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Como estão mãe e filha em McDonald's após 1 mês da repercussão do caso?

Fotos mostram Bruna conversando com uma funcionária; e a mãe, Susane, em outro dia olhando o celular na unidade do McDonald's no Leblon, na zona sul do Rio Imagem: Eduardo Carvalho/UOL

Do UOL, no Rio e em São Paulo

25/05/2024 04h00

Um mês após a repercussão do caso de mãe e filha morando em uma unidade do McDonald's no Leblon, na zona sul do Rio, as duas seguem no local e são alvos da curiosidade de quem passa por lá.

A reportagem do UOL voltou esta semana ao estabelecimento, na avenida Ataulfo de Paiva. Oficialmente, mesmo sendo questionado, o McDonald's nunca emitiu um posicionamento sobre a presença das mulheres no local. Como clientes, voltamos à unidade e conversamos com alguns funcionários.

Ao fazer um pedido, o repórter brincou com o atendente e também com o gerente, dizendo que, se o produto solicitado atrasasse, ele acamparia ali como protesto "que nem elas". Eles riram, sem graça. O gerente disse baixinho: "O problema é que elas consomem, tá? Em todos os horários, manhã, tarde e noite. Pode olhar pra lá". E confirmado: na mesa, havia um café e uma água. "A gente não pode fazer nada", acrescentou o funcionário.

Enquanto isso, Bruna Muratori, 31, uma das "moradoras" da lanchonete, abre uma das malas, saca um sabonete líquido, pega uma bolsa e sobe para o 2º andar do estabelecimento, em direção ao banheiro. A mãe, Susane Muratoni, 64, permanece sentada à mesa, compenetrada, ao celular.

Dupla atrai a curiosidade de quem passa pela lanchonete

É possível notar muitas pessoas parando para observar as mulheres. Do lado de fora do estabelecimento, um grupo de jovens meninas espia Susane com curiosidade, sem entrar na lanchonete.

Uma dupla de senhoras sobe em direção ao segundo andar, e olha diretamente para as malas. Bruna fica incomodada. "Boa tarde, tudo bem?", avança, como se quisesse dizer "o que você está olhando aqui?". Uma delas toma um susto, mas não responde. As duas clientes seguem rumo ao pavimento superior.

Em outro momento, uma nova dupla chega. Não são clientes, mas curiosos que logo pegam o celular. Nesse momento, a filha saiu e a mãe, que está sozinha, reage: "Vou te contar, hein? Essa gentalha é tudo sem nada o que fazer. São loucas? Será que nunca viram malas? Devem ficar com inveja das malas. Tem muita roupa". Questionada pelo repórter sobre o que mais a incomoda, ela é enfática: "Essa garotada toda que vem aqui, essa gurizada toda cheia de besteira que tem vindo".

Em seguida, a mãe de Bruna diz que a filha foi ao mercado. "Moramos no Rio há oito anos, mas estamos trocando de apartamento. Então, é normal ter mala, não é? (...) Vou te contar: eu adoro que filmem. Adoro que vejam as malas, ou será que viajam de sacolinha?", ironizou.

Em seguida, Bruna chega e diz: "Tem ficado muito cheio. É que fui em um podcast de dois policiais amigos meus, que trabalham até como inspetores da polícia. Acalmou por um lado, porque não tem mais jornalista. O povo em si até vem, tem um outro tratamento. Mas tem umas pessoas que não".

Já nas redes sociais, a filha de Susane reposta diversas fotografias de pessoas que tiraram foto com ela e marcam o seu perfil. Ela também se dedicou a abrir um "destaque" no Instagram chamado "Família Mc", onde compartilha fotos dela no local e itens que consome no estabelecimento. Em uma das últimas publicações, ela postou uma foto com gerentes e funcionários do estabelecimento: "Com esse pessoal maravilhoso que posso chamar com muito orgulho de família, amo vocês. [emoji de coração] Os gerentes mais top de todos McDonald's".

Após a repercussão, Bruna já arrecadou pouco mais de R$ 1,4 mil em uma vaquinha online que abriu com a meta de R$ 10 mil. Na página, ela afirma que é "cliente" do estabelecimento e critica a imprensa por declarar que ela "mora" ali. Ainda na publicação, ela escreve que deseja "conquistar logo um apartamento [com o valor arrecadado], podendo ajudar em caução ou demais gastos": "Também ajudaria a dar início aos meus projetos de formação em paramédica e direito". Apesar dos desejos, os dias de mãe e filha aparentam ser os mesmos de um mês atrás.

O McDonald's do Leblon em que as duas mulheres estão vivendo Imagem: Daniele Dutra/UOL

McDonald's pode pedir que mãe e filha saíam do local?

O advogado especializado em direitos do consumidor Gabriel de Britto Silva explicou ao UOL que os estabelecimentos podem estipular regras a clientes sobre o uso do local, porém, essas medidas não podem ser discriminatórias. Essas regras também precisam ser claras e disponibilizadas de modo que todos os clientes visualizem, além de valerem de forma igual para todos.

Se mãe e filha consomem no estabelecimento, elas não podem ser retiradas do local? O Código do Consumidor não aborda nenhuma regra sobre estipular o tempo de permanência em estabelecimentos como lanchonetes, bares e restaurantes. Porém, Silva explica que o McDonald's pode, se quiser, determinar um tempo de permanência de clientes no estabelecimento durante o consumo. Todavia, essa informação deve estar visível a todos os consumidores e espalhadas pelo local. Segundo o advogado, a lei permite que os responsáveis façam a regulação do seu estabelecimento.

Caso a lanchonete determine o tempo máximo de permanência para o consumo e mãe e filha permaneçam no local, o McDonald's, se desejar, poderá acionar as duas mulheres na Justiça, em uma espécie de "ação de despejo". O Judiciário pode determinar que elas cumpram as regras impostas pela lanchonete quando não estiverem consumindo, sob pena de serem retiradas à força. Silva também explicou que atualmente, sem determinação do Poder Judiciário, a Polícia Militar não pode tirar mãe e filha do estabelecimento, já que elas não estão cometendo nenhum crime por simplesmente estarem ali.

A lanchonete pode escolher por não tomar qualquer ação contra mãe e filha e deixar a situação permanecer como está. "Então, se elas não prejudicarem os demais consumidores, [poderão ficar] lá em uma mesa e ali permanecerão. É curioso. Mas o McDonald's também tem direito de nada fazer", concluiu.

Mãe e filha recusaram vagas em abrigos, dizem secretarias

Bruna e Susane recusaram vagas em abrigos e outros serviços da rede de apoio socioassistencial. A Secretaria Municipal de Assistência Social disse à reportagem que sua equipe de abordagem especializada compareceu à lanchonete nos dias 10 e 16 de março e que ambas "recusaram prontamente" as ofertas.

Assistentes sociais mantêm contato diário com as mulheres que vivem na lanchonete. Segundo a Secretaria de Estado de Governo do Rio de Janeiro, desde que tomaram o conhecimento do caso, as funcionárias do Segurança Presente tentam convencê-las a ir para um abrigo público, mas ouvem seguidas recusas. "Também já ocorreram abordagens de outros órgãos do estado e do município tentando acolher mãe e filha, mas elas insistem em permanecer dentro e na calçada da lanchonete", finalizou a pasta.

A reportagem apurou que mãe e filha agiam de forma ríspida com as assistentes sociais nas primeiras abordagens, sendo que Bruna sempre foi mais "complicada" de lidar. Atualmente, após a repercussão do caso, a mulher mais jovem é a única que responde, por ela e pela mãe, e mudou o comportamento com as assistentes.

Procurada, a Polícia Civil do Rio de Janeiro também informou que, até o momento, não houve nenhum registro de ocorrência relacionado à dupla que vive no estabelecimento.

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