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Sakamoto: Há quem tenha dó do faminto, mas ache comunismo combater a fome

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/04/2024 14h02

A fome choca as pessoas, mas discutir as causas dela faz com que quem proponha essa discussão seja chamado de comunista, disse o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News da manhã desta quinta-feira (25).

Temos o consenso de que a fome precisa ser combatida. Quando a gente começa a falar das soluções, as pessoas chamam as outras de comunistas. Quando você vai falar de programa de benefícios sociais, as pessoas chamam a pessoa de comunista. Quando as pessoas falam em distribuição, também vai se falar que está querendo atrapalhar a liberdade da produção nacional. É aquela coisa: todo mundo tem dó do faminto, mas quando falamos das causas da fome, é comunismo na veia.

Sakamoto relembrou uma frase de Dom Hélder Câmara.

Ele falava sempre assim: 'Quando eu falo da fome, me chamam de cristão. Quando falo das causas da fome, me chamam de comunista' [...]

Dos 216 milhões de brasileiros, 64 milhões viviam com algum grau de insegurança alimentar em 2023, o que representa 29,6% do total. O número é melhor que o da pesquisa anterior (2017/2018), quando 36,7% da população vivia em insegurança alimentar, mas ainda é maior que os 22,6% registrados em 2013, ano do melhor resultado da série histórica.

Reconhecer a fome é o primeiro passo

Por mais óbvio que pareça, disse o colunista, admitir o problema da fome é primeira medida a ser tomada pelos governos para combatê-la.

A primeira ação para você combater a fome é você reconhecer que o problema existe. Pode parecer idiota, mas isso é uma recomendação da ONU: os governos reconhecerem, de fato, a persistência de fome, a persistência de insegurança alimentar grave e moderada.

Na última gestão, do Jair Bolsonaro, tanto ele quanto o ministro Paulo Guedes, quando questionados e confrontados com relação à fome, negaram a existência. O Bolsonaro, com aquelas frases famosas: 'Você pode ter um probleminha aqui e ali, mas não tem gente na frente de padaria pedindo comida'. A gente via pessoas na frente de padarias, mercados, lanchonetes e feiras livres pedindo comida, porque estavam com fome. Ficaram famosas as cenas de caçambas de lixo sendo reviradas em Fortaleza atrás de resto de mercado.

Por anos, esses programas [sociais] ficaram cambaleando. No Brasil, acabaram tendo um gás apenas por causa da pandemia e pela pressão em cima do governo Jair Bolsonaro para que houvesse auxílio emergencial [...] Houve quatro anos que impactaram a fome no Brasil, e agora está havendo um processo de reconstrução. É um processo lento.

O que aconteceu?

29,6% dos brasileiros viviam com algum grau de insegurança alimentar em 2023. Os dados fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua Segurança Alimentar 2023, divulgada hoje pelo IBGE.

Melhora em relação à pesquisa anterior. O levantamento de 2017/2018 apontou que 36,7% da população vivia em insegurança alimentar,

Houve, no entanto, piora em relação a 2013. Naquele ano, o resultado foi o melhor da série histórica, quando o problema atingia 22,6% da população.

Josias: Fome no Brasil é escárnio; país é um dos maiores produtores de alimento no mundo

O fato do Brasil ser um dos maiores produtores de alimento no mundo faz os dados soarem como um escárnio, criticou o colunista Josias de Souza.

Em condições normais, a fome é um acinte. Considerando que estamos falando de um país como o Brasil, que é um dos maiores produtores de alimento do mundo, é um escárnio. Um levantamento desse do IBGE que nos informa que 27,6% dos lares brasileiros tem algum tipo de restrição alimentar, isso é, de fato, um escárnio, em um país que é um dos maiores produtores de alimento do mundo.

Em uma situação como essa, os responsáveis pelo país, autoridades e políticos com mandato, não ousariam diante de brasileiros famintos em outra forma que não fosse um prato de comida. Vivemos em um país em que as autoridades e os parlamentares aparecem de muitas outras formas. Aparecem brigando em uma polarização que rodopia a esmo há vários anos e aparecem defendendo pautas absurdas, como a proliferação de armas.

O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em duas edições: às 10h com apresentação de Fabíola Cidral e às 17h com Diego Sarza. O programa é sempre ao vivo.

Quando: De segunda a sexta, às 10h e 17h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja a íntegra do programa:

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