durante a tempestade.

"Estávamos descarregando os carros na porta da loja quando começou a chover. Nunca passei nada parecido. Senti aflição e muito medo de a chuva invadir nossa loja, destruir tudo e fazer vítimas", contou Leandro Amorim, 40, administrador de empresas.

Os oito colaboradores agiram no impulso para encher os veículos, enquanto viam a cena de destruição com outros carros que passavam pela Avenida Bernardo Vasconcelos, na região nordeste de Belo Horizonte.

Pensamos rápido pois a inundação subiu mais de 1 metro em 3 minutos. Vimos todos os outros carros serem levados pela correnteza e usamos a inércia: quanto mais pesado menor a chance de levar os veículos.
Leandro Amorim

Como a empresa faz distribuição de carnes, bebidas e barris de chopes para festas e confraternizações, tinha à disposição os itens usados para segurar os carros.

Cada barril pesa aproximadamente 70 kg. Foram usados em torno de 20 barris para encher dois carros. Deu certo. Outro veículo também não foi arrastado porque três pessoas resolveram subir no capô.

Embora tenham conseguido segurar os carros, um dos veículos que não foi levado teve danos na parte elétrica.

E nem todos tiveram a mesma sorte: os cinco carros de pessoas que aguardavam na porta da loja foram levados pela correnteza e tiveram perda total.

"Sempre nessa época do ano, há chuvas castigadoras. Falta ao poder público olhar para a cidade e resolver esses problemas de alagamentos, que são antigos", reclama. No verão passado, as tempestades fizeram vítimas e causaram prejuízos na cidade.

Durante a época de chuvas, alguns cuidados com o carro são úteis para evitar mais prejuízos e risco à saúde. Veja dicas para lidar com inundações:

A rua à minha frente está alagada. Posso passar com o carro ou não?

  • Não passar se a água estiver acima da metade das rodas;
  • Usar pontos de referência, como outros veículos, para avaliar o nível do aguaceiro durante o trajeto;
  • Se for encarar a travessia, manter o carro em primeira ou segunda marcha, sem mudar de marcha e com aceleração constante, em baixa velocidade, entre 2.500 e 3.000 rpm, para o motor não "morrer";
  • Evitar atravessar ao lado de outros veículos, sobretudo de maior porte, para que o deslocamento da água não movimente seu carro;
  • Se o motor desligar, não acioná-lo enquanto a água estiver sobre as rodas.

E se eu não conseguir escapar da enchente?

  • Se não conseguir escapar do alagamento com o seu carro, pare e desligue o motor;
  • Ao religar o carro, verifique se não houve entrada de água no sistema de admissão -- um mecânico ajudará no diagnóstico;
  • Procure sua seguradora: se o mecânico identificar calço hidráulico, apólices com proteção contra enchentes e fenômenos naturais cobrem este tipo de sinistro;
  • Carro danificado por enchente também permite que se peça indenização ao administrador da via; registre boletim de ocorrência e procure um advogado.

Eu não estava no carro, mas o veículo ficou danificado pelo alagamento:

  • Principal risco é o calço hidráulico, que acontece quando a água entra nos cilindros e entorta as bielas.
  • Verificar se a parte elétrica está em ordem, incluindo relês, módulos e outros componentes.
  • Muitas partes podem ser recuperadas ou trocadas, mas há chances de defeitos aparecerem depois
  • Procure uma empresa especializada em serviços de lavagem e higienização.
  • Partes que necessitam de lubrificação, como suspensão e peças móveis, precisam ser verificadas por mecânico.
  • Carroceria é a parte mais fácil de ser recuperada. As peças plásticas recebem um tratamento com um produto que recupera a cor original e impede que o material fique esbranquiçado ou manchado.
  • Pintura é recuperada em um processo de duas etapas: lavagem desengraxante com xampu especial e descontaminação da pintura.
  • Última etapa é utilizar um gerador de ozônio para matar as bactérias.

E se der perda total?

  • Análise de perda total ou se vale o reparo depende da seguradora que leva em consideração a Tabela Fibe para estipular o valor do carro.
  • Dano total só é caracterizado se os prejuízos causados ao veículo resultantes de um mesmo sinistro atingem ou ultrapassam 75% do limite máximo de garantia.
  • Indenização demora de cinco a sete dias, em média.
  • Em caso confirmado de perda total, o destino mais provável para o veículo são o ferro-velho ou um leilão.

Como acionar a seguradora?

  • Verificar as condições gerais do contrato e, se for o caso, buscar orientação com o corretor de seguros.
  • Quem tem a cobertura de responsabilidade civil facultativa (RCF), por exemplo, não tem direito à indenização.
  • Se tem, o passo é entrar em contato com a seguradora para informar o prejuízo ou até mesmo para solicitar o guincho para a retirada do veículo do local.