'Mexe em ferida': viúva teme redução de pena a militares que deram 82 tiros
![Luciana Nogueira, viúva do músico Evaldo, morto em 2019 por 12 militares em Guadalupe, no Rio Luciana Nogueira, viúva do músico Evaldo, morto em 2019 por 12 militares em Guadalupe, no Rio](https://conteudo.imguol.com.br/c/tab/1f/2021/10/15/luciana-nogueira-viuva-do-musico-evaldo-morto-em-2019-por-12-militares-em-guadalupe-no-rio-1634300035798_v2_900x506.jpg)
A viúva do músico Evaldo Rosa, que morreu após militares dispararem 82 tiros contra o carro da família, se diz incomodada com uma possível redução na pena dos envolvidos no crime — eles ficaram presos por 90 dias e recorrem em liberdade.
O que aconteceu
"É mexer na ferida que está quietinha e é aberta novamente", declara Luciana Nogueira, 46. "Tudo que escuto ou vejo mexe muito comigo, porque é voltar lá atrás, relembrar tudo de novo e voltar àquela cena. Isso me causa muita ansiedade e muita tristeza também."
"Da Justiça eu já não espero nada", diz Dayana Fernandes, 32. Ela é a viúva do catador de latas Luciano Macedo, que também foi morto pelos militares. "E nem me surpreende. O que eles fizerem com o Luciano vai ficar por isso mesmo. Eu já sabia que nada seria feito", acrescenta. A filha de Dayana e Luciano tem 4 anos hoje.
Dois dos 15 ministros do STM votaram pela redução das penas. O Supremo Tribunal Militar começou a julgar ontem o recurso dos oito militares condenados no caso de Evaldo e Luciano.
Um dos réus pode ter pena reduzida em 28 anos. A sentença de um dos militares reduziria de 31 anos e seis meses para três anos e sete meses.
Uma terceira ministra pediu vista do caso, por isso, o julgamento foi suspenso. Caso aconteceu em abril de 2019, na zona norte do Rio.
Apesar de apenas dois dos 15 ministros terem votado, Luciana se diz sem esperanças. "Como é votado por eles, acredito que os ministros vão querer apaziguar. O sentimento é de que a justiça é falha", disse a viúva do músico. Ela conta que faz acompanhamento psicológico e psiquiátrico com o filho, que hoje tem 12 anos (ele tinha 7 na ocasião).
A viúva diz que não se surpreendeu com o voto dos dois ministros, porém, esperava que eles mantivessem a pena. "Eles são pais de família, como meu esposo era", afirma Luciana, que acompanhou remotamente o julgamento.
O advogado da viúva, André Perecmanis, espera que as penas não sejam reduzidas. "Vemos o julgamento com muita preocupação, sem dúvida nenhuma, mas ainda temos esperança e confiamos que isso (a redução das penas) possa ser revertido. Obviamente as famílias estão destruídas como tudo isso", disse a defesa à reportagem.
Como foram os assassinatos
Evaldo e Luciano foram mortos na região da Vila Militar. A família do músico estavam em um carro que passou a ser alvejado por dezenas de disparos efetuados pelos militares.
Cinco pessoas estavam dentro do veículo, a caminho de um chá de bebê. O padastro de Luciana, Sérgio Gonçalves de Araújo, foi atingido de raspão. Luciana, o filho e uma amiga da família não foram atingidos.
O catador de latas viu a cena e tentou ajudar, mas também acabou sendo baleado. Luciano foi socorrido, mas morreu 11 dias após o crime.
As condenações na Justiça Militar
Militares foram condenados em 2021 pela Justiça Militar a penas que variam de 28 a 31 anos em regime fechado por homicídio qualificado. Após esse julgamento, eles recorreram ao STM.
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Quero receberO tenente Ítalo da Silva Nunes Romualdo teve a pena mais alta em 2021, pois era o militar mais antigo e o comandante do grupo de combate. Ele foi condenado a 31 anos e 6 meses de reclusão; os outros sete militares, a 28 anos de reclusão. São eles: Fabio Henrique Souza Braz da Silva, Gabriel Christian Honorato, Gabriel da Silva de Barros Lins, João Lucas da Costa Gonçalo, Leonardo de Oliveira de Souza, Marlon Conceição da Silva e Matheus Santanna Claudino.
Quatro foram absolvidos porque o exame residuográfico indicou que eles não teriam atirado. São eles: Cabo Paulo Henrique Araújo Leite, Soldado Wilian Patrick Pinto Nascimento, soldado Vitor Borges de Oliveira e soldado Leonardo Delfino Costa.
Outro lado: Procurado, o advogado dos militares, Rodrigo Rocca, disse que não comentaria o processo "que se encontra em pleno julgamento".
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