Enchente no RS: casal deixa casa própria e vai para alugada com doações
O casal de cabeleireiros Wagner Xavier e Alan Lampert, ambos de 34 anos, vivia e trabalhava no mesmo local, à beira do rio Paranhana, no município gaúcho de Igrejinha, na região metropolitana de Porto Alegre.
Depois de o rio Paranhana subir duas vezes em uma semana durante as enchentes que acometem mais de 90% dos municípios do Rio Grande do Sul no último mês, o casal decidiu deixar o imóvel próprio para viver de aluguel.
"Eu moro aqui desde sempre, desde que eu nasci", disse à reportagem Lampert, no caminhão de mudanças, prestes a partir para a nova residência, na tarde deste sábado (18).
Eles decidiram permanecer no mesmo bairro — mas em um local mais alto, onde a enchente não devastou o que encontrou pela frente, a exemplo da beira do rio.
"O salão, a gente vai continuar aqui, mas a casa não tem mais condições, porque a casa ficou comprometida. Daí a gente decidiu se mudar", afirmou Xavier.
É horrível, né? Como eu sempre morei aqui, a gente não sabe nem o que vai ser daqui pra frente. Esse sentimento agora de sair daqui pra outro lugar, é essa interrogação.
Alan Lampert
Solidariedade
Alguns dos itens que estavam na caçamba do caminhão eram de doação — como uma mesa, uma cadeira e um colchão. O casal decidiu comprar outros novos. Mas vão tentar higienizar um outro colchão e um sofá.
Ao todo, os cabeleireiros gastaram R$ 6 mil com os novos itens e mudança. "Tem as coisas do salão que a gente também teve que comprar. A gente comprou tudo do mais básico pra, pelo menos, poder trabalhar, porque a nossa única fonte de renda é aqui", complementa Lampert.
Xavier diz que o salão ficou fechado por cerca de duas semanas — e ele ficou surpreso, positivamente, assim que reabriu. "Tem muita gente que foi atingida e perdeu mais coisas do que nós, mas estão vindo pra dar uma força."
Todo mundo está se ajudando. A cidade em si tá bem em solidariedade. As pessoas com as pessoas.
Wagner Xavier
A geladeira do casal, por exemplo, estragou. Ela foi consertada nesta sexta-feira (17). E quem consertou não cobrou nada por isso, mesmo também tendo sido atingido pela enchente.
Pós-desastre
A cidade de Igrejinha fica no vale do rio Paranhana, que corta a cidade. A cheia do rio atingiu 80% da área urbana do município. Nos últimos dias, a água baixou. E, então, teve início o processo de limpeza em toda a cidade.
A cada rua, ainda enlamaçada, é possível ver móveis destruídos pela enchente amontoados.
A faxineira Amélia dos Santos, 54, mora à beira de uma das curvas do rio, que tem sua nascente no limite entre Canela e São Francisco de Paula e deságua no rio dos Sinos.
Ela diz que perdeu pouco comparado com outras famílias da região. A água levou o raque, o sofá, o armário do banheiro e algumas roupas.
Mesmo assim, ela e o marido, com quem vive, não pretendem deixar a casa.
Eu moro aqui há 34 anos. Já meu marido mora desde criança. É o que a gente tem pra gente, né? É a nossa vida que tá aqui.
Amélia dos Santos