Exército diz que 8 das 21 armas furtadas em SP foram recuperadas no Rio
Do UOL, em São Paulo
19/10/2023 18h21Atualizada em 20/10/2023 10h31
Autoridades do Exército afirmaram nesta quinta-feira (19) que oito das 21 armas furtadas do Arsenal de Guerra do Quartel em Barueri, em São Paulo, foram recuperadas no Rio de Janeiro.
O que aconteceu
Os armamentos recuperados foram quatro metralhadoras ponto 50 e outras quatro MAGs. As informações foram confirmadas pelo general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste do Exército, em entrevista.
"Todos os esforços serão envidados para a recuperação total dos armamentos subtraídos", informou o Exército. A interceptação das armas ocorreu em uma ação integrada do Exército Brasileiro com a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro
Relacionadas
O diretor do Arsenal de Guerra em São Paulo será exonerado do cargo, segundo o general. O tenente-coronel Rivelino Barata Batista de Sousa, que comandava o AGSP (Arenal de Guerra de São Paulo), será retirado do cargo por decisão do Comandante do Exército.
Apreensão ligada ao tráfico
Os policiais apreenderam os armamentos após receberem uma ligação informando a localização do armamento, que estaria dentro de um carro na Gardênia Azul, zona oeste do Rio. A comunidade é a mesma que passou a contar com a atuação do CV (Comando Vermelho) desde o começo deste ano após uma aliança entre o tráfico e a maior milícia carioca.
Após a denúncia, agentes foram ao local e apreenderam as armas, que estariam inoperantes devido a defeitos no seu funcionamento.
Fontes ouvidas pelo UOL ligadas ao caso acreditam que a ação partiu do próprio tráfico para brecar uma investigação mais aprofundada, que poderia atrapalhar as ações do crime organizado nas favelas do Rio.
A aliança do CV com a milícia deu início a uma sangrenta disputa dentro da própria milícia, responsável por mais de 50 mortes neste ano, incluindo os assassinatos por engano dos médicos baleados na Barra — os supostos envolvidos no ataque foram mortos pelo próprio tráfico.
O que o Exército fez em SP
Local de guarda das armas passou mais de um mês sem vistoria. Segundo o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, a última vistoria no material havia sido feita no dia 6 de setembro, mas o sumiço só foi descoberto em 10 de outubro.
Pelo menos três suspeitos de envolvimento no furto das armas foram identificados. O número exato e os nomes não foram divulgados.
Houve troca de lacres e cadeados para esconder os desvios. "Essas armas ficam numa reserva de armamento, essa reserva é lacrada e é conferido diariamente esse lacre. O lacre foi substituído.
O general informou que há 160 militares aquartelados. Segundo ele, o aquartelamento não é uma "punição" — trata-se de uma espécie de confinamento durante o período de investigação.
A metralhadora .50, um dos armamentos que sumiram, é capaz de derrubar helicópteros e perfurar veículos blindados. Por essa razão, é usada em assaltos a carros-fortes e agências bancárias. A arma foi usada, por exemplo, no assassinato de Jorge Rafaat Toumani, um dos maiores traficantes do país, em 2016.
Investigação
Exército ainda investiga se armas foram furtadas de uma só vez. Segundo o general Vieira Gama, o "lapso temporal" da investigação vai de 6 de setembro a 10 de outubro, período entre as duas inspeções, mas ainda não se sabe como elas foram levadas. Um Inquérito Policial Militar foi instaurado para investigar o sumiço dos armamentos e corre em sigilo.
O Exército informou que "todos os processos da Organização Militar estão sendo revistos". As autoridades disseram ainda que "os militares que tinham encargos de fiscalização e controle poderão ser responsabilizados na esfera administrativa e disciplinar por eventuais irregularidades."
Temos certeza que essa subtração ocorreu por furto. Se foi de uma vez ou várias, isso ainda está em apuração.
General Maurício Vieira Gama
Os militares receberam um "Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar" e devem apresentar suas defesas. Militares temporários serão expulsos e os de carreira, submetidos a Conselhos de justificação ou disciplina. "Há dezenas de militares nessa situação [que receberam formulários de transgressão disciplinar]", afirmou o general.
A principal linha de investigação é de que as armas foram desviadas e furtadas com participação de militares do Arsenal de Guerra de São Paulo. Contudo, as autoridades de segurança não descartam nenhuma hipótese.
As ações são conduzidas pelo Comando Militar do Sudeste de maneira integrada a órgãos de segurança pública, agências e com orientação do Ministério Público Militar e da Justiça Militar da União.
O Exército considera esse episódio inaceitável e envidará todos os esforços para responsabilizar os autores e recuperar todo o armamento, no mais curto prazo. Tudo está sendo investigado e os ilícitos e desvios de conduta serão responsabilizados nos rigores da lei.
Exército brasileiro, por meio de nota
Relembre o caso
O sumiço das metralhadoras foi notado pelo Exército durante uma inspeção em 10 de outubro. Como a contagem desse armamento não é periódica — só ocorre por necessidade de manutenção ou transporte —, não foi possível saber quando o material despareceu.
De início, o Exército manteve 480 militares aquartelados na unidade. Com o avanço das investigações, 320 foram liberados na última terça-feira (17), mas outros 160 continuaram retidos no local. Parentes desses militares passaram a ir ao quartel para levar comida e apoio.
O governo de São Paulo alertou para o risco de "consequências catastróficas". O secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, informou que a polícia ajudaria nas buscas pelo armamento.