Feira de Acari: criminosos vendem biscoito a R$ 1, linguiça e até TV no RJ

Um vídeo que circula nas redes sociais, na feira de Acari, zona norte do Rio, mostra um homem vendendo televisões pela metade do preço. Na imagem, é possível ver ao menos seis aparelhos apoiados em estruturas de madeira. O tamanho dos aparelhos varia de 60 a 40 polegadas —todos estão embalados.

Além das TVs, é possível encontrar fardos de refrigerante sendo vendidos a R$15, biscoitos a R$1, nuggets, linguiça, peito de peru, presunto, carne-seca, frango, margarina e outros alimentos frutos de roubos de carga.

De acordo com o ISP (Instituto de Segurança Pública), de janeiro a setembro de 2023 foram registrados 2.558 roubos de carga no Rio de Janeiro.

Local é controlado pelo crime organizado, diz prefeitura

A SEOP (Secretaria de Ordem Pública), da Prefeitura do Rio, é responsável pela fiscalização da feira da cidade. O órgão alega que o local é controlado pelo crime organizado.

A Secretaria de Ordem Pública faz o ordenamento das feiras na cidade. Especificamente nessa de Acari, porém, há influência direta do crime organizado, tornando-se primordial uma ação das forças policiais no local.
SEOP, em nota encaminhada ao UOL

Aumento dos custos

Ao UOL, Alexandre Ayres, diretor jurídico e secretário-geral do Sindicarga (Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro), afirma que o roubo de cargas é o maior problema enfrentado pelas empresas.

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Para que você possa fazer um transporte de carga no Rio, as seguradoras exigem que os veículos tenham tecnologia embarcada (câmeras e rastreadores), além de escolta. Muitas nem cobrem a área do Rio. Com isso, o valor dos produtos sobe. Além disso, diversos motoristas não querem trabalhar na região. Eles têm medo de dirigir e ter uma arma apontada para cabeça. Temos muita dificuldade de mão de obra. Os profissionais que já são do Rio topam fazer esse serviço. Os de outros estados, não.
Alexandre Ayres

A logística do crime

A Avenida Brasil, na altura da Comunidade da Maré, a Avenida Washington Luiz e o Arco Metropolitano são os locais preferidos para atuação desses criminosos, segundo o Sindicarga. Os itens são roubados em diferentes regiões e desembarcam direto em Acari e outras feiras livres, como as de Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São Cristóvão.

Ayres afirma que os criminosos têm até um centro de distribuição, onde armazenam produtos roubados e repassam aos vendedores das feiras.

Acari é o centro de vendas desses criminosos. Ali se vende de tudo: alimentos, refrigerante, celular, TV. Temos que lutar contra esses receptadores de carga. Hoje existe uma coisa chamada 'CD do crime' (Centro de Distribuição), que fica dentro da comunidade Nova Holanda. Todo mundo sabe onde é, mas ninguém vai.
Alexandre Ayres

Polícia Civil diz investigar feira em Acari

Em nota, a Polícia Civil disse que tem uma investigação em curso para apurar o comércio ilegal em Acari.

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A comercialização de produtos na feira de Acari é investigada pela Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e pelas delegacias distritais da região, que realizam constantes trocas de informações de inteligência. Os agentes apuram a origem dos produtos, bem como a relação de criminosos com o comércio. A Polícia Civil tem investigações em curso com o objetivo de identificar os envolvidos e de desmantelar os grupos criminosos atuantes nas regiões com maior incidência de roubos de cargas e de venda de mercadorias roubadas. Diligências seguem para identificar e responsabilizar criminalmente todos os envolvidos em atividades delituosas.
Polícia Civil do RJ

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