PM preso em escolta de cocaína no Rio é ligado a chefe do CV, diz polícia

O policial militar preso em flagrante ontem enquanto fazia a segurança de 100 kg de cocaína em um caminhão na avenida Brasil a caminho do Complexo da Penha, zona norte do Rio, é um dos homens de confiança do chefe do Comando Vermelho nas ruas, Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, segundo as investigações.

Droga levada para favelas do Rio

O sargento Yuri Luiz Desiderati Ribeiro, 36, mantinha ligações com Abelha havia mais de um ano, aponta a apuração da polícia. A atuação dele na organização criminosa também era intermediada por William de Souza Guedes, o Corolla, outro integrante da cúpula do Comando Vermelho.

Há 13 anos na PM, Desiderati era o encarregado pelo armazenamento da droga em uma transportadora de uma cidade na Baixada Fluminense. A cocaína era levada até o Complexo da Penha, onde fica o quartel-general da facção criminosa, para ser distribuída para as outras favelas do grupo.

O sargento do 21º BPM era o responsável por transportar a droga ao menos três vezes por mês, de acordo com a investigação. Procurada pela reportagem, a advogada de Desiderati não quis se manifestar. Antes desta investigação, ele não tinha histórico de desvio de conduta na corporação — onde atua no patrulhamento.

O policial militar, um dos nove presos na operação conjunta da PM e da Polícia Civil deflagrada nesta segunda (9), já estava sendo monitorado pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes havia um mês. Ele estava no carona do caminhão conduzido por Marcos Leandro de Oliveira Serra, também preso na ação.

Desiderati foi transferido ontem à noite para o Batalhão Especial Prisional da corporação. Ele também vai responder a um processo administrativo e disciplinar, que será instaurado pela PM.

Abelha está foragido desde julho de 2021, quando foi beneficiado por um alvará de soltura e deixou o presídio de Bangu, na zona oeste do Rio. O traficante orientou pelo WhatsApp uma caçada aos rivais da facção criminosa após aliança firmada com a milícia, indica documento da Policia Civil obtido com exclusividade pelo UOL.

Cocaína apreendida durante operação no Rio; PM fazia segurança da carga e foi preso
Cocaína apreendida durante operação no Rio; PM fazia segurança da carga e foi preso Imagem: Divulgação - 9.out.23/Polícia Civil

O "general" do crime

A Polícia Civil do Rio rastreou a troca de mensagens entre Abelha e um criminoso com a missão de ocupar os territórios na zona oeste carioca entre fevereiro e maio deste ano. Historicamente dominada pela milícia, a região passou a ser ocupada pela facção criminosa após um acordo selado entre Abelha e Luis Antônio da Silva Braga, líder do grupo paramilitar.

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A ação é descrita como "caçada" aos rivais em mensagens enviadas a Abelha, chamado de "general" pelo suspeito de chefiar as buscas. No diálogo, o chefe do CV recebe fotos de jovens sentados no chão no que parece ser uma abordagem feita pelos criminosos.

Nas buscas, há informações em referência ao assassinato de rivais. "Morto 01 do Fubá [em referência ao líder de grupo rival que atuava na favela em Cascadura, subúrbio do Rio]", escreve o criminoso, que recebe elogios do chefe. "Meu mn [meu mano, na gíria] representa nós", responde Abelha, elogiando a ação.

Em outra mensagem, o criminoso encaminha a Abelha um vídeo mostrando outra ação. "Chacrinha pai", diz, citando a ação na favela na Praça Seca, zona oeste, palco de confrontos entre facções rivais nos últimos anos. E, mais uma vez, recebe elogios: "Vc é foda".

Também há imagens de armamento pesado usado pela quadrilha. Em um dos fuzis, está escrito "PB vive". É uma referência a Pablo Rabello, filho de Abelha, morto em uma troca de tiros com a polícia em 2019 no Complexo da Penha, reduto do Comando Vermelho.

Policiais militares fazem operação na Vila Cruzeiro, que resultou na prisão de 9 pessoas
Policiais militares fazem operação na Vila Cruzeiro, que resultou na prisão de 9 pessoas Imagem: REGINALDO PIMENTA - 9.out.23/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Chefe Mel

O nome de Abelha está salvo no celular como Chefe Mel, de acordo com print da troca de mensagens anexada ao inquérito da Polícia Civil.

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Nas mensagens, Abelha informa ter feito o pagamento de R$ 1.000 ao suspeito de chefiar a ação e a outro comparsa dele. "Deixei mil lá pra vc e vou deixar mil para ele", escreve o chefe do Comando Vermelho.

Em seguida, o criminoso pede por novas orientações. "Aqui eu conheço a maioria das áreas. Então onde o senhor fala [sic] pra eu entrar eu vou entrar".

Abelha responde citando outro chefão da facção criminosa nas ruas. "Vou conversar com o Doca aqui e te chamo". Doca é o apelido de Edgar Alves de Andrade, também conhecido como Urso. Assim como Abelha, ele integra a cúpula do CV nas ruas.

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