Porto Alegre: enchente de 1941 durou 22 dias e deixou 70 mil desabrigados
Colaboração para o UOL
09/05/2024 11h29
As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul afetaram 425 cidades e mudaram a vida de quase 1,5 milhão de pessoas no estado. Em Porto Alegre, o nível do Guaíba ultrapassou a marca da maior enchente desde 1941, quando chegou a 4,76 metros e inundou grande parte do centro da capital gaúcha.
Relembre como foi a enchente de 1941
Até agora, 1941 havia ficado marcado como o ano da pior enchente da história de Porto Alegre. Entre os meses de abril e maio daquele ano, a cidade teve 22 dias de chuvas de maneira ininterrupta.
Na ocasião, as chuvas se distribuíram na chamada bacia hidrográfica da Lagoa dos Patos — que recebe as águas do Guaíba e outros rios do Rio Grande do Sul. Consequentemente, aconteceu a elevação do nível dos rios do estado.
Segundo o museu Joaquim Felizardo, o nível do Guaíba chegou a marca de 4,75 metros — de acordo com a CNN, algumas publicações falam até em 4,76 metros.
Cerca de 70 mil pessoas ficaram desabrigadas. Número equivale a aproximadamente um quarto da população da capital gaúcha na época, que era de 272 mil habitantes. Com as aulas suspensas, as escolas da cidade se transformaram em abrigos.
A arquiteta Elenara Stein Leitão compartilhou com o jornal O Globo uma carta de 1941 escrita por sua mãe, Helena Silva Stein, durante a tragédia. No relato, a então jovem de 16 anos conta detalhes da enchente histórica: "Os trens pararam e o telégrafo interrompeu. Estávamos simplesmente isolados do interior. Cinemas, colégios, Faculdade de Medicina e Direito ficaram cheios de flagelados e o governo sustentando todo o pessoal."
A cidade esteve vários dias às escuras, sem água, sem leite, sem jornal, foi mesmo de assustar!
Carta escrita por Helena Silva Stein publicada pelo jornal O Globo
Cidade ilhada. A enchente atingiu o porto, a estação ferroviária e o aeroporto municipal. Ainda segundo o museu, um dos momentos mais críticos do episódio foi quando a água atingiu a Usina do Gasômetro e deixou Porto Alegre sem luz. Depois do apagão, veio também a interrupção do abastecimento de água.
Barcos se tornaram o principal meio de transporte durante o período. No centro da cidade, no lugar dos automóveis e bondes, barcos e canoas faziam o transporte de pedestres.
Segundo registros da época, um terço dos estabelecimentos comerciais da cidade ficaram embaixo d'água por cerca de 40 dias. De acordo com o Nexo Jornal, os bairros do Centro, Navegantes, Passo D'Areia, Menino Deus e Azenha ficaram entre as áreas mais atingidas.
Situação poderia ter sido pior. Em um artigo científico publicado em 2020, o pesquisador André Luiz Lopes da Silveira, doutor em Ciências da Água no Ambiente Continental e professor da UFRGS, afirmou que a situação poderia ter sido ainda pior.
"Há que se considerar que o Guaíba antes da cheia de 1941 estava com nível d´água baixo, compatível com o normal esperado para abril, desta forma, pode especular que o mesmo evento chuvoso em outra época poderia resultar num coeficiente de escoamento maior, gerando uma cheia ainda maior", escreveu Silveira.
Chuvas entre abril e maio de 1941 no RS. Ainda na pesquisa, ele realizou um levantamento da precipitação registrada nas cidades gaúchas entre 13 de abril e 6 de maio de 1941.
Como enchente mudou a cidade
Muro da Mauá. A enchente histórica trouxe à tona a ideia de construir um muro de proteção para Porto Alegre. Cerca de 30 anos depois do evento, entre 1971 e 1974, foi construído o Muro da Mauá, uma estrutura de concreto de 3 metros de altura e 2,6 km de extensão que faz parte de um sistema de contenção de águas.
Diques. Atualmente, a cidade tem 24 km de diques que margeiam a FreeWay até a Avenida Castelo Branco e seguem pela Avenida Beira Rio; e mais 44 km de diques internos, às margens dos arroios que atravessam a cidade. São 68 km de diques, 14 comportas e 19 casas de bomba, de acordo com a prefeitura de Porto Alegre.
Para a água sair da cidade, o sistema é completado por casas de bombas, canais e comportas. Quando o nível do rio está alto, as bombas jogam a água nos rios.