'Mexe em ferida': viúva teme redução de pena a militares que deram 82 tiros

A viúva do músico Evaldo Rosa, que morreu após militares dispararem 82 tiros contra o carro da família, se diz incomodada com uma possível redução na pena dos envolvidos no crime — eles ficaram presos por 90 dias e recorrem em liberdade.

O que aconteceu

"É mexer na ferida que está quietinha e é aberta novamente", declara Luciana Nogueira, 46. "Tudo que escuto ou vejo mexe muito comigo, porque é voltar lá atrás, relembrar tudo de novo e voltar àquela cena. Isso me causa muita ansiedade e muita tristeza também."

"Da Justiça eu já não espero nada", diz Dayana Fernandes, 32. Ela é a viúva do catador de latas Luciano Macedo, que também foi morto pelos militares. "E nem me surpreende. O que eles fizerem com o Luciano vai ficar por isso mesmo. Eu já sabia que nada seria feito", acrescenta. A filha de Dayana e Luciano tem 4 anos hoje.

Dois dos 15 ministros do STM votaram pela redução das penas. O Supremo Tribunal Militar começou a julgar ontem o recurso dos oito militares condenados no caso de Evaldo e Luciano.

Um dos réus pode ter pena reduzida em 28 anos. A sentença de um dos militares reduziria de 31 anos e seis meses para três anos e sete meses.

Uma terceira ministra pediu vista do caso, por isso, o julgamento foi suspenso. Caso aconteceu em abril de 2019, na zona norte do Rio.

Apesar de apenas dois dos 15 ministros terem votado, Luciana se diz sem esperanças. "Como é votado por eles, acredito que os ministros vão querer apaziguar. O sentimento é de que a justiça é falha", disse a viúva do músico. Ela conta que faz acompanhamento psicológico e psiquiátrico com o filho, que hoje tem 12 anos (ele tinha 7 na ocasião).

A viúva diz que não se surpreendeu com o voto dos dois ministros, porém, esperava que eles mantivessem a pena. "Eles são pais de família, como meu esposo era", afirma Luciana, que acompanhou remotamente o julgamento.

O advogado da viúva, André Perecmanis, espera que as penas não sejam reduzidas. "Vemos o julgamento com muita preocupação, sem dúvida nenhuma, mas ainda temos esperança e confiamos que isso (a redução das penas) possa ser revertido. Obviamente as famílias estão destruídas como tudo isso", disse a defesa à reportagem.

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Como foram os assassinatos

Evaldo e Luciano foram mortos na região da Vila Militar. A família do músico estavam em um carro que passou a ser alvejado por dezenas de disparos efetuados pelos militares.

Cinco pessoas estavam dentro do veículo, a caminho de um chá de bebê. O padastro de Luciana, Sérgio Gonçalves de Araújo, foi atingido de raspão. Luciana, o filho e uma amiga da família não foram atingidos.

O catador de latas viu a cena e tentou ajudar, mas também acabou sendo baleado. Luciano foi socorrido, mas morreu 11 dias após o crime.

As condenações na Justiça Militar

Militares foram condenados em 2021 pela Justiça Militar a penas que variam de 28 a 31 anos em regime fechado por homicídio qualificado. Após esse julgamento, eles recorreram ao STM.

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O tenente Ítalo da Silva Nunes Romualdo teve a pena mais alta em 2021, pois era o militar mais antigo e o comandante do grupo de combate. Ele foi condenado a 31 anos e 6 meses de reclusão; os outros sete militares, a 28 anos de reclusão. São eles: Fabio Henrique Souza Braz da Silva, Gabriel Christian Honorato, Gabriel da Silva de Barros Lins, João Lucas da Costa Gonçalo, Leonardo de Oliveira de Souza, Marlon Conceição da Silva e Matheus Santanna Claudino.

Quatro foram absolvidos porque o exame residuográfico indicou que eles não teriam atirado. São eles: Cabo Paulo Henrique Araújo Leite, Soldado Wilian Patrick Pinto Nascimento, soldado Vitor Borges de Oliveira e soldado Leonardo Delfino Costa.

Outro lado: Procurado, o advogado dos militares, Rodrigo Rocca, disse que não comentaria o processo "que se encontra em pleno julgamento".

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