Cid manteve delação entregando Braga Netto, mas poupou Jair Bolsonaro?
Ainda não sabemos tudo que o tenente-coronel Mauro Cid revelou às autoridades para manter sua delação premiada.
O primeiro relato extraoficial é que ele deu novas informações envolvendo o general Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022. Mas será que conseguiu poupar Jair Bolsonaro (PL)?
Não havia motivos para o ministro Alexandre de Moraes manter o acordo de delação de Cid. A legislação é clara, e o tenente-coronel rompeu as cláusulas do documento que assinou.
Ele era obrigado a contar tudo que sabia sobre os crimes que havia cometido e presenciado, mas deixou de revelar o mais grave: uma trama para matar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e o próprio Moraes.
No caso do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), a tentativa de atentado chegou a ser colocada em marcha.
O plano de assassinato só foi descoberto graças ao trabalho investigativo da Polícia Federal, que encontrou mensagens nos celulares de outros militares envolvidos. Mensagens que também tinham como destinatário Mauro Cid.
Bolsonaro seria o principal beneficiado pelo assassinato de Lula, os criminosos faziam parte do seu entorno e o planejamento, chamado de "Punhal Verde Amarelo", foi impresso no Planalto, num momento em que o então presidente estava no palácio.
A PF já havia concluído que a trama foi urdida na casa do general Braga Netto.
"Se Braga Neto sabia, como Bolsonaro não sabia?", disse ao UOL News o ex-ministro José Dirceu.
Pelo senso comum, é lógico. Mas as evidências criminais ainda estavam frágeis, dizem criminalistas experientes ouvidos pela coluna.
Portanto, cabe a pergunta: será que Cid entregou às autoridades as peças que faltam para colocar Bolsonaro de vez dentro da tentativa de golpe e do plano para matar Lula?
O tenente-coronel tinha muito a perder. Não apenas sua própria liberdade, mas a de sua família. Um dos benefícios de sua delação é que seu pai, o general Mauro Lorena Cid, e sua esposa, Gabriela Cid, não sejam processados.
Fontes próximas à família contaram à coluna o quanto Cid é sensível à aflição dos seus familiares e ao estado de saúde do pai, que chegou a enfrentar uma depressão.
O depoimento de Cid nesta quinta-feira (21) foi tomado pelo próprio Moraes e acompanhado por videoconferência pelo procurador-geral, Paulo Gonet, o que aumenta a expectativa sobre o que ele falou.
É pouco provável que Moraes e Gonet tenham deixado Cid escapar sem entregar Bolsonaro. Se o fizeram e o ex-presidente acabar absolvido, serão cobrados por isso.
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Quero receberAté o depoimento de hoje à tarde, a direita estava muda.
Foi só depois que Cid deixou a sede do Supremo Tribunal Federal (STF) que o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho, veio a público.
Em nota, Marinho disse que o indiciamento de Bolsonaro e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto era "esperado" e "representa sequência a processo de incessante perseguição política".
Também afirmou que espera da PGR mais "independência", "imparcialidade" e "serenidade".
Outro que se manifestou apenas hoje nas redes sociais foi senador e ex-ministro de Bolsonaro, Ciro Nogueira. "Se tem uma coisa que eu tenho certeza, é a inocência de Jair Bolsonaro".
Em seguida, foi a vez de Tarcísio de Freitas (Republicanos). "Há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro que carece de provas", disse o governador paulista sobre seu padrinho político
É interessante observar o "timing" das declarações. Será que receberam alguma dica sobre o que Cid falou ou não falou no depoimento no STF?
A coluna conversou com três dos principais criminalistas do país, que descartam a possibilidade de a PGR pedir a prisão preventiva de Bolsonaro ao fazer a denúncia, que, pelo jeito, só acontece no ano que vem.
Eles afirmam que não enxergam risco de fuga, de obstrução da Justiça ou para a ordem pública. Além disso, o trauma da Lava Jato desaconselharia esse tipo de medida.
Juridicamente, portanto, Bolsonaro vai demorar para ser punido. É preciso observar os próximos dias para entender se vai surgir algum discurso político capaz de dar ao ex-presidente alguma sobrevida.
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