'Perdi uma amiga': morte de sucuri de 6 metros em Bonito causa comoção
Uma sucuri de mais de 6 metros foi encontrada morta no fim de semana nos arredores do Rio Formoso, em Bonito (MS). A causa da morte é investigada pela Polícia Militar Ambiental —e o caso gerou comoção entre pessoas que conhecem o animal há muitos anos e suspeitam de crime ambiental.
O que aconteceu
O fotógrafo e documentarista Cristian Dimitrius lamentou a morte da cobra, que foi batizada de Ana Júlia.
Infelizmente, hoje recebi a notícia de que ela foi morta a tiros e seu corpo encontrado boiando no rio Formoso. Que tristeza, que raiva! Quem teria feito um absurdo destes? Sinto que perdi uma amiga, um membro da família, um ser especial com quem passei muitos momentos especiais juntos. Só digo que isso não vai ficar assim, vamos investigar e ir atrás dessa pessoa. Ela terá de prestar contas à Justiça.
Cristian Dimitrius, documentarista e fotógrafo no Instagram
Com 20 anos de carreira, o fotógrafo diz que a sucuri esteve presente em suas filmagens e fotos há pelo menos uma década em Bonito: "Eu já acompanhava essa sucuri há 10 anos e, depois de algum tempo, a gente começou a perceber as diferenças de cada animal, onde habitavam, onde costumavam aparecer, marcas. Nomeamos uma de Ana Júlia, por causa do nome em inglês anaconda", lembra Dimitrius em entrevista ao UOL.
O documentarista soube da morte após guias de turismo encontrarem a cobra morta em um passeio de bote. Eles tiraram a foto, que chegou até Dimitrius.
Quando vi as marcas, procurei saber e consultei a bióloga [Juliana de Souza Terra] para confirmar se era a mesma serpente e, infelizmente, era a mesma Ana Júlia.
A bióloga Juliana de Souza Terra confirmou ao UOL que a cobra morta é Ana Júlia. Ela está a caminho de Bonito. "Reconheço pela mancha da cabeça, principalmente a lista após o olho, que é grossa, dá uma afinada e forma o padrão de um coração de lado. Era o que individualizava ela. As manchas são individuais, como uma impressão digital."
Morte e investigação
Os relatos levantam a possibilidade de crime ambiental: "A hipótese que temos é que sejam tiros, porque a pessoa que encontrou disse que havia marcas de tiros. [...] Acho possível, porque há duas semanas também mataram uma outra sucuri em outra região de Bonito, cortaram até a cabeça, essa prática tem acontecido lá", diz Dimitrius.
Ele diz acreditar que não foi morte natural, porque ela estava bem da última vez que a viu. "Se foi tiro, a gente precisa encontrar quem fez para que seja punido, porque isso é um crime ambiental inafiançável. Isso precisa ser investigado e servir de exemplo. Muitas vezes as pessoas matam por ignorância e medo de um animal que é inofensivo para a espécie humana, não causa nada."
O documentarista diz que medo e desconhecimento levam pessoas a matarem cobras como essas. "Há muita falta de educação ambiental quanto ao trato e saber lidar com esses animais e precisamos mudar isso urgentemente."
Dimitrius destaca três fatores que tornam a cobra tão importante em vários aspectos: ecologicamente, porque são predadores de topo, regulam a cadeia e indicam se o ecossistema está saudável; economicamente, porque atraem pessoas do mundo inteiro para mergulho em Bonito; e na pesquisa, com cientistas que acompanham estas espécies há anos.
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Quero receberEnquanto estivesse viva, a gente ia continuar admirando, apreciando e divulgando imagens pelo mundo. Essa sucuri, por ser uma das mais famosas do mundo, servia como embaixadora da espécie, levando conhecimento e admiração ao mundo inteiro. Fiz imagens para duas séries que ainda não saíram. Uma para a Netflix e outra para a National Geographic, que vão sair em 2025 e 2026. Por meio dessas imagens, as pessoas vão conhecer mais e, quem sabe, parar de fazer atrocidades como essas. Cristian Dimitrius
A reportagem procurou a Polícia Ambiental Militar de Bonito (MS), que informou ao UOL que uma investigação está em curso. Na tarde desta segunda uma equipe foi ao local onde a cobra foi encontrada. Uma equipe da Polícia Civil deve ser enviada para verificar se há perfuração por arma de fogo.
Estivemos pelo local, onde constatamos que o animal está em estado putrefação (inchaço), dificultando visualizar se houve perfuração proveniente de projétil de arma de fogo. Está na beira do rio.
Tenente Eveny Parrela
Para a ex-secretária municipal de meio ambiente de Bonito, o problema não é a falta de conscientização em si: "Infelizmente não se trata de educação ambiental. Quem faz uma maldade dessas é um criminoso, não é alguém que seria sensibilizado com uma campanha de educação ambiental, por melhor que fosse."
Uma sucuri de mais de 6 metros, como era o caso da Anajulia, vive de forma pacífica nesse ambiente há quase 10 anos, porque se trata de um animal territorialista. Portanto, entendo que quem cometeu esse crime acredita na impunidade e cometeu o ato por pura maldade e sadismo.
Ana Cristina Trevelin, atual Coordenadora de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, da Secretaria Executiva de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul
A prefeitura de Bonito lamentou o ocorrido e disse aguardar a punição dos responsáveis. "Demonstramos total repúdio pelo ocorrido com a sucuri Anajulia em nosso município. A relevância de um animal desse porte nas nossas áreas mostra o quão equilibrado o nosso ambiente está", disse em nota enviada ao Estadão.
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