Lula diz que vai 'combater milicianos' no Rio, mas nega intervenção federal
Do UOL, em Brasília e em São Paulo
24/10/2023 09h07Atualizada em 24/10/2023 11h00
Após ataques a ônibus no Rio de Janeiro ontem (23), o presidente Lula (PT) afirmou que o governo federal vai ajudar o estado a "combater milicianos" com as Forças Armadas, mas descartou intervenção federal.
O que Lula disse
A morte de um miliciano desencadeou uma onda de ataques ao transporte público na zona oeste do Rio. A região teve pelo menos 35 ônibus e um trem incendiados ontem, além de vias interditadas.
Lula disse que a forma de como o governo deverá intervir ainda está sendo discutida junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, mas falou em "ação conjunta". Lula disse já ter conversado ontem com o ministro Flávio Dino (Justiça) e deverá se reunir também com o ministro da Defesa, José Múcio, responsável pelas Forças Armadas, nesta tarde.
Não queremos lavar as mãos. Vamos ver como podemos entrar e participar. Não queremos pirotecnia. Não queremos intervenção no Rio, que não ajudou em nada [em 2018]. Não queremos tirar autoridade do governador ou do prefeito. Queremos compartilhar uma saída.
Lula, na live "Conversa com o Presidente"
Ao todo, foram queimados 20 ônibus, cinco BRTs e veículos de turismo e fretamento. É o maior número de ônibus queimados em um único dia na história da capital fluminense, segundo informou a Rio Ônibus ao UOL.
Não é possível que o povo do Rio tenha que sofrer tanto com os marginais. O governo federal estará presente ajudando a combater o crime organizado para que o povo do Rio volte a ter tranquilidade, o direito de ir e vir sem ser importunado com bala perdida e ônibus queimado.
Lula, no "Conversa com o Presidente"
Ele falou ainda sobre a possibilidade de recriação do Ministério de Segurança Pública, separado da Justiça. "Estou pensando como a pasta vai interagir com os estados porque o problema da segurança é estadual e queremos compartilhar a solução", argumentou. Dino, que comanda a superpasta, é contra a separação.
Combater milicianos
Sem deixar passar um recado político, ressaltou a necessidade de combater as milícias. A zona oeste carioca, onde ocorreram os ataques, é um dos principais redutos eleitorais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Rio.
O presidente não citou o adversário político, mas atribuiu a escalada de violência à flexibilização das armas, a principal bandeira de Bolsonaro na área de segurança pública durante os quatro anos de governo.
A liberação da venda de armas no país de forma atabalhoada fez com que o crime organizado se apoderasse de um arsenal que não tinha antes, ele pode comprar no mercado e viu o que aconteceu.
Lula
Sem intervenção militar
Lula também não especificou qual é o plano — ou se há algum plano— para ajudar o estado, mas negou um intervenção federal nos moldes da de 2018.
Durante o último ano do governo Michel Temer (MDB), as Forças Armadas foram responsáveis pela segurança estadual por dez meses. À época, o dispositivo foi duramente criticado pela oposição, incluindo o PT, que falava em "transferência de responsabilidade".
É preciso dar tranquilidade ao povo. Vamos discutir como podemos ajudar, mas sem passar a ideia de que as Forças Armadas foram feitas para combater o crime organizado.
Lula
Morte de miliciano
O miliciano que morreu foi identificado como Matheus da Silva Rezende, conhecido pelos apelidos Teteu e Faustão.
Matheus é sobrinho de Luis Antonio da Silva Braga, ou "Zinho", o número 1 da maior milícia do Rio, que atua na zona oeste. Zinho herdou o comando da organização após a morte do seu irmão, o Wellington da Silva Braga, o Ecko, em 2021.
Matheus foi morto hoje em suposta troca de tiros com a Polícia Civil durante uma operação na região de Três Pontes, em Santa Cruz, na zona oeste do Rio. A ação teve o apoio da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), grupo de elite da Polícia Civil do Rio, Polinter e unidades especializadas, segundo o jornal O Globo.
"Teteu" é apontado em investigações, segundo o jornal, como o principal homem de guerra de Zinho na disputa de territórios contra os rivais. Ele seria o responsável por chefiar as rondas feitas pela milícia do tio dentro da zona oeste.
Na operação que Teteu morreu, uma criança de dez anos foi atingida de raspão na perna por uma bala perdida. Não há informações sobre o estado de saúde dela.
Matheus era considerado pela polícia como o segundo homem na atual hierarquia da maior milícia do Rio, comandada pelo seu tio.