'Escolheram boa semana para malhar Judas', diz advogado de Domingos Brazão
Ubiratan Guedes, advogado que representa Domingos Brazão no caso Marielle, ironizou o relatório produzido pela Polícia Federal que aponta seu cliente como mandante da morte da vereadora e disse que a investigação criou "uma situação jurídica inacreditável".
Eles foram coerentes e escolheram uma boa semana para malhar Judas. Mas criaram uma situação jurídica inacreditável
Ubiratan Guedes, advogado de Domingos Brazão
O que aconteceu
Delação de suposto assassino "não tem valor probatório", diz Guedes. O ex-PM Ronnie Lessa está preso há cinco anos e condenado a 60 anos de detenção por outros crimes. Isso faz com que as vantagens oferecidas a ele, em troca de delação, gerem relatos distorcidos de sua parte sobre os fatos ocorridos, segundo o advogado.
O relatório da Polícia Federal cruza delação de Lessa com dados levantados por meio de investigação. O documento aponta supostas ligações de Domingos e seus irmãos com esquemas de grilagem e invasão de terras, entre outros crimes. Esse é um dos fatores que teriam levado a família a encomendar a morte de Marielle.
A investigação localizou, por exemplo, nove telefonemas de Domingos a um suposto miliciano. Conhecido como Fininho, o ex-PM Marcus Vinicius Reis dos Santos é apontado pela Polícia Federal como a ligação do ex-deputado estadual com o grupo criminoso que controla a favela de Rio das Pedras, na zona oeste.
Procurada, a Polícia Federal não se posicionou em relação às críticas feitas pelo advogado até a publicação deste texto.
Advogado: "O maior absurdo foi a prisão"
Segundo advogado, a Polícia Federal não reuniu elementos que justificassem a prisão de Domingos. "Não há nada que indique que ele estivesse atrapalhando as investigações, como foi argumentado para justificar a prisão. Por isso, essa situação vai contra o previsto pelo Código de Processo Legal", disse Guedes.
Defesa de Domingos nega animosidade dos Brazão com PSOL. O atrito foi um dos motivos elencados para a morte da vereadora, de acordo com a PF.A divergência estaria ligada ao voto de Marielle contra a nomeação de Domingos, então deputado estadual, para o Tribunal de Contas do Estado, em 2015, e à movimentação do partido por ocasião da operação Quinto do Ouro, em 2017.
Em todos os casos, o Domingos saiu das situações sem ser prejudicado.
Ubiratan Guedes, advogado de Domingos Brazão
"O Ministério Público do Rio produziu um relatório que diz que Domingos não foi mandante", disse o advogado. Guedes não quis confirmar se chamará membros do órgão para depor como testemunhas ao longo do processo. O Ministério Público tocou as investigações em parceria com a Polícia Civil do Rio, que teve um de seus ex-chefes — o delegado Rivaldo Barbosa — preso ontem por suspeita de envolvimento no assassinato de Marielle.
Advogado questionou ainda a ida dos presos para presídios federais. "Os três exerceram cargos públicos, eram figuras conhecidas e não milicianos ou outro tipo de delinquentes contumazes que exigem instalações desse tipo. Será que eles só serviam para a sociedade até anteontem?", questionou o advogado.
Na tarde desta segunda (25), Guedes não tinha conseguido ler as 479 páginas do relatório da Polícia Federal. Ele recebeu a reportagem para uma conversa que durou cerca de uma hora em seu escritório, no centro do Rio.
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