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Delegado diz que andava de colete por receio de suspeito de chacina no CE

Patricia Calderón

Colaboração para o UOL, em Fortaleza

15/05/2023 00h01

O delegado responsável pela delegacia de Camocim (CE), onde quatro policiais foram mortos neste domingo, disse que o suspeito, também policial, vinha gerando problemas no trabalho. Preocupado com a situação, o delegado vinha usando colete à prova de balas e cogitava transferir o suspeito, afirmou em entrevista ao UOL.

Três policiais foram mortos a tiros enquanto dormiam. Um quarto policial que estava de plantão também foi morto. O suspeito, o inspetor Antônio Alves Dourado, está preso. Após o crime, ele gravou um vídeo reclamando da escala de trabalho e dizendo que "destruiu esposas e filhos de colegas".

Há quatro dias que eu estou andando de colete [à prova de balas] pra cima e pra baixo. Ele [o suspeito] não dava trégua aos colegas. Afrontava e queria me derrubar a qualquer custo"
Adriano Zeferino de Vasconcelos, delegado da Polícia Civil em Camocim

Vasconcelos disse que não questionou o inspetor sobre o comportamento para não afrontá-lo, mas avaliava transferi-lo de unidade.

Segundo o delegado, Dourado sempre deu problema nas delegacias onde trabalhou. O relato foi repetido à reportagem por outros policiais civis, que também disseram que o inspetor andava estranho ultimamente.

Ele sempre queria atuar do jeito dele, e não é assim que funciona no serviço público. Não aceitava cumprir escalas pré-programadas é simplesmente dizia: 'Não vou fazer'"

Ele preparou tudo para explodir a delegacia. Encontramos máscaras de oxigênio no poder dele, porque ele planejou matar alguns policiais asfixiados, e pretendia ficar escondido na delegacia até amanhecer. Assim que ocorresse a troca de plantão, o alvo seria eu. O alvo principal, inclusive. Não entendo por que tanto ódio"

Ele não me matou, mas tirou a vida de policiais excepcionais, exemplares, pais de família, homens trabalhadores, do bem, alegres, vão deixar saudades a toda a comunidade da nossa região"

Agora é hora de confortar os familiares dos meus colegas de trabalho e manter viva e digna a memória de cada um deles que se foram"

Relembre o caso

O suspeito chegou em uma moto ao local do crime por volta das 4h40, segundo a guarnição da PM que atendeu a ocorrência. Em seguida, teria entrado escondido pelos fundos e subido para o primeiro andar.

No primeiro andar da delegacia, o suspeito teria encontrado um plantonista, o escrivão Antônio Cláudio, que fazia a segurança do restante da equipe, que estava dormindo.

Cláudio pulou do primeiro andar para o térreo para tentar fugir, mas foi atingido pelas costas, segundo apurou o UOL. A vítima não sobreviveu.

Em seguida, o suspeito teria seguido para os dormitórios, no térreo da delegacia, onde teria atirado contra os três que dormiam em redes.

Após o crime, a PM encontrou na delegacia um gás de cozinha que teria sido alterado para incluir conexões. A polícia acredita que a intenção do suspeito era matar as vítimas por asfixia.

O suspeito também tinha uma máscara de proteção de gás, segundo a polícia.

A polícia suspeita que o objetivo era matar policiais por asfixia durante a madrugada e ficar de tocaia até a troca de plantão, para matar outros colegas, incluindo o próprio delegado.

Após os disparos contra os colegas, o suspeito teria fugido em uma viatura da delegacia.