Homem negro preso injustamente por dois anos será indenizado em R$ 150 mil
Depois de ficar preso injustamente durante mais de dois anos, um homem negro conseguiu uma decisão que lhe dará indenização de R$ 150 mil pelo erro do Judiciário.
O que aconteceu?
A 16ª Vara de Fazenda Pública condenou o Estado de São Paulo a indenizar o analista de pricing Vinícius Vilas Boas, 37 anos, que, injustamente, ficou preso sob a falsa acusação de assalto.
Além da indenização, o governo deverá pagar um salário mínimo a Vinícius durante o mesmo período em que ele ficou detido.
Houve erro judiciário que levou à condenação do autor em processo criminal e, em razão disso, o requerente permaneceu preso por mais de dois anos."
Patrícia Persicano, juíza
"A prisão indevida não decorreu de ato do demandante, mas de falha no serviço judiciário", avaliou a juíza. "A prisão fruto de erro causa dano moral à pessoa presa. O sofrimento por ela experimentado é inegável e independe de demonstração."
Vinícius foi condenado a 9 anos de prisão. Recorreu: o tribunal baixou a pena para 7 anos de detenção.
Ele foi preso em agosto de 2017 e ficou detido até outubro de 2019.
Em 2022, Vinícius ajuizou uma revisão criminal. As provas foram anuladas e ele foi absolvido. O desembargador-relator Marcelo Semer destacou que Vinícius sequer tinha histórico criminal, ao contrário do que foi alegado inicialmente.
Não há indícios nos autos que confirmem que o peticionário tivesse qualquer envolvimento prévio com o cometimento de delitos, nem foi apresentada razão para que fosse 'conhecido dos meios policiais'."
Marcelo Semer, desembargador
Imagens de câmera não eram do dia do crime
A Polícia Civil de José Bonifácio (SP), a 480 km a oeste de São Paulo, investigava um assalto ocorrido em uma residência da cidade em 17 de fevereiro de 2006 e um furto no dia 24.
Numa das casas, os verdadeiros assaltantes roubaram dinheiro vivo, celular, cordão e joias, um prejuízo de pouco mais de R$ 2 mil.
Para embasar a investigação, usaram imagens de câmera de segurança gravadas depois que o primeiro crime tinha acontecido, em 23 de fevereiro. Nas imagens com data errada, apareceria Vinícius.
As vítimas reconheceram o analista por meio de fotografias mesmo em imagens com boné, óculos escuros e sombra no rosto. A defesa questionou a divergência na pessoa da foto com Vinícius. "Mas mesmo assim foi preso", narra a juíza Patrícia Persicano.
Enquanto estava detido, seus advogados tentaram produzir provas de sua inocência e também do verdadeiro criminoso que assaltou a residência.
Na revisão criminal, foi anexado o depoimento da testemunha Sulivan Sant'ana dizendo que o verdadeiro assaltante era Alexandre Kaique:
Ai infelizmente eu não achei justo eu saber quem tinha feito o delito e uma pessoa que não tinha nada a ver estar sendo prejudicada (...) Eu tive uma conversa com o [Alexandre] Kaique, e o Kaique de automático se confessou pra mim"
Sulivan Sant'ana, testemunha
Fora da cadeia, Vinícius não conseguia mais emprego.
Os alegados erros nos processos trouxeram a ele inúmeros dissabores e que, após sua soltura, não conseguia trabalho com vínculo formal, inclusive em aplicativos de entrega e de transporte, em razão de constar registro criminal em seu nome; o patrimônio da família foi dilapidado nesse período."
Patrícia Persicano, juíza
15 comentários
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Ernesto Freire Pichler
A indenização deveria ter um zero a mais.
Mauricio Miranda Pinheiro
indenizaçãozinha mequetrefe que não deve ser nem mesmo um salário (com todos os beneficios) de um juiz ou desembagador que errou no caso. tem que ser exposto quem errou e haver punição séria para uma coisas dessas. o cara perdeu 2 anos da vida dele e será que ele conseguirá se reestabelecer direito? os valores de indenização ficam pra trás quando você precisa descontar honorários de advogado e todas as contas que ele deve ter recebido nesse período sem poder trabalhar. como saber se o valor cobrirá todo o dano e ajudará ele a se reerguer? é impressionante esse país.
Wilson Luiz Plaza
Menos de 200,00 reais por dia de prisão. Quando a justiça se professa justa, comete outra injustiça.