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Repórter no RS: 'Flores que nascem no asfalto' trazem lágrimas aos olhos

A delicadeza da flor tem tanta força que virou poesia. Carlos Drummond escreveu sobre a flor que rompeu a aridez e esterilidade do asfalto. Stéphanie D'Ávila deu hoje outra serventia às flores. Levou minibuquês para mulheres que passaram o Dia das Mães em abrigos de Porto Alegre.

Ela não usou a palavra escrita, mas também fez algo belo. Os minibuquês chegaram inclusive a abrigos femininos, exclusivos para mulheres que temiam ser estupradas em albergues mistos.

Stéphanie achou que o gesto "daria um carlorzinho" no coração das mães. O raciocínio dela é que a luta pela vida embrutece e era preciso um respiro.

Tinha razão.

Stéphanie acertou o coração e a alma dessas mulheres. Foi na minha frente que Melissa e Juli receberam o kit com flores do campo, bombom e uma mensagem.

Juli e a filha ficaram surpresas e felizes em ganhar flores e um bombom no Dia das Mães
Juli e a filha ficaram surpresas e felizes em ganhar flores e um bombom no Dia das Mães Imagem: Felipe Pereira/UOL

Elas não disseram nada, só abraçaram Stéphanie. Era a primeira vez na vida que as duas recebiam flores.

Quatro dias atrás, Melissa estava ilhada, sem ter comida e água para dar aos dois filhos. Hoje, as crianças ganharam bombom.

Drummond escreveu o famoso poema durante a Segunda Guerra Mundial. O texto, na minha interpretação, fala de uma pessoa acorrentada a suas picuinhas e indiferente aos outros seres humanos.

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Escrito entre 1943 e 1945, o poema descreve um mundo e uma sociedade ilógica, sem propósito. Mas o poeta termina dizendo que, ainda assim, uma flor nasceu no asfalto.

E, realmente, as flores nascem. Mesmo em ambientes estéreis e inapropriados, elas dão um jeito. Foi assim com Stéphanie.

Ela ficou tão emocionada ao ser voluntária na linha de frente que não conseguiu voltar no outro dia. Faz todo sentido. Stéphanie tem tanta sensibilidade que percebeu que as pessoas têm necessidade que vão além da ajuda material.

A felicidade não é um evento permanente, contínuo. É feita de momentos. Com tantos problemas no mundo, quem é feliz o tempo todo é avoado ou iludido

Mas, com uma flor, Stéphanie mostrou que a infelicidade também não é definitiva. Acredite, todo mundo que estava perto teve vontade de chorar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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