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Gangue dos falsos judeus: quais eram os trajes usados por criminosos em SP

Colaboração do UOL

25/11/2024 16h54

Uma gangue atacou ao menos sete prédios de luxo de Higienópolis, bairro nobre na região central de São Paulo, usando o que a Polícia Civil classificou como "disfarce perfeito". Os criminosos usavam trajes típicos judeus e a facilidade encontrada por eles se dá pelo fato de que, segundo dados da FISESP (Federação Israelita do Estado de São Paulo), pelo menos 20% da população judaica paulistana vive no bairro.

"Eles se comportam como se fossem da comunidade para não chamar atenção. Em alguns casos, se vestem como jovens judeus. E, assim, conseguem passar despercebidos, sem que ninguém desconfie — nem mesmo o policial militar de patrulha ou o segurança da rua."

Gabriel Sabino Corrêa, delegado do 4º DP.

Como era o "disfarce perfeito"

Em algumas abordagens, os assaltantes usavam apenas bonés e roupas despojadas, como se fossem adolescentes de classe média alta.

Em outras situações, a polícia notou nas imagens das câmeras de segurança dos condomínios alguns trajes indispensáveis para homens judeus: o talit e o quipá. Os criminosos também usavam camisa branca de manga comprida e calça social.

O talit, uma espécie de xale, é utilizado pelos homens judeus durante suas orações matutinas. E ele não é uma peça comum: a Torá (bíblia hebraica) determina a obrigatoriedade de franjas pendentes nos quatro cantos da vestimenta.

Já o quipá é o pequeno chapéu utilizado para cobrir a cabeça, pois, diferente do ocidente - em que as pessoas consideram errado usar itens como chapéus e bonés em locais considerados formais -, o judaísmo considera um sinal de respeito e reverência a Deus. Para isso, os homens usam os quipás principalmente em suas orações e estudos, e essa tradição já dura, pelo menos, dois mil anos.

As tradições em torno dessa peça variam. Nos Estados Unidos e Israel, os judeus tradicionais usam o quipá de uma só cor. Os centristas sionistas usam um tricotado preso ao cabelo. Já os estudantes de Yeshivá (escola para estudos avançados da Torá) usam os grandes de veludo e de cores brilhantes.

Para se camuflarem ainda mais, os suspeitos também usavam camisas brancas, uma cor muito usada pelos judeus no objetivo de transmitir pureza. Para transmitir esse significado, existe um traje específico chamado kitel (uma camisa branca de manga longa) usadO em datas importantes, como Yom Kipur (Dia do Perdão), casamentos, Páscoa, entre outras.

Como invasores foram desmascarados

De acordo com a Polícia Civil, as ações tinham uma certa dose de exibicionismo, já que os integrantes do grupo criminoso tiravam fotos com relógios de ouro, correntes e outras joias furtadas ainda no local.

A Polícia Civil obteve essas imagens após cumprir um mandado de busca e apreensão no dia 5 de novembro, na casa onde moram dois irmãos suspeitos de integrar o grupo, no centro da capital paulista. Lá, apreendeu uma arma de fogo falsa, uma caixa de relógio Rolex, um porta-talit de veludo com escritos em hebraico e até a peruca usada como disfarce pelos criminosos.

Os irmãos, de 21 e 22 anos, não têm anotações criminais, mas foram apreendidos na adolescência por furtos de celular. Um terceiro integrante da quadrilha também foi identificado.

Com base nos dados também extraídos do celular de um dos suspeitos, os investigadores verificaram que um deles comprou um carro avaliado em mais de R$ 100 mil, valor incompatível com a condição social deles, de acordo com a Polícia Civil.

Com base nos registros da investigação, o UOL verificou que o grupo agia em um perímetro de 3 km, seguindo rota própria. Os condomínios escolhidos pelos suspeitos estavam nas ruas Ceará, Itacolomi, Piauí, Maranhão, Rio de Janeiro, Pernambuco e Doutor Veiga Filho.

*Com informações de reportagem publicada em 24/11/2024

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