Topo

Vandalismo no DF: 'Meu filho teve de deitar no chão para se proteger'

Marcelo Marques e o filho João Paulo; adolescente ficou preso em shopping  - Arquivo pessoal; Paulo Roberto Netto/UOL
Marcelo Marques e o filho João Paulo; adolescente ficou preso em shopping Imagem: Arquivo pessoal; Paulo Roberto Netto/UOL

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL

14/12/2022 11h17Atualizada em 14/12/2022 13h38

O jornalista paraense Marcelo Marques e a esposa Katrina relataram momentos de apreensão ao saber que o filho João Paulo, de 15 anos, ficou preso dentro do Brasília shopping, na noite de segunda-feira (12) enquanto ocorriam atos de vandalismo na capital federal.

"Meu filho teve de deitar no chão para se proteger." Além dele, dezenas de jovens que participavam de um evento na cidade viveram momentos de terror com os barulhos de explosão fora do prédio durante os protestos.

Os ataques começaram depois que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou a prisão temporária do indígena bolsonarista José Acácio Serere Xavante, suspeito se ameaçar e perseguir o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Marques contou ao UOL que João Paulo estava com um grupo de mais de trezentos estudantes em um jantar, quando os protestos começaram. O shopping onde estavam fica em frente à sede da Polícia Federal, onde parte dos atos de vandalismo ocorreu.

Os jovens participam de um evento em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas) nesta semana na cidade. E a família paraense chegou à capital federal no sábado para acompanhar o filho no evento.

"Na hora, eu e a minha esposa estávamos jantando no hotel e não sabíamos o que estava acontecendo. Quando voltamos para o quarto, começamos a ver as notícias e não sabíamos que ele estava no shopping. Fomos sentir só depois, quando ele chegou e contou o que houve."

Marques conta que o que o deixou mais apreensivo foi ver a imagem dos manifestantes tentando derrubar um ônibus de uma das passarelas de Brasília.

"A primeira coisa que fui ver é se o ônibus que eles tentaram derrubar era um dos quatro do grupo do evento."

Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
Ônibus incendiado por bolsonaristas em Brasília (DF)
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

O grupo saiu do hotel por volta das 18h30 e deveria voltar às 21 horas, mas só retornou duas horas depois. Durante esse tempo, os adolescentes não puderam sair do shopping para não serem atacados pelos manifestantes.

"O shopping fechou as portas e João contou que eles precisaram deitar no chão. Alguns foram se abrigar no banheiro. Os adolescentes ficaram desesperados, uma das meninas chorava muito. Todos ficaram muito assustados porque não sabiam direito o que estava acontecendo lá fora, ouviram barulhos de tiros, explosão do lado de fora", conta.

Devido ao custo alto do evento, poucos estudantes estavam acompanhados dos pais, o que deixa os familiares ainda mais preocupados.

"Eu pelo menos estou aqui, consigo ver se ele (meu filho) está bem. Agora imagina os pais desses trezentos alunos de todos os lugares do Brasil que não estão aqui e que ligam a TV e não sabem o que está acontecendo com eles?", questiona.

Ao voltar para o hotel, o adolescente contou aos pais o que houve e teve dificuldade para se acalmar.

"Quando ele chegou, estava com um nervosismo muito grande, não parava de andar para lá e para cá. Mesmo a gente dizendo para se acalmar e que tudo já havia passado, foi difícil voltar ao normal. Ele ficou agitadíssimo", contou o pai.

Marques criticou a postura dos manifestantes e fez um apelo para que os casos não se repitam.

"Queria que essas pessoas se colocassem no lugar de quem está com filho nesse ambiente de terrorismo. Quem é pai ou mãe sabe o que é um filho passar por uma coisa dessas e você nem estar sabendo ou não poder ir lá."

Nesta terça-feira, os estudantes voltaram à programação regular, com palestras e reuniões no hotel, mas a organização ainda não informou se haverá suspensão de atividades externas, após o que houve na segunda.

O que aconteceu?

Os ataques de vandalismo em Brasília na noite de segunda-feira deixaram cinco ônibus e três carros de passeio incendiados, sendo sete deles totalmente consumidos pelo fogo. As informações foram divulgadas pelo Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, que também informou que uma caminhonete da corporação foi alvo de apedrejamento.

Os que promoviam o tumulto afirmavam fazer parte do "movimento" que "luta pelo Brasil". Em sua maioria com camisas verde-amarela, gritavam frases ouvidas em atos golpistas ou em comícios do presidente Jair Bolsonaro (PL), como "Brasil acima de todos" e "prende o Lula".