Extradição de Battisti e anos de voo: quem eram os mortos em queda de avião
Colaboração para o UOL
07/03/2024 14h04
Os dois agentes da Polícia Federal do Distrito Federal que morreram após a queda de um avião monomotor em Minas Gerais, na tarde de ontem (6), eram comandantes de aeronave e trabalhavam na Coordenação de Aviação Operacional da Polícia Federal, em Brasília.
O que se sabe
José de Moraes Neto, 50, e Guilherme de Almeida Irber, 44, morreram carbonizados após a queda de um Cessna Grand Caravan 208B no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Um terceiro ocupante da aeronave, o mecânico Walter Luís Martins, foi socorrido com vida e encaminhado ao hospital João XXIII.
Em postagens publicadas nas redes sociais, amigos dos comandantes comentaram que os dois estavam na capital mineira para renovar as carteiras de piloto. Sobre José de Moraes, há poucas informações disponíveis, ele se mantinha longe das redes sociais. Sabe-se que ele atuava como policial federal há 28 anos e deixa a esposa e dois filhos.
Guilherme de Almeida Irber estudou no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), e se mudou para Brasília em 1995. Ele era graduado em Engenharia Aeronáutica pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos, São Paulo e se mudou para Brasília em 1995. Em 2021, retornou ao ITA para concluir uma pós-graduação em segurança de voo.
Ele havia participado de várias missões de extradição de presos com condenações no Brasil. Irber esteve, por exemplo, na equipe que executou a busca do italiano Cesare Battisti, da Bolívia, para o Brasil, em janeiro de 2019. Posteriormente Battisti, condenado à prisão perpétua em 1993 sob a acusação de ter cometido quatro assassinatos na Itália nos anos 1970, foi extraditado para seu país de origem.
Irber participou de pelo menos quatro treinamentos de voo e simulação de diversos modelos de aeronaves entre 2021 e 2023. Um desses treinamentos ocorreu em maio de 2021, nos Estados Unidos, em um modelo semelhante ao que caiu no acesso ao aeroporto da Pampulha, na capital mineira.
Seu primeiro voo solo foi realizado em setembro de 2011, em um modelo Aero Boero AB115 PP-GAF. Em setembro deste ano, Irber completaria 13 anos como piloto. Em 2020, esteve em terras protegidas pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), onde realizou tarefas voando nos céus da Amazônia.
Além de sua dedicação ao trabalho, Guilherme nutria uma paixão por viagens. Em suas redes sociais, compartilhava fotos de suas aventuras ao redor do globo, mantendo amigos e familiares atualizados sobre seus treinamentos em simuladores de voo e até mesmo as rotas aéreas que percorria.
Ele visitou dezenas de países, como EUA, Rússia, China e até o Vietnã, onde esteve em 2017, para conhecer a antiga base dos vietcongues, na selva do Iron Triangle, a 60 quilômetros de Saigon.
O palestrante Rafael Mota era afilhado de casamento de Irber. Ele lamentou a morte do amigo nas redes sociais, dizendo que ele era "daquelas pessoas que a gente sabe que pode contar nas horas difíceis". Na opinião de Mota, o comandante partiu fazendo o que mais gostava: pilotar.
A dor da perda é enorme, mas o que me conforta é saber que ele perseguiu com afinco seu grande sonho: pilotar aeronaves. Trabalhou duro, usou todas as suas economias para bancar o curso e horas de voo durante alguns anos, e conseguiu.
Rafael Mota, palestrante
O acidente
O avião da PF que caiu logo após decolar no aeroporto da Pampulha, na tarde de quarta-feira, foi fabricado em 2001, tinha capacidade total de 11 pessoas, sendo dois tripulantes e nove passageiros. A aeronave foi adquirida em novembro de 2001 e, segundo a FAB, estava em situação normal de aeronavegabilidade.
Além dos dois policiais que morreram, o mecânico de uma empresa terceirizada, identificado como Walter Luís Martins, foi socorrido e encaminhado ao hospital João XXIII, em Belo Horizonte, e encontra-se estável.
Hoje a Polícia Federal, que decretou luto oficial de três dias, realiza os trabalhos de perícia para a coleta de evidências, que vão auxiliar na investigação das causas do acidente - que está sendo investigado também pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Com o acidente no aeroporto da Pampulha, o avião que levou o governador Romeu Zema (Novo) para Brasília, onde ele se reuniu com o presidente Luiz Lula da Silva, atrasou cerca de 30 minutos para decolar. A situação no aeroporto foi normalizada, já que o acidente não ocorreu na pista.
*Com informações da Agência Estado