Chefes do CV são investigados por morte de suspeitos de assassinar médicos
A Polícia Civil investiga os chefes do Comando Vermelho nas ruas por suspeita de terem ordenado o assassinato dos envolvidos no ataque ao quiosque na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, que deixou três médicos mortos e um ferido na madrugada de quinta-feira (5).
O que está acontecendo
A polícia investiga se Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como Abelha, e Edgar Alves de Andrade, o Doca, participaram do "tribunal do crime". Apontados como os líderes da facção que domina o tráfico de drogas nas favelas do Rio, a suspeita é de que eles tenham tomado a decisão para assassinar os criminosos envolvidos na morte dos ortopedistas.
Relacionadas
O corpo de Philip Motta Pereira, o Lesk, foi encontrado em um carro na Gardênia Azul, zona oeste carioca. Ele é apontado como o membro da milícia responsável pela aliança que permitiu a entrada do tráfico de drogas no começo deste ano no mesmo bairro onde o seu corpo foi achado, acirrando a disputa interna envolvendo a maior milícia do Rio e o próprio Comando Vermelho.
Os outros corpos são de Ryan Nunes de Almeida, Thiago Lopes Claro da Silva e Pablo Roberto da Silva dos Reis.
Segundo a Polícia Civil, Lesk deu a ordem para matar o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, um dos seus rivais. Mas os autores do crime acabaram assassinando os três ortopedistas por engano, apontam as investigações.
A briga interna pelo controle da maior milícia do Rio de Janeiro deu origem a uma aliança inédita com o Comando Vermelho,
O "general" e a caçada aos rivais
A participação de Abelha e de Doca na aliança com a milícia do Rio, que intensificou a disputa por território entre grupos rivais, já era investigada pela Polícia Civil do Rio, apontam documentos obtidos com exclusividade pelo UOL. Os investigadores rastrearam uma troca de mensagens entre Abelha e um criminoso com a missão de ocupar territórios na zona oeste entre fevereiro e maio deste ano.
A ação é descrita como "caçada" aos rivais em mensagens enviadas a Abelha, chamado de "general" pelo suspeito de chefiar as buscas. No diálogo, o chefe do CV recebe fotos de jovens sentados no chão no que parece ser uma abordagem feita pelos criminosos.
Nas buscas, há informações em referência ao assassinato de rivais. "Morto 01 do Fubá [em referência ao líder de grupo rival que atuava na favela em Cascadura, subúrbio do Rio]", escreve o criminoso, que recebe elogios do chefe. "Meu mn [menor, gíria usada no meio do crime para se referir a um criminoso de escalão inferior] representa nós", responde Abelha, elogiando a ação.
Em outra mensagem, o criminoso encaminha a Abelha um vídeo mostrando outra ação. "Chacrinha pai", diz, citando a ação na favela na Praça Seca, zona oeste, palco de confrontos entre facções rivais nos últimos anos. E, mais uma vez, recebe elogios: "Vc é foda".
Também há imagens de armamento pesado usado pela quadrilha. Em um dos fuzis, está escrito "PB vive". É uma referência a Pablo Rabello, filho de Abelha, morto em uma troca de tiros com a polícia em 2019 no Complexo da Penha, reduto do Comando Vermelho.
O nome de Abelha está salvo no celular como Chefe Mel, de acordo com print da troca de mensagens anexada ao inquérito da Polícia Civil.
Nas mensagens, Abelha informa ter feito o pagamento de R$ 1.000 ao suspeito de chefiar a ação e a outro comparsa dele. "Deixei mil lá pra vc e vou deixar mil para ele", escreve o chefe do Comando Vermelho.
Em seguida, o criminoso pede orientação. "Aqui eu conheço a maioria das áreas. Então onde o senhor fala [sic] pra eu entrar eu vou entrar".
Abelha responde citando outro chefão da facção criminosa nas ruas. "Vou conversar com o Doca aqui e te chamo".Doca é o apelido de Edgar Alves de Andrade, também conhecido como Urso. Assim como Abelha, ele integra a cúpula do Comando Vermelho nas ruas.