Preso por cortar corda de trabalhador foi espancado na prisão, diz defesa
A defesa da família de Raul Pelegrin, 41, preso cortar a corda de um trabalhador que estava pendurado na fachada de um prédio em Curitiba, afirmou que o empresário foi espancado na prisão um dia antes de morrer em um hospital de Piraquara, na região metropolitana da cidade.
O que aconteceu
Histórico de prontuário de Raul na prisão descreve o ocorrido. No documento, obtido pelo UOL, é descrito que, por volta das 12h30 do dia 3 de abril, presos relataram que o empresário estava apanhando de colegas em uma cela na Casa de Custódia de Piraquara. O preso foi retirado do local, encaminhado para a enfermaria e, após avaliação, foi levado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Piraquara.
Registro indica que Raul voltou para a unidade prisional horas depois, no início da noite do dia 3, e foi transferido de cela. No dia seguinte (4 de abril), por volta das 15h30, Raul foi levado e ficou internado no Hospital Angelina Caron, na região metropolitana de Curitiba, após apresentar dificuldades respiratórias. A Polícia Penal do Paraná disse ao UOL que, por volta da 1h30 do dia 5, a Casa de Custódia foi informada sobre o óbito do homem na unidade de saúde, onde estava sob escolta policial.
Defesa da família afirma que preso foi "brutalmente espancado" e diz que setor da prisão negou acesso ao prontuário de Raul. De acordo com o advogado Adriano Bretas, após a recusa, o acesso ao documento foi pedido à Justiça, que aceitou a solicitação.
Bretas afirma que a agressão contra o cliente foi "escondida" da defesa e da família do preso. O advogado diz tomar todas as providências cabíveis e informou que um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte de Raul.
Raul morreu em decorrência de pneumonia e sepse (infecção generalizada), segundo a defesa dele. Após a morte do preso, a defesa explicou ao UOL que também desconhecia a internação do cliente no dia 4 de abril. Os advogados alegam que estiveram com Raul na unidade prisional pouco antes da segunda internação e, posteriormente, se reuniram com o diretor da prisão para falarem sobre a gravidade do estado de saúde do cliente, que aparentava estar muito debilitado na ocasião.
A defesa também comunicou que acionará diferentes órgãos para o esclarecimento das circunstâncias da morte. Entre eles: comissão de direitos humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, o Ministério Público, o Poder Judiciário e a SESP-PR (Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná).
Agressão a Raul é investigada
Depen (Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná) diz que caso está sob investigação das autoridades competentes. Eles informaram que a Corregedoria Geral, responsável pelo procedimento administrativo de apuração do caso, recentemente comunicou sobre a "suposta" ocorrência de agressão contra o preso.
Conselho Administrativo-Disciplinar da prisão onde Raul estava também "trabalha" para responsabilizar os autores das agressões. "Considerando tratar-se de fato ocorrido no interior de cela de custódia, local sem permanente visibilidade dos servidores, todas as pessoas privadas de liberdade recolhidas no ambiente em questão passam a compor as investigações e inquérito policial", informou a Polícia Penal em nota ao UOL.
A reportagem questionou, mas a Polícia Penal não respondeu se procedia à acusação da defesa de que a unidade prisional não avisou a família e os defensores de Raul sobre ele ter sido agredido e socorrido até uma unidade de saúde em 3 de abril.
Relembre o caso
O empresário Raul Pelegrin morreu no Hospital Angelina Caron, na região metropolitana de Curitiba, em 5 de abril. Ele foi preso em flagrante no dia 14 de março e teve a prisão convertida em preventiva (por tempo indeterminado), sendo transferido posteriormente à Casa de Custódia de Piraquara, onde estava desde o dia 27 de março.
Defensores citaram que o preso enfrentava problemas de dependência química havia alguns anos. Raul já teria sido internado compulsoriamente. A defesa pediu, mais de uma vez, a liberdade provisória do preso para interná-lo em uma clínica particular para tratamento especializado, mas as solicitações foram negadas pelo Tribunal de Justiça do Paraná.
O pedido da defesa para que o caso fosse corretamente tratado não com prisão, mas, sim, como um caso de doença que necessita de tratamento, perdeu seu efeito. Raul veio a falecer. Os fatos falam por si. Uma pessoa que era acusada de um crime tentado teve, na falta de sensibilidade, a sua sentença de morte.
Defensores de Raul Pelegrin, em nota ao UOL, no início de abril
Relembre o caso
O caso ocorreu no dia 14 de março. Raul Pelegrin, que residia na cobertura do prédio, no 27º andar, cortou a corda que sustentava o trabalhador que limpava a fachada do edifício. A vítima estava a 18 metros do chão e só não caiu do 6º andar devido ao funcionamento de um dispositivo de segurança que impediu a queda. O prédio fica localizado no bairro Água Verde, em Curitiba (PR).
A Polícia Militar foi acionada para a ocorrência e entrou no prédio com autorização do síndico. Os agentes checaram pelas câmeras de segurança que Raul estava dentro do apartamento e precisaram arrombar a porta da residência. No local, encontraram na sacada a faca que o homem de 41 anos utilizou e a corda cortada.
Além de Raul, a funcionária dele também foi presa por mentir para a polícia. Em nota, a Polícia Civil do Paraná explicou que ela teria dito aos agentes que o morador da cobertura não estaria dentro de casa. Ela foi ouvida e liberada em seguida.
Funcionários do condomínio disseram que já sofreram ameaças de Raul. O morador teria dito que iria cortar todas as cordas de todos os funcionários, caso não se retirassem. As informações constam no boletim de ocorrência.
Trabalhador que teve a corda cortada disse estar abalado e sentiu que ia morrer. "A gente não espera que isso possa acontecer. O sentimento é de tristeza. Poderia ter perdido minha vida ali, sem nem saber o motivo", disse Mayk Gustavo Ribeiro da Silva, 27, ao UOL no fim de março.