Turista ilhada em Maresias volta a São Paulo: 'Como isso rola em 2023?'
A analista de marketing Vanessa Malaquias de Camargo, 31, passou horas de desespero em Maresias, praia de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Ela e o namorado decidiram passar o Carnaval no local, chegando no sábado (18) e retornando no domingo (19), mas acabaram ficando ilhados.
O casal conseguiu retornar para a cidade de São Paulo, onde vive, nesta segunda (20), após mais de 9 horas na estrada —a viagem costuma durar, em média, cerca de 3 horas. A primeira tentativa havia sido no domingo, mas foram impedidos pela má condição das rodovias que ligam a capital com o litoral norte, castigadas pelas pancadas de chuva.
Quando chegaram à praia na tarde de sábado, já estava "chovendo consideravelmente", contou Vanessa. Mas eles acharam que a chuva pararia. Decidiram ir para um bar para aproveitar o Carnaval. Por volta das 23h, a rua começou a encher de água. Às 2h da manhã do domingo, após duas quedas e energia, decidiram voltar para a hospedagem.
A água na rua estava na altura do joelho."
Turista ilhada em Maresias
Vanessa afirma que dormiu preocupada com a chuva, pois estava hospedada em um local que considerava simples, na avenida Dr. Francisco Loup. Mas ela não esperava o que viria a acontecer.
"Dormimos postando no Instagram e eu acordo sem nenhum sinal no celular, a televisão não estava pegando e sem água. Foi um negócio de filme, demorou para cair a ficha."
O casal, então, decidiu buscar informações na rua. Encontram os comércios fechados e as ruas alagadas. "Metade da cidade estava sem água e toda cidade sem internet. Sem dinheiro de papel ninguém queria vender comida. A galera começou a se desesperar", disse Vanessa.
Ainda no domingo, por volta das 11h da manhã, o casal tentou voltar para a capital, mas encontrou as estradas fechadas. "Quando subimos sentido Juquehy, os bombeiros não deixaram a gente passar, explicando que o asfalto teria cedido. Voltamos, tentamos ir por Toque-Toque, antes de Paúba, que também estava bloqueada", explicou.
Voltamos para a cidade e nos conformamos que ficaríamos presos."
Turista ilhada em Maresias
Vanessa lembra que começou a buscar por pousadas para passar a noite, mas recebeu respostas negativas de três. Somente a quarta pousada topou abrigar o casal, já por volta das 20h do domingo.
Essa pousada foi a esperança, porque não tínhamos onde ficar. Passamos o dia andando na água podre e lá tomamos banho e comemos."
Turista ilhada em Maresias
Na segunda pela manhã, ouviram que havia um local em Maresias onde o sinal de telefonia funcionava, entre os portões 19 e 20. Lá conseguiram se comunicar com a família. Também ouviram de um ciclista que a rodovia havia sido liberada. Às 9h da manhã, começaram a voltar para casa.
O trajeto foi demorado. "Todo mundo foi tentar sair ao mesmo tempo. Conseguimos subir, sentido Paúba. Quando estávamos chegando em Toque-Toque e achamos que ia andar, o trânsito parou, porque ainda estavam limpando a pista. A gente decidiu esperar, porque não tínhamos como ficar na cidade", explicou Vanessa.
Já no começo da tarde, por volta das 14h, o trânsito foi liberado de novo. "Aí conseguimos passar, mesmo com os bloqueios e saímos de São Sebastião", lembrou.
Tava bem cheio, bem perigoso, porque tinha muito poste de eletricidade tombado na estrada. Depois de São Sebastião o sinal de internet voltou, conseguimos comer em uma padaria e deu tudo certo. Saímos 9h e chegamos 18h."
Turista ilhada em Maresias
Até o momento, 40 mortes foram confirmadas pelas autoridades, a maioria em São Sebastião. Mais de 40 pessoas ainda estão desaparecidas.
Já em São Paulo, Vanessa afirma que se sente grata por ter chegado em casa. "Pensar que ficamos com fome e sem ter onde ficar foi o menor dos problemas. É um alívio. Eu estava com muitas expectativas com essa viagem e agora estou pensando em tudo que aconteceu nesses dois dias. Como não tinha uma estrutura melhor?", questiona.
A pousada que ficamos é do lado de um posto dos bombeiros e uma mulher deu à luz ali. O bebê nasceu e demorou mais de seis horas para chegar resgate. Foi muita coisa acontecendo e a gente fica: como em 2023 isso rola?"
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