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Infiltrado não atuou em gabinetes do PSOL, diz chefe de diretório no Rio

Marielle Franco no plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro Imagem: Foto: Renan Olaz/CMRJ

Do UOL, no Rio

26/03/2024 17h58Atualizada em 26/03/2024 19h12

Apontado pela PF como agente infiltrado dos irmãos Brazão dentro do PSOL, Laerte Silva de Lima não desempenhou funções dentro do partido nem nos gabinetes de políticos ligados à sigla, segundo Juan Leal, presidente do diretório municipal no Rio.

O que aconteceu

Não há fotos ou outros registros de participação de Lima — filiado entre 2017 e 2020 em atividades realizadas pelo PSOL. Leal diz ainda não haver controle de quem participa eventos abertos, voltados a pessoas não filiadas à legenda. O presidente do PSOL no Rio afirma também que Lima nunca fez doações de campanha à sigla.

PSOL foi informado sobre vínculo de infiltrado com a milícia antes da desfiliação. Durante os preparativos para a Operação Intocáveis (realizada em 2019), a Polícia Civil do Rio informou ao partido sobre a situação e pediu que a legenda não fizesse movimentações em relação a Lima para não despertar suspeitas.

Após Operação Intocáveis, PSOL desfiliou Lima. O processo foi concluído em dezembro de 2020 pelo diretório nacional, como é de praxe em situações do tipo. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa de Lima no caso.

Quem é Lima?

Lima foi escolhido pelos irmãos Brazão, segundo a PF, para monitorar os passos de Marielle. A decisão foi tomada no segundo semestre de 2017, quando o homicídio começou a ser planejado. A vereadora e o motorista Anderson Gomes foram mortos em março de 2018.

Ele repassava informações, de acordo com a PF, para Edmilson Macalé e Ronnie Lessa, acusado de ter assassinado a vereadora a mando dos Brazão — o que os irmãos negam. Ainda conforme a PF, o delegado Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil do RJ, tinha garantido a impunidade aos assassinos — sua defesa diz que a acusação é 'fantasiosa'. A Polícia Civil não se manifestou até a publicação deste texto.

A participação de Lima foi crucial para a morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes, segundo a investigação. Conforme a PF, ele contou aos irmãos Brazão que a vereadora era contrária ao desejo deles de destinar uma área da cidade à exploração imobiliária."[A infiltração] resultou na indicação de que Marielle pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia", revela trecho do relatório policial sobre o papel de Lima.

Infiltrado foi preso em flagrante em 2019. Na ocasião, policiais encontraram uma pistola carregada com número de série raspado em seu apartamento — o que deu origem a um processo com documentação disponível para consulta no site do Tribunal de Justiça do Rio. A situação lhe rendeu em 2020 uma condenação de três anos de prisão, segundo a assessoria do tribunal.

Denúncia do Ministério Público do Rio apontou posteriormente ligação de Lima com a milícia. De acordo com investigações, ele é suspeito de ser ligado, pelo menos desde 2015, à organização criminosa que atua em Rio das Pedras e Muzema, comunidades da zona oeste do Rio.

O que mais se sabe

Presidente do PSOL no Rio diz crer que Marielle foi morta pelo que representava e pelo enfrentamento do partido às milícias na cidade. "Nossa bancada toda sempre foi muito atuante em relação a temas urbanos e é difícil dizer que ela era mais atuante em relação a esse tema do que outros vereadores",afirmou.

Para Leal, monitoramento de outras figuras ligadas ao partido ratifica essa tese. De acordo com a Polícia Federal, o PM Ronnie Lessa fez consultas relacionadas a Isadora Freixo (filha do hoje deputado federal Marcelo Freixo), ao ex-vereador Renato Cinco e ao deputado federal Chico Alencar.

Oposição a interesses dos irmãos Brazão não era feita só pelo PSOL. Em discurso na tribuna da Câmara Municipal nesta terça (26), o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) lembrou que Fernando William (vereador do PDT que morreu de covid-19 em 2021) foi um dos que mais brigaram contra o Projeto de Lei Complementar 174, de 2016.

Marielle tinha adversário na Câmara, mas nunca deixou passar a impressão de que tivesse inimigos. Muitas das respostas trazidas a público no último domingo são estarrecedoras
Paulo Pinheiro, vereador pelo PSOL

O PLC 174/2016 era de autoria do então vereador Chiquinho Brazão (MDB). O texto flexibilizava exigências para regularizar imóveis na cidade, com exceção do centro e da zona sul — áreas sem presença de milícias. Segundo a Polícia Federal, aprovar o texto era prioridade para Chiquinho.

Marielle e o PSOL se posicionaram contra a medida. No entendimento da vereadora, o texto não atendia "áreas carentes", mas loteamentos e condomínios de classe média e alta em regiões controladas por milícias. Apesar da oposição, o texto foi aprovado em 23 de novembro de 2017, com 27 votos — apenas um a mais do que o mínimo necessário, o que enfureceu Chiquinho e foi, segundo a PF, um dos motivos para que ele e os irmãos encomendassem a morte de Marielle.

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