Babalorixá rebate fakes sobre inundação: 'Botar a culpa na macumba é fácil'
O babalorixá Pai Rodney rebateu durante o UOL News desta segunda-feira as desinformações sobre as inundações no Rio Grande do Sul em que intolerantes religiosos estavam "culpando" religiões de matrizes africanas pela tragédia das chuvas.
Ele diz que é fácil "botar a culpa na macumba" ao invés de olhar na raíz do problema. A influenciadora cristã Michele Dias Abreu havia feito um vídeo no Instagram culpabilizando a "macumba".
É uma pena. O racismo realmente não dá trégua. Temos que estar atentos, fortes e combativos o tempo todo. É realmente lamentável que uma pessoa faça esse tipo de declaração. Sobretudo porque não assumem a responsabilidade sobre aquilo que pode acontecer a partir daquilo que as pessoas podem influenciar com essas mentiras, calúnias em relação as religiões de matrizes africanas. Pai Rodney, babalorixá e doutor em Ciências Sociais
Botar a culpa na macumba é muito fácil, quero ver realmente os governantes assumirem as suas responsabilidades e, principalmente, a humanidade saber o que tem que ser feito daqui em diante, para que a gente não venha a sofrer com questões ainda mais graves em relação ao aquecimento global e tantas outras tragédias ligadas à natureza, mas também ligadas à intervenção do ser humano na natureza. É sobre isso que a gente precisa falar e não acusar as religiões de matrizes africanas que já vêm sofrendo nesse processo de perseguição e intolerância há séculos. Pai Rodney, babalorixá e doutor em Ciências Sociais
O pai de santo Rodney relembra o processo de embranquecimento da população como projeto de Estado no Brasil nos séculos 19 e 20 e, consequentemente, acentuação do racismo.
É muito importante que a gente pense no deslocamento que deve ser feito no conceito de intolerância religiosa para o conceito de racismo religioso. Pai Rodney, babalorixá e doutor em Ciências Sociais
Afinal de contas, são as religiões de matrizes africanas que são acusadas nesse caso, e a gente volta um projeto antigo do governo brasileiro, nos anos 30 e 40, sobretudo naquele processo da ditadura do Vargas, era uma política de estado branquear a população. Se julgava que a presença negra era um impeditivo para o desenvolvimento do país. Temos um velho problema, mas com uma roupagem nova, ou seja, mudam os cenários, os personagens, mas continuamos enfrentando exatamente a mesma coisa. Pai Rodney, babalorixá e doutor em Ciências Sociais
O babalorixá também ressalta a ligação das religiões de matrizes africanas como o candomblé e umbanda com a natureza e o que podemos aprender com isso.
A gente precisa aprender a respeitar a natureza e as religiões de matrizes africanas sempre foram religiões conectadas com a natureza, um respeito profundo. Talvez o Brasil precise aprender um pouco mais com as religiões de matrizes africanas, sobretudo viver integrados com a natureza e não desmatar sem nenhum critério, fazendo que tudo seja destruído colocando asfalto, impermeabilizando chão e a gente não tem muito o que fazer quando uma tragédia dessa acontece. E acaba resvalando nas pessoas que mais precisam, mais pobres e, obviamente, na população negra. Pai Rodney, babalorixá e doutor em Ciências Sociais
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