Mordidas de piranhas: o que atrai tantos os peixes e onde eles são achados
Maurício Businari
Colaboração para o UOL*
05/03/2024 04h00
Os ataques de piranhas a banhistas em uma prainha em Pereira Barreto, no interior de São Paulo, além dos incidentes ocorridos em açudes da região centro-sul do Ceará, levantaram um alerta entre os banhistas que procuram as praias de água doce do país durante o verão. Mas, afinal, por que as piranhas atacam as pessoas?
O que se sabe
Acidentes envolvendo piranhas no Brasil são mais comuns do que se imagina. Apesar de sua distribuição ser mais conhecida na região amazônica, há várias espécies vivendo em rios e açudes das regiões Sul e Sudeste, como no município de Pereira Barreto, onde ocorreram os últimos ataques.
Além de comuns nas mais diversas regiões do país, os acidentes envolvendo piranhas vêm ocorrendo com cada vez mais frequência, explica o professor e pesquisador da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), Marcelo Ândrade, ictiologista (especialista em peixes).
As piranhas têm uma distribuição neotropical, que abrange toda a América do Sul. Esse tipo de peixe não migra por longas distâncias, então as piranhas que surgiram no interior de São Paulo devem ser nativas do local. O que acontece, segundo o especialista, é que nesta época do ano elas migram de locais mais reservados dos rios, atraídas pela presença de banhistas.
Mas isso não quer dizer que elas queiram morder os banhistas. Na verdade, o que acontece é que as piranhas se sentem atraídas por algo que os banhistas trazem e não se dão conta, que são alimentos. Os restos de comida trazidos pelas pessoas caem na água e atraem pequenos peixes e crustáceos, esses sim vistos como refeições pelas piranhas.
Marcelo Ândrade, professor e pesquisador da UFMA
Segundo o Corpo de Bombeiros de Pereira Barreto, os ataques de piranha geralmente ocorrem durante o período da "piracema", que é a época de reprodução dos peixes. O propósito desses ataques, na opinião dos bombeiros, seria proteger os ovos e filhotes contra possíveis predadores maiores.
O pesquisador, no entanto, não acredita que a razão dos ataques seja propriamente a guarda dos ninhos, pois geralmente as piranhas escolhem locais mais afastados e com menos movimentação na água para liberar os ovos.
Como os ataques estão ocorrendo em áreas mais abertas, a probabilidade de estarem sendo atraídas pelas atividades humanas, como deixar cair, ou descartar mesmo, sobras de alimentos na água, é muito maior. Existe a possibilidade de ataque pela guarda dos ninhos, mas, na minha opinião, em áreas mais reservadas.
Marcelo Ândrade, professor e pesquisador da UFMA
Uma forma de evitar os ataques de peixes carnívoros no topo da cadeia alimentar, como as piranhas, é deixando de levar alimentos para as prainhas, na beira dos rios e açudes. Afinal, elas são animais que "comem de tudo", diz o especialista.
Peixes estão na base da dieta delas, mas também pequenos roedores, aves, lagartos, cobras, fazem parte do "cardápio". Quando as piranhas saem à procura de presas, atraídas por esses restos de comida, encontram os humanos. E acabam mordendo mãos e pés das pessoas, pensando serem presas.
O Corpo de Bombeiros de Pereira Barreto ainda recomenda que os banhistas evitem áreas com águas calmas e turvas, assim como locais com vegetação nas margens do rio, principalmente em locais com histórico de ferimentos por este animal.
Muito provavelmente as piranhas encontradas no interior de São Paulo são do gênero Serrasalmus, do qual fazem parte a piranha-branca e a piranha-preta, diz o especialista. Outra possibilidade é que as espécies envolvidas nos acidentes pertençam ao gênero Pygocentros, do qual faz parte a mais temida e famosa das piranhas: a piranha-vermelha (Pygocentrus piraya).
A reprodução das piranhas-vermelhas é considerada sazonal e concentrada nos períodos de enchente correspondentes aos meses de dezembro a maio. Os ovos dessa espécie são grandes, podendo chegar a 2,3 mm de diâmetro. Eles levam cerca de 10 dias para eclodir após serem colocados, geralmente em raízes de árvores submersas. Os ovos se fixam à planta e são cuidadosamente observados, mostrando cuidado parental.
Quando adultas, as piranhas-vermelhas podem chegar a 50 centímetros de comprimento e seu peso máximo é de aproximadamente 3,9 quilos.
O que dizem as autoridades
Entre sábado e domingo, foram registrados 15 incidentes envolvendo piranhas no município de Pereira Barreto, segundo a Prefeitura. Nenhum deles foi classificado como grave.
A prefeitura informou que, devido aos recentes ataques na praia Pôr do Sol, o local permanecerá fechado aos banhistas. Já a Secretaria de Turismo disse que uma "limpeza" será feita no local. Após os ataques, a praia foi sinalizada com placas provisórias para evitar que os banhistas entrem na água. Placas definitivas já estão sendo confeccionadas para serem instaladas no local.
Em caso de um incidente, é crucial sair imediatamente da água e procurar assistência médica. Embora as piranhas não liberem toxinas, as mordidas podem causar inflamações que devem ser tratadas prontamente.
Como é a praia Pôr do Sol
É uma praia artificial situada à margem direita do Rio Tietê no reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Irmãos e é uma principais atrações de Pereira Barreto. Segundo a prefeitura, suas águas limpas e cristalinas atraem banhistas de toda a região.
A praia ganhou o nome de Pôr do Sol pelo visual exuberante de suas tardes. São 328 metros de praia, um dos principais pontos turísticos da cidade.
*Com informações da Agência Estado