Moradores recolhem cápsulas de ruas do Guarujá: 'Eles passam atirando'

Moradores do bairro Vila Santa Clara, no Guarujá, litoral de São Paulo, recolheram projéteis espalhados pela rua na quarta-feira (2). Eles dizem que agentes da Romu (Ronda Ostensiva Municipal), dispararam enquanto passavam por ruas da região.

Desde o fim de semana passado, a Baixada Santista é alvo da Operação Escudo, das forças policiais do Estado — o ouvidor da Polícia, Cláudio Silva, diz que os moradores estão aterrorizados.

O que aconteceu

"Agentes da Romu entraram na rua e começaram a atirar a esmo", afirma Dimitri Sales, presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana). O órgão atua em parceria com a Defensoria Pública para reunir relatos de moradores que dizem viver em meio ao fogo cruzado da polícia e do crime organizado.

A Secretaria Municipal de Defesa e Convivência Social do Guarujá nega que tenha havido tiros.

Os agentes teriam entrado na Vila Santa Clara bruscamente e abordado dois jovens, de acordo com o presidente do Condepe. Minutos depois, os rapazes teriam sido liberados. "Havia muitas crianças na rua, um morador chegou a nos dizer que a casa dele havia sido alvejada", diz Sales.

Depois da passagem dos agentes, alguns moradores recolheram restos de balas espalhados pelas ruas. "Nesse contexto de morte, em que tantas pessoas estão sendo abordadas, é desesperador vivenciar um momento assim", afirma o presidente do órgão.

A Operação Escudo teve início na semana passada após a morte de um soldado da Rota no Guarujá. Até a noite de sexta (4), foram 16 mortos em ações policiais na Baixada Santista.

'Escutei os tiros e vi todo mundo correndo'

Uma mulher ouvida pela reportagem, que preferiu não se identificar por medo de represálias, disse que chegava em casa por volta das 16h30 da quarta com a filha de sete meses quando ouviu os tiros.

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"Cheguei aqui e vi todo mundo correndo. Fiquei em casa até passar", diz. "Depois, vi eles [agentes] passando apontando o fuzil em direção à Vila. Não querem nem saber se a gente está com criança ou não."

A mulher pretendia deixar a bebê em casa para buscar a outra filha de quatro anos na escola. "Ouvi o barulho dos tiros, foram de seis a oito disparos", lembra.

Ela narra ainda que, quando os disparos cessaram, os policiais desceram a rua em direção à avenida Tancredo Neves. "Eles estavam com as armas para fora do carro, apontando para a rua."

A mulher vive com o marido e cinco filhos em casa. No mesmo imóvel, moram a irmã dela e o marido. "Normalmente, quando não tinha operação a gente colocava as crianças para brincar na rua. Agora, eles pedem para brincar e eu não deixo."

Eles abordam as pessoas na frente das crianças, jogam as pessoas contra a parede, ficam olhando para dentro da nossa casa.
Moradora da Vila Santa Clara que diz ter presenciado disparos

O que dizem a prefeitura e o governo

A Secretaria Municipal de Defesa e Convivência Social negou que tenham ocorrido disparos. "Não houve disparos efetuados pela equipe de Ronda Ostensiva Municipal (Romu) na quarta-feira (2), na comunidade Santa Clara", afirma nota enviada à reportagem.

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Segundo a pasta, a Romu foi acionada por volta das 14h30 para prestar apoio a uma solicitação da direção da Escola Municipal Francisco Figueiredo, na comunidade Santa Clara. "Os agentes se deslocaram ao local, fizeram o atendimento e seguiram com o patrulhamento de rotina."

Sobre a Operação Escudo, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo disse que "todas as ocorrências com morte durante a operação resultaram da ação dos criminosos que optam pelo confronto, colocando em risco tanto vítimas quanto os participantes da ação".

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