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Mil bexigas e passado aventureiro: há 15 anos, sumia o padre do balão

Padre do balão morreu em 2008 - Divulgação
Padre do balão morreu em 2008 Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL

20/04/2023 10h53Atualizada em 20/04/2023 18h56

Há 15 anos, o padre Adelir de Carli, 41, embarcava para um voo de balões de gás hélio na cidade de Paranaguá, no Paraná, com a intenção de chegar a Dourados, em Mato Grosso do Sul. A aventura, no entanto, teve um fim trágico e marcou a memória dos brasileiros.

O religioso, que ficou conhecido na época como "padre do balão", desapareceu e restos do seu corpo só foram encontrados cerca de três meses depois, no mar, próximo à Costa de Maricá, no Rio de Janeiro.

Relembre:

No dia 20 de abril de 2008, Carli saiu pelos ares de Paranaguá (PR) amarrado a 1000 balões de festa inflados com gás hélio. Ele seguiu com o voo mesmo apesar da chuva do dia.

Carli tinha em seu equipamento de voo GPS, celular, telefone por satélite, paraquedas, capacete, roupas impermeáveis e traje térmico, colete salva-vidas, água e alimentos.

O motivo do voo era levantar fundos para a pastoral na qual o religioso atuava. Antes da decolagem, o padre ainda celebrou uma missa especial

A intenção era pousar em Dourados (MS), com um voo de aproximadamente 20 horas. Porém, uma ventania contrária, dificuldade em manusear o GPS e em controlar o movimento dos balões acabou desviando o padre da rota.

Vinte minutos depois da decolagem, ele atingiu uma altitude de 5.800 metros acima do nível do mar, quase o dobro do previsto.

O último contato do padre com a Polícia Militar aconteceu às 21h daquele dia, quando ele estava a aproximadamente 25 km do município de São Francisco do Sul, em Santa Catarina.

Durante meses, o religioso foi considerado desaparecido. O corpo de Carli só foi encontrado por rebocadores da Petrobras no litoral fluminense três meses depois, em Maricá (RJ). Um teste de DNA confirmou sua identidade.

 Adelir Antônio de Carli  - Foto Divulgação - Foto Divulgação
O padre Adelir Antônio de Carli
Imagem: Foto Divulgação

Quem era o padre?

Natural de Ampére, no Paraná, Adelir Antônio de Carli nasceu em em 8 de fevereiro de 1967 e se tornou padre em agosto de 2003. No ano seguinte, ele tornou-se responsável pela Paróquia de São Cristóvão, em Paranaguá, e também criou a criou a Pastoral Rodoviária, entidade que auxiliava caminhoneiros que trafegavam na região.

O padre ganhou notoriedade pelo seu trabalho em prol dos direitos humanos. Em 2006, ele denunciou a violência contra pessoas em situação de rua da cidade onde atuava.

"Era indisciplinado e não participava das aulas"

Dias após o desaparecimento de Carli, Márcio André Lichtnow, instrutor responsável pelo curso de parapente que teve o padre como aluno, relatou ao UOL que o padre havia sido expulso da escola por indisciplina e exibicionismo.

Ele era indisciplinado e não participava das aulas teóricas, que são fundamentais para se compreender as questões meteorológicas. Ele não tinha nada de humilde, se acha o bom, o que conhecia tudo, o que sabia tudo. Parecia um playboy.
Márcio André Lichtnow em entrevista ao UOL em 22/04/2008

Carli afirmava ter experiência em paraquedismo, parapente, montanhismo e mergulho. No início de 2008, ele já tinha conseguido viajar com 500 balões de Ampére a San Antonio, na Argentina — uma distância de 110 km, ficando 4h15min no ar.