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Público de festa busca médico após surto de febre maculosa: 'Muito medo'

Rosangela esteve na Feijoada do Rosa e agora está internada com suspeita de febre maculosa - Arquivo pessoal
Rosangela esteve na Feijoada do Rosa e agora está internada com suspeita de febre maculosa Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

16/06/2023 15h43Atualizada em 16/06/2023 15h54

Pessoas que estiveram na Feijoada do Rosa, evento que ocorreu no dia 27 de maio na Fazenda Santa Margarida, em Campinas (SP), procuraram orientação médica nesta semana com receio da febre maculosa.

A busca por profissionais é recomendada pelas autoridades para quem esteve na fazenda nos últimos dias e apresentou sintomas da doença, transmitida pelo carrapato-estrela.

O espaço que recebeu o evento foi apontado como provável local de contaminação das vítimas na região e fechado pela prefeitura. Quatro pessoas morreram vítimas da febre maculosa — todas elas estavam no evento.

'Meus amigos fizeram alerta'

A modelo e vendedora Rosangela Davelli, 40, conta que começou a ter sintomas na segunda-feira (12) após ir à feijoada. Ao ser informada por amigos sobre os casos de febre maculosa na fazenda, decidiu procurar ajuda.

"Procurei o médico logo porque meus amigos me fizeram o alerta do que estava acontecendo. Na madrugada de segunda-feira, tive calafrios, transpirei, achei que fosse uma febre normal e tomei dipirona. Depois de ser informada sobre os casos de febre maculosa, vim para o hospital o mais rápido possível. Cheguei na tarde de terça-feira (13) e estou internada desde então."

Estava com muito medo. É uma situação muito triste. Fiquei com medo de morrer, mas aqui o médico me passou tranquilidade

Rosangela diz que seu caso é tratado como suspeita de febre maculosa no Hospital Vera Cruz, em Campinas. Entre os sintomas, ela ainda teve dor de cabeça, tontura, dor nos olhos, manchas vermelhas pelo corpo, perda de apetite e mal-estar.

O resultado do exame para a doença ainda não saiu, mas já foram descartadas as hipóteses de dengue e covid-19, segundo afirma.

A equipe médica já começou o tratamento contra a febre maculosa porque é uma doença perigosa. Estou tomando antibiótico na veia, colhendo sangue. Ainda não tenho previsão de alta

A modelo afirma que não esteve no estacionamento do evento, apontado como possível foco dos carrapatos transmissores da doença.

"Desci na porta da festa já. Estava de calça branca e tamanco alto", conta. "Sentei para comer em cadeiras de madeira, subia e descia as escadas normalmente. Não andei na mata."

Ela ainda diz que reparou que, duas semanas depois, estava com uma ferida nas nádegas, mas não sabe se a situação tem relação com a suspeita da doença. "Não vi carrapato."

'Muito mato'

Douglas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Douglas recorreu ao médico com receio de febre maculosa
Imagem: Arquivo pessoal

Já o empresário e supervisor comercial Douglas Emanuel, 34, foi do Rio para Campinas para participar da festa. Ele deixou o carro no estacionamento onde, segundo ele, tinha "muito mato".

"Mas não pisei em mato alto. Só sei que, no dia seguinte, comecei a ter uma coceira muito grande na minha perna, de uma forma que nunca senti antes. Conforme foi coçando, foi dando ferida."

No fim de semana, Douglas sentiu diarreia e, ao saber dos casos de febre maculosa, decidiu procurar uma médica. A profissional, no entanto, descartou a doença. Agora, ele está sob medicação de antialérgico e anti-inflamatório.

Alerta do Estado

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo emitiu um alerta orientando que as pessoas que estiveram na Fazenda Santa Margarida e apresentarem sintomas (como febre, dor pelo corpo, dor cabeça ou manchas avermelhadas) procurem atendimento médico imediatamente.

O alerta vale para quem esteve na fazenda no período de 27 de maio a 11 de junho. A pasta também orientou que essas pessoas informem ao médico que estiveram na região. O período de incubação da doença é de 2 a 14 dias.

Quatro mortes pela doença foram confirmadas: uma adolescente de 16 anos, duas mulheres, uma de 36 e outra de 28 anos, e um homem, de 42 anos. O diagnóstico e o tratamento rápido são decisivos para evitar complicações graves e morte.

Entenda a febre maculosa

Transmissão ocorre por carrapato infectado. O carrapato-estrela, que transmite a febre maculosa, tem como principal hospedeiro a capivara, animal que vive em áreas de banhados e beiras de rios. Para passar a doença aos humanos, é preciso que o carrapato esteja infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da doença. Bois, cavalos e cachorros também podem ser portadores de carrapato-estrela infectado. Não há transmissão de pessoa para pessoa.

Carrapato deve ficar 4 horas grudado na pele. Quando a pessoa vai para uma área sujeita à presença de carrapatos, que se fixam na roupa e passam para o corpo. Para transmitir a doença é preciso que o carrapato fique ao menos 4 horas grudado na pele da pessoa. O problema é que os micuins — carrapatos jovens e pequenos — também são transmissores e são difíceis de serem vistos a olho nu.

As lesões são parecidas com picadas de pulga. É importante informar ao médico se esteve em regiões onde há registro de capivaras ou casos da febre.

Proteção inclui retirada de carrapatos. Para se proteger e facilitar a visualização dos carrapatos, as pessoas devem usar roupas claras quando entrarem em locais de mato. Se localizar um carrapato na pele, é preciso retirar com cuidado, usando uma pinça, evitando esmagá-lo para que não libere as bactérias. O uso de repelentes também é recomendado.

Época mais comum. Embora não seja uma doença sazonal, a febre maculosa é mais comum entre os meses de junho e novembro, período em que predominam os micuins.

Doença pode ser confundida com outras. A doença é tratável com antibióticos específicos, mas os sintomas iniciais se confundem com os de outras doenças, como leptospirose, dengue e até a covid. A pessoa fica dois ou três dias com febre, enquanto a bactéria vai destruindo os vasos sanguíneos, o que causa as lesões na pele.

Sintomas avançam rapidamente. Uma vez que a pessoa é infectada, os sintomas surgem de forma repentina e progridem rapidamente, causando febre alta, dores no corpo e o aparecimento de manchas vermelhas, inclusive na palma das mãos e na planta dos pés. Essas manchas crescem e se tornam salientes.
Tratamento depende de diagnóstico ágil. No início, a doença pode ser tratada com antibióticos, o que torna imprescindível o diagnóstico rápido. Como os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças, a imprecisão no diagnóstico inicial pode gerar complicações graves. Após 4 ou 5 dias, a medicação não surte o efeito esperado.