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Trem bão, melhor que Bentley: 'maquinista' diz como fez vídeo viral da CPTM

Do UOL, em São Paulo

26/09/2023 04h00Atualizada em 26/09/2023 14h04

"Trem"... Treeem"... Com apenas uma palavra e barulhinhos ao estilo ASMR, um funcionário da CPTM (empresa pública que opera linhas férreas em São Paulo) invadiu a timeline dos brasileiros na semana passada. Daniel Araújo é a estrela do vídeo do TikTok e recebeu o UOL em um pátio da companhia para contar como surgiu o vídeo em que um trem brasileiro é protagonista de uma disputa inusitada com a marca de carros de luxo Bentley.

A ideia foi inspirada na influenciadora russa Alla Bruletova, que fez uma propaganda para uma concessionária de luxo usando o ASMR — "resposta sensorial autônoma do meridiano", aquela tendência em que se grava sons bem próximos ao microfone, o que, em teoria, dá prazer ao seu público-alvo. Nela, a jovem passa os dedos e as unhas pelo veículo, sussurrando: "Bentley".

A versão mais simples de um carro 2023 da marca custa mais de R$ 800 mil. Na versão da CPTM, ele deu lugar a uma opção mais acessível — para quem é passageiro: o trem.

Daniel Araújo tem 38 anos, é funcionário da CPTM há 12 e revelou que tudo foi feito no pátio da empresa, no centro da capital, local da visita do UOL. Mas se engana quem achou que ele é maquinista.

"Eu fiscalizo quem faz a manutenção, cuido de manobras, mas diferente do que a galera pensou, que eu era o maquinista, eu fico só nos bastidores, não faço transporte de passageiros, nunca foi a minha área", conta ele.

O técnico confessa que lutou contra a timidez para participar do ASMR, mas se divertiu com a repercussão do vídeo.

"Acompanhei os comentários e achei muito engraçado, mas quem fez o maior trabalho nesse vídeo é o trem", afirma Daniel, que se diz um apaixonado pelo assunto desde criança.

Quando eu era criança, morava bem próximo à estação, via os trens e era louco por eles. Depois de muito tempo, fui fazer Senai, mantive a vontade de trabalhar neles e acabei passando no concurso. Sinto que é um privilégio fazer o que eu faço.
Daniel Araújo

Além de trabalhar na CPTM, o paulista também é faixa preta de jiu-jitsu e dá aulas de luta nas horas vagas.

Sua desenvoltura em frente às câmeras o tornou um dos "atores" mais requisitados no TikTok da empresa: no total, ele já apareceu em pelo menos 10 vídeos, muitos deles explicando partes técnicas do funcionamento dos trens.

Daniel Araújo, 38, trabalha na CPTM há mais de 10 anos, sempre na área de manutenção; agora, ele é estrela do TikTok da companhia Imagem: Pietra Carvalho/UOL

Quem teve a ideia do viral?

Em menos de uma semana, o ASMR da CPTM teve mais de 4 milhões de visualizações. Daniel destaca que o responsável pela ideia está nos bastidores e é conhecido no TikTok como o "estagiário da CPTM" — uma brincadeira comum ao falar de quem trabalha com redes sociais.

No dia a dia, o idealizador do hit não é mais estagiário há vários anos. Rodrigo Caíque, 30, é o responsável pela criação de conteúdo da empresa. Ele foi contratado em 2012 para trabalhar na área administrativa, mas foi transferido para a área criativa em 2019, realizando um sonho antigo.

Há algumas semanas, ao ver o ASMR com o Bentley, ele decidiu levar a ideia até os colegas, que embarcaram na sua vontade de "quebrar o gelo" das páginas da CPTM, recheadas de vídeos explicativos.

Mas não foi tão fácil produzir o hit: nos bastidores, os funcionários tiveram que fazer uma série de adaptações à realidade do trem, que conta com regras que um carro não tem.

"O copo de água que aparece no vídeo do Bentley a gente também não pôde reproduzir, porque é proibido entrar com água na cabine, então o Daniel deu a ideia de abrirmos uma gaveta de ferramentas que fica lá para conseguirmos um som novo", explica Caíque.

Além disso, a ideia também exigiu alguns truques do social media, como o uso de uma chave de fenda, já que apenas os dedos não produziram os barulhos "satisfatórios" que o ASMR precisa.

Valor do trem deixa Bentley no chinelo

Um trem pode ser mais comum que um Bentley, mas seu preço é bem mais impressionante: em uma compra feita em 2018, o governo investiu R$ 39,6 milhões por composição da Série 2500, que atende a linha que vai ao aeroporto de Guarulhos.

Já os trens da série 8500, que atendem a linha que chega ao Brás, foram comprados em 2013 por R$ 29 milhões a composição; em valores corrigidos, o valor vai a R$ 38 milhões, segundo a assessoria da CPTM.

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