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Mulher que imitou macaco falta a depoimento, mas é indiciada, diz delegada

Do UOL, em São Paulo*

17/07/2023 16h48Atualizada em 18/07/2023 14h48

A Polícia Civil de SP indiciou na tarde de hoje Thaís Pinheiro Andrade Nakamura, 40, sob a suspeita de injúria racial ocorrida e filmada no sábado (8) em um restaurante do shopping Open Mall The Square, na Granja Viana, bairro de classe alta em Cotia, na Grande São Paulo.

O que aconteceu

Thaís faltou ao depoimento hoje. Mesmo notificada por seu advogado para depor às 14h no 2º DP de Cotia, a acusada não foi à delegacia por estar "sem condições emocionais de comparecer", segundo afirmou seu defensor à delegada do caso, Mônica Gamboa.

Apesar da ausência da mulher, a delegada a indiciou por injúria racial. "Ela tem a prerrogativa de não aparecer", afirmou a delegada ao UOL.

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A delegada indiciou Thaís com base nos vídeos capturados no momento das ofensas. "Também [me baseei] no depoimento das testemunhas, depoimento das vítimas, no consumo excessivo de álcool e pelo trabalho investigativo", afirma Gamboa.

Ele [advogado] juntou uma petição sobre essa ausência dela, e eu fiz um indiciamento indireto. Ela está indiciada no artigo 2º da Lei 7.716 de 1989.
Mônica Gamboa, delegada

O que diz a defesa da acusada

Defesa diz que Thaís foi incriminada de forma precipitada. O advogado Waldinei Guerino Junior afirmou, em nota emitida à imprensa, que sua cliente não se apresentou à delegacia "por problemas psicológicos e emocionais provocados por uma crise pós-traumática".

Um laudo da psiquiatra responsável pelo tratamento de saúde da acusada "há vários anos" foi apresentado à Polícia Civil, segundo o advogado. O documento será anexado à investigação, afirmou a delegada

Thaís, com o trauma provocado pela proporção que o caso tomou, não está em condições emocionais de sair de casa e sua defesa solicitou nova oitiva. A crise pós-traumática pela qual Thaís passa se agravou após as declarações da delegada responsável pelo caso, que, de forma precipitada e sem sequer ouvir a defesa, incriminou-a nos veículos de comunicação. Vale frisar que até o momento a defesa também não teve acesso a investigação. Waldinei Guerino Junior, advogado da acusada

Gamboa rebateu as alegações de Guerino. Segundo ela, o advogado já estava avisado de que Nakamura seria indiciada, e ele só não teve acesso aos autos porque só apresentou hoje (17) a procuração para atuar no caso, declarou a delegada ao UOL.

Eu preservei o nome da cliente [Nakamura] até o final da semana passada, como havia combinado com ele [Guerino]. E eu já havia avisado que faria o indiciamento hoje, com ou sem a apresentação dela na delegacia
Delegada Mônica Gamboa, responsável pelo caso

Alcoolismo e depressão

"O advogado alega que ela tem problemas de alcoolismo e depressão", disse a delegada. "A gente vai ouvir esses médicos para saber a veracidade desse documento, e depois o inquérito será relatado e encaminhado ao Ministério Público", declarou a delegada. "Aí entregamos ao MP [Ministério Público], e o promotor tem de 5 a 15 dias para oferecer denúncia." O inquérito deverá ser concluído em cerca de um mês.

Pena pode chegar a cinco anos de prisão. A delegada diz que avalia a necessidade de prisão preventiva. Se a indiciada for condenada pela Justiça ao final do processo, "a pena será de 2 a 5 anos por crime de injúria racial", afirma Gamboa.

Thaís não tem antecedente criminal. Ela também está com as redes sociais desativadas, o que impediu a delegada de saber até sua qualificação profissional. "O advogado apenas entregou o documento dizendo que ela não viria", afirma.

Relembre o caso

Thaís, que é branca, foi flagrada por câmeras de seguranças de um restaurante. Ela apontava para duas irmãs e uma amiga negras e imitava um macaco.

A mulher se aproximou do grupo em tom de deboche e disse que elas eram "lindas e corajosas", segundo as vítimas. Depois, Thais Nakamura teria perguntado ao marido de uma delas, que é branco, "por que estava entre as negras", em momento não captado pelas câmeras.

A agressora precisa sofrer esse processo-crime e um dos maiores prejuízos que as pessoas precisam sentir, que é no bolso."
José Luiz de Oliveira Júnior, advogado das mulheres negras

Mulher foi identificada após perícia

A polícia chegou à identificação da mulher por meio do trabalho da perícia. "Tivemos que fazer uma edição com a aproximação de imagem e mandamos para a perícia. Ela foi identificada com o reconhecimento facial. A perícia nos mandou as imagens e chegamos à mulher", disse a delegada na sexta-feira (14).

As testemunhas relataram à polícia que o marido da mulher indiciada é um homem de origem japonesa de sobrenome Nakamura, o que ajudou a polícia a identificar a mulher de mesmo sobrenome.

O que dizem as vítimas

À policia uma das vítimas disse que convidou as irmãs e uma amiga no dia 8 de julho para assistirem a um show no shopping de Cotia porque "estavam tristes" com a recente morte do pai.

Durante o depoimento, a vítima disse que Nakamura perguntou ao namorado dela o que ele fazia no "meio de negros". Ele pediu, então, que a mulher branca repetisse na frente da namorada o que acabara de dizer. Ela teria se negado.

A vítima disse que percebeu que Nakamura a chamou de macaco ao voltar do banheiro e passar perto dela. "Parei, olhei para atrás e perguntei se realmente ela estava incomodada, e ela gesticulou que sim e disse 'É isso mesmo'".

Ao voltar para a mesa e relatar aos familiares e amigos o que aconteceu, a mulher afirma que todos olharam para a mulher branca, que voltou a gesticular, imitando um macaco.

"Neste momento, peguei meu celular e fui até ela perguntando e gravando se ela estava incomodada e xingando-a de 'ridícula' enquanto o garçom tentava me segurar e minha amiga gritava 'racista'", afirmou.

Senti uma mão no meu ombro e vi que era uma moça branca e loira me falando 'vocês são lindas e corajosas de estarem aqui'. Até então, entendi como um elogio e agradeci. Depois disso comentei com minha amiga o que a moça branca havia falado e minha amiga me afirmou que a moça era racista e estava falando com ironia.
Vítima de racismo

Irritada após o ato racista, a vítima disse que se dirigiu até a mulher branca e a chamou de "linda". A mulher teria, então, tentado agredir a vítima, que disse em depoimento que a agrediu com um tapa "para se defender".

A amiga das vítimas que presenciou os fatos disse que tentou gravar a mulher branca imitando um macaco, mas não conseguiu. O companheiro da que imitou macaco chegou a se desculpar pelo ato racista, segundo o marido de uma das vítimas.

*Colaborou Ana Paula Bimbati, do UOL, em São Paulo

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